Carlos Emerson Junior
E aqui cabe uma historinha para ilustrar bem o que significa Ubuntu: um antropólogo estava estudando usos e costumes de uma tribo e propôs uma brincadeira para as crianças. Comprou doces e guloseimas e colocou tudo num cesto debaixo de uma árvore. Aí ele chamou as crianças e combinou que quando dissesse “já!”, elas deveriam sair correndo até o cesto e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro.
As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse “já!”, instantaneamente todas as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto. Chegando lá, distribuíram os doces entre si e comeram felizes.
O antropólogo, curioso, perguntou por que elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces. Elas simplesmente responderam: “Ubuntu, tio. Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?”.
Talvez eu esteja exagerando, mas o Ubuntu pode ser visto aqui mesmo em Nova Friburgo, através do trabalho que os moradores do Córrego Dantas vêm fazendo para reconstruir seu bairro, destruído nas chuvas de janeiro. Sozinhos, deram-se as mãos e limparam ruas e casas de todos, em mutirões durante os finais de semana.
Para ser justo, não me surpreenderia se soubesse que outras iniciativas semelhantes acontecem silenciosamente em outras localidades de nosso município. Corremos contra o tempo e, depois de tudo o que aconteceu em janeiro, não dá mais para esperar sentado.
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E já que falamos em mutirão de limpeza, aqui vai outra perguntinha: você já jogou lixo na rua? Uma embalagem de bala, uma guimba de cigarro, um palito de picolé ou um daqueles santinhos de políticos? Bom, eu assumo, algumas vezes já fiz isso, até mesmo por reflexo.
O desenho de animação Wall-E começa com uma tomada marcante: a Terra surge no espaço e vai se aproximando. De repente a imagem mergulha vertiginosamente em direção a uma grande cidade. Enormes arranha-céus vêm em nossa direção quando, surpreendentemente, constatamos que não passam de pilhas gigantescas de lixo, separado, embalado e empilhado por robôs. O nosso planeta virou um imenso aterro sanitário, impróprio para qualquer tipo de vida.
Bom, é ficção, claro, mas quem garante que estamos escrevendo o futuro da maneira certa?
Os números do lixo impressionam! Em 2010, apenas no Brasil, foram produzidos 195 mil toneladas por dia. O resultado final foram quase 61 milhões de toneladas, sendo que pouco mais de 10% deste total não foi sequer coletado, indo parar em rios, matas e nas ruas de nossas cidades. Hoje, cada um de nós produz praticamente a mesma quantidade de lixo que os europeus, quase um quilo e meio diariamente.
Fiquemos no nosso município. Uma volta pelo centro de Nova Friburgo assusta! O lixo do comércio é colocado nas calçadas em qualquer horário, pedestres não se acanham em sujar o chão, motoristas jogam seus restos pelas janelas e a Alberto Braune, principal avenida da cidade, fica uma imundície só. Passem por lá ao entardecer de qualquer dia da semana e observem!
Será que essa toda gente joga lixo no chão de suas casas? Duvido! A questão do lixo passa pela educação e é um problema nacional: Rio de Janeiro e São Paulo, que tem os melhores serviços de limpeza urbana do Brasil, são cidades bem sujas.
Não me conformo quando estou caminhando e dou de cara com um terreno cheio de entulhos. Ou encontro uma trilha dentro da mata completamente tomada por resíduos de todos os tipos. Pior ainda são os rios, poluídos pela nossa atividade econômica e por gente sem noção que joga nas águas pneus de carros, móveis velhos e tudo o mais que você possa imaginar.
Claro, a fiscalização é deficiente e talvez fosse a hora de pensar em medidas mais duras contra os porcalhões, como advertências e multas. Em alguns países, jogar lixo na rua pode dar cadeia. Com que autoridade cobramos uma coleta de lixo de primeira se somos incapazes de obedecer horários e regras de descarte? E olha que nem falei do lixo reciclado!
Uma cidade limpa, com praças, ruas e jardins bem cuidados, melhora nossa qualidade de vida e autoestima. Os bueiros não entupirão a cada chuva, as encostas e matas ficarão mais bonitas e seguras e os rios limpos e desassoreados. E começar é muito fácil, basta cada um de nós procurar uma lixeira ao invés de jogar um papelzinho na rua.
Isso também é Ubuntu, Nova Friburgo!
(*) carlosemersonjr@gmail.com
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Ubuntu, Nova Friburgo!
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
por Jornal A Voz da Serra
Ubuntu, Nova Friburgo!
Você sabe o que é Ubuntu? Não, não estou me referindo ao badalado sistema operacional em Linux e sim à palavra de origem africana! Pois muito bem, Ubuntu deriva de um conceito sul-africano do mesmo nome, que pode ser diretamente traduzido como “humanidade com os outros” ou “sou o que sou pelo que nós somos”.
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