Um caso de amor

segunda-feira, 21 de maio de 2012
por Jornal A Voz da Serra
Um caso de amor
Um caso de amor

Ultimamente muito tenho falado do Pró-Memória, do Projeto do Bicentenário da Fundação D. João VI, dos trabalhos de digitalização. Muito tem sido divulgado aqui mesmo nesse jornal, com a competência de sempre, informando a comunidade friburguense a respeito de qualquer coisa que esteja relacionado ao nosso Pró-Memória. Obrigado aos amigos do A Voz da Serra, pelo entendimento a respeito de tudo o que estamos fazendo, também pelo compromisso e pela parceria desse jornal, mais friburguense do que nunca.

Então, como demonstra o título, hoje o papo é outro, deixo de lado o tema Pró-Memória para contar uma história. Uma linda história de amor que teve início no alvorecer do século passado e terminou, de forma muito triste. Para ela, rápida e prematura, enquanto que para ele, lenta e sofrida, quase agonizante, até o esforço de um último suspiro.

Já faz muito tempo desde que estiveram juntos, lado a lado, um e o outro, apaixonadamente enamorados. Pois bem, nossa história vem desde os tempos antigos, dos primeiros anos de nossa vila. Vivia ele solitário desde todo sempre, escorregando colina abaixo até atingir o córrego do relógio, e depois o Bengalas, num tempo em que por aqui nada existia além do verde das matas e do esplendor do céu azul, nada mais. Depois, já em 1937, algum poeta romancista—como escreveu o meu grande amigo e também “tio padrinho”, Jayme Jaccoud—poeta que por aqui passou, se encantou e resolveu dar nome àquele pequeno recanto, que tão lindo deveria ser, chamou-o de “Suspiro”. Uma palavra doce e mágica, capaz não só de dar alívio aos pulmões, como também conceder ao coração melancólico de quem há muito vive só, paz e serenidade. Feliz ficou o poeta por sua criação! Criação que inspirou a todos, inclusive ele, o córrego cristalino, que descendo a montanha para se perder no Bengalas, resolveu terminar numa fonte, uma bela fonte de pedra. Dizem que era mágica, que aplacava a sede de todo aquele que morria de saudade. Também minimizava a dor de qualquer outro sedento sofredor, vitimado fosse pelo ciúme fosse pelo amor.

E assim foi por muitos anos, sempre muito receptivo e solícito, quase um altruísta, saciando a sede de qualquer um que dele necessitasse, fartamente, com a mais cristalina das águas. Mas, ainda assim, com tanta utilidade e serventia, vivia ele muito triste, pois vivia só, e nas bicas da fonte não encontrava ele a cura para a solidão.

Foi então que, em 1853, mais precisamente no dia 11 de novembro, algo de extraordinário aconteceu. Diante dos seus olhos ela surgiu, muito lentamente, como uma pintura a óleo pela mão de um artista, cada vez mais linda até que se fez por completa, por inteira, frondosa e hospitaleira. E o namoro logo teve início. Não um namorico qualquer, desses que começam simplesmente num “ficar”, inexpressivo e sem graça, nada disso. Era amor prometido, coisa muito séria, talvez caso já tratado por algum deus do Olimpo. Feitos um para o outro como nunca houvera sido. Radiante de amor ela resplandecia uma beleza sem par. E ele, por sua vez, a regá-la constantemente com as águas límpidas que, saídas da fonte, serpenteavam pelos jardins floridos, umedecendo a terra e alimentando os infindáveis botões de flor. Que recanto magnífico era aquele!

Entretanto, certo dia chegou a modernidade, de mansinho, não se sabe ao certo de onde, veio cantarolando para o futuro e anunciando o novo tempo. E a transformação se deu, implacável e cruel, num piscar de olhos. O bosque desapareceu com a derrubada das árvores. Juntamente com ele foram-se os pássaros e o frescor da sombra. O córrego não mais serpenteava por entre os jardins e os botões não mais se abriram. Também foram-se as graciosas pontes de madeira já que o córrego retornava à fonte, aprisionado e limitado na sua antiga e solitária missão. Pobre coitado! Não lhe foi possível suportar tamanha tristeza. Alguns anos depois suas águas, antes volumosas e cristalinas, era agora um pequeno fio de um líquido poluído e fétido. Depois, passados mais algum tempo, esquecido por completo, secou, árido e definitivo. Sobraram apenas as pedras. E o que antes era uma fonte, restou como um monumento apenas, uma lápide.

Muito tempo já se passou desde então. Poucos são os friburguenses testemunhas desse fato. Desse tempo nada mais existe, pois sequer aquele triste monumento de pedra resistiu. Foi levado pela enxurrada de lama. Quem sabe um dia o poeta retorne, e para felicidade do futuro, resolva reconstruir a ambos, a fonte e a praça, tal como sempre foram!

Nelson A. Bohrer (Guguti)

P.S.: Me equivoquei quando imaginei que poderia passar sem dizer algo a respeito do Pró-Memória. Impossível! Lembrei-me de um dado importantíssimo: na quarta-feira, dia do aniversário da cidade, viajei para o Rio de Janeiro, fui cuidar da inscrição do Arquivo Pró-Memória em um programa da Unesco denominado “Memória do Mundo”. São ótimas as nossas possibilidades de conseguir o certificado. O resultado sairá em setembro. Voltarei ao assunto brevemente. Por ora, ficaremos na torcida.

SELO

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