(SECOM) A chuva da noite anterior suspendeu o Le Folie - Tem suíço no samba que a GuggenMusick, banda de carnaval europeu faria na praça na noite de sábado e também impediu que a missa em ação de graças pelo intercâmbio fosse realizada no anfiteatro da Praça das Colônias. O ato religioso aconteceu no próprio Teatro Municipal e marcou um dos momentos de maior emoção, além de muita fé. “Só em Nova Friburgo mesmo, uma terra diferente em tudo e especial. Onde mais no Brasil, nos dias de hoje, temos uma missa celebrada em francês e português?”, ressaltou o jornalista Girlan Guilland, secretário de Comunicação Social, em conversa com os secretários Bráulio Rezende (Geral de Governo), Sergio Madureira (Turismo) e Roosevelt Concy (Cultura).
Presidida pelo bispo suíço, que reside no Rio de Janeiro, dom Karl Josef Rommer, auxiliado pelo padre Buiggnon (também suíço e que atua em Tanguá) e pelo padre Leão, pároco da capela de Santo Antonio, a Missa cantada, contou com a participação do coral Rosa Nova. E as orações parecem ter favorecido. O dia que começara com tempo instável, contou com uma tarde tão aguardada de sol pelos visitantes, já que não os viram desde a chegada na manhã de sexta-feira, de céu nublado.
Encontro folclórico
Há muito tempo não se via em Nova Friburgo um evento cultural comunitário de tamanha grandeza. Um verdadeiro carnaval fora de época, no qual a cultura estava viva em praça pública. Foi difícil definir a junção dos povos coirmãos, na manhã de domingo, 18, na praça Getúlio Vargas. Através da Secretaria de Cultura, e com a participação e apoio de diversas outras secretarias municipais, a Prefeitura de Nova Friburgo realizou uma grande festa em um dos espaços mais bonitos da cidade.
Embora a praça tenha sido dividida em cinco setores, desde o parque de diversões, próximo à estação de integração até à estátua do presidente Vargas, envolvendo a escadaria do Palácio da Cultura, muitas manifestações ocorreram simultaneamente: roda de capoeira, samba de roda, coco, ciranda, jongo, pernas de pau, malabares, contorcionistas, monociclo, corais, chorinho, folias de reis, grupos folclóricos suíços e tambores do Barão. Próximo ao parquinho, as folias de reis Unidos dos Três Reis (Rui Sanglard) e de São Sebastião (Riograndina) realizaram um emocionante Encontro de bandeiras.
João Batista Braga, presidente da Associação de Grupos de Folias de Reis de Nova Friburgo, sabe bem a importância da preservação de tradições: “elas devem passar de geração a geração, tanto que temos folia de Reis com mais de 50 anos de atividades. É muito importante essa mistura de culturas, esse intercâmbio, para que cada povo conheça as manifestações um do outro. Sem duvida, é um momento, uma oportunidade de refletirmos sobre o mundo”.
Ao mesmo tempo, as folias de Reis se encontravam. No coreto da praça o grupo folclórico suíço Guggenmusik – Les 3 canards, cuja tradução do nome é Os três marrecos. O ritmo frenético e contagiante dos músicos encantou o público que, mesmo sem saber dançar, permitiu-se gingar embalado pelo som. E integrantes do coral suíço Rosa Nova, que chegavam ao local, se manifestaram aplaudindo, cantando e dançando, motivando ainda mais a apresentação.
O diretor musical do grupo, Richard Hertig, comanda os mais de 40 integrantes da Guggenmusik das mais diferentes idades, com muita energia, um pouco diferente dos maestros tradicionais. Além de reger, ele comanda a coreografia e impulsiona a apresentação que segue em ritmo crescente. Trata-se de uma banda de carnaval ao moldes europeus. Richard contou que eles se apresentam principalmente nas ruas e eventos como o carnaval, sempre com a participação de grande público.
O Guggenmusik (nome do grupo, sem tradução) é uma escola de música que apelidaram de Escola dos marrequinhos, e na qual quando os alunos alcançam 16 anos e têm bom desempenho, podem pensar em participar do grupo que completou 15 anos e já esteve na Argentina, Pequim, Xangai, Irlanda, entre muitos outros países, mas cujo sonho é participar do carnaval no Brasil. O grupo folclórico Le couralles de bulle apresentou-se nas duas praças - Getúlio Vargas e Dermeval B.Moreira - durante a manhã de domingo em trajes típicos: brodzons, usados pelos homens; dzaquillon, usado pelas mulheres e a noyi (bolsa utilizada para colocar o sal que costumeiramente se oferece às vacas). Além de sua dança, o instrumento acorde dos Alpes ou trompa dos Alpes, chamou mais a atenção, por seu tamanho e som.
Durante a apresentação do Coral da Cidade (Nova Friburgo) na escadaria do Palácio da Cultura, o maestro Jofre Evandro pode contar com a participação mais que especial de integrantes suíços do coral Rosa Nova. Além de cantar, eles encantaram e posaram para fotos. Era visível a felicidade estampada no rosto do secretário-geral de governo, Braulio Rezende: “até o tempo contribuiu. É maravilhoso assistir esse congraçamento. Os dois corais cantaram juntos, sem nada combinado. A irmandade entre os dois povos cresce cada vez mais e precisamos de mais eventos como este. Vamos manter e fazer crescer ainda mais”, disse entusiasmado e emocionado.
Um momento raro a que nem todos puderam assistir, diante de tantas apresentações simultâneas, foi o encontro dos quatro corais, com um 80 de vozes: o Cantomusarte, o Allons Chanter (Aliança Francesa), o Rosa Nova (Suíça) e o Coral da Cidade se uniram em uma só voz para interpretar Chante em mon coeur (Canto em meu coração) e Balaio, de Heitor Villa Lobos. O prefeito Heródoto Bento de Mello assistiu ao coral Rosa Nova, e fez questão de abraçar o regente Volery Francis, quando o grupo entoou a canção em homenagem ao padre e regente Pierre Kaelin (falecido), um dos pioneiros do intercâmbio e cuja sobrinha Marie Thérèse integra o grupo.
Pura cultura popular
Na área da praça, próxima a estátua de Getúlio Vargas, os grupos de cultura popular - Samba de Roda Reconca-Rio e a Companhia Estrela Dalva (Nova Friburgo) - puderam mostrar aos suíços, com alunos do Ponto de Cultura de Olaria, cantos e danças populares como coco, ciranda, samba chula e jongo. No mesmo local se apresentaram: grupo de ginástica rítmica da Vila Olímpica da Mangueira com alunos da professora Isabela Buarque, também professora da Oficina-Escola de Artes de Nova Friburgo, e capoeiristas do grupo Berimbau de ouro, mostrando todo o gingado brasileiro.
Alunos da Oeanf marcaram presença na praça, sob a coordenação da diretora Rose Borges. Eles apresentaram a Camerata do Barão, no coreto, assim como o grupo musical Meu chapéu virou pandeiro, e próximo a estátua de Alberto Braune, alunos em pernas de pau e monociclo e malabaristas se apresentaram ao lado de artistas circenses da cidade. Junto com alunos das turmas de percussão do Ponto de Cultura de Olaria e do Casarão de Riograndina, alunos da Oficina Escola apresentaram os Tambores do Barão. Simultaneamente, a Família Clou (teatro de palhaços) apresentava-se no coreto.
Imagens na lembrança
Muitos olhares e cliques em sua máquina fotográfica. Sallin Norbert, padeiro suíço, estava atento a tudo, o tempo todo, durante o encontro folclórico Suíço Brasileiro, na Praça, na manhã de domingo. Em sua quarta visita a Nova Friburgo, ele fez questão de registrar imagens do povo friburguense e da paisagem para mostrar aos moradores de Fribourg, na Suíça.
Ele se dizia encantado com a recepção do povo, até mesmo com aqueles que não são descendentes suíços. “Do Sanatório Naval fotografei a cidade de cima. Percebi uma mudança nos arredores, mas o centro da cidade continua igual. Fui acolhido por Ricardo Bessa dos Santos, que possui residência no Cônego, e estou muito feliz e encantado com o povo, ainda mais receptivo do que as outras vezes. Trouxe umas fotos antigas e jornais para mostrar o que eu havia fotografado antes. Está sendo uma experiência inenarrável. Esperamos que os jovens troquem informações para fortalecerem esse intercâmbio. Os friburguenses que estiveram lá ficaram encantados com a neve. Aqui, o que mais vem encantando os suíços é o acolhimento. Fiquei impressionado com a receptividade da senhora Maria Cecília de Paula Machado, que nos recebeu na Fazenda Campestre para um delicioso almoço no último sábado”.
A noite encerrou-se com mais música. A exemplo do sábado, em que a banda Euterpe Friburguense, sob a regência do maestro Nelson José da Silva, subiu ao palco do Teatro Municipal para dividir o espetáculo com a Brass Band de Treyvaux, regida por Nicolas Papaux no domingo, foi a vez da Campesina Friburguense dividir a cena e os muitos aplausos com a fanfarra La Gérinia de Marly, sob a regência de Jean Claude Kolly. O congraçamento de composições do cancioneiro dos dois países, deixou evidente que também na música – linguagem universal – a integração dos dois povos é perfeita.
ENCONTRO RUMO AOS 200 ANOS
No último dia da estada, delegação assistirá a grupos folclóricos em relançamento cultural da Casa Suíça
(SECOM) “Está chegando a hora. Desculpe-me, meu amor, mas eu tenho que ir embora”. Foram quatro dias de convívio. No reencontro tão aguardado, momentos de emoção, alegria, satisfação. Instantes que já vão, aos poucos, se tornando reminiscências. Lembranças vivas na memória de cada um. Hoje chega ao fim o VI Encontro Suíço-Brasileiro, que trouxe a Nova Friburgo uma delegação de 330 visitantes do Canton de Fribourg. Mas nada se acaba. Muito pelo contrário: exatamente como nos últimos 30 anos, cada vez se fortalecem mais os vínculos de amizade e união entre dois povos que, irmanados, tornam-se quase únicos, ainda que tão distantes no espaço geográfico.
Depois de extensa programação de mais de cem horas - considerando a chegada do primeiro grupo da comitiva, na manhã da sexta-feira, 17 - aos últimos acontecimentos, nesta terça, 20. A visitação da comitiva à Casa Suíça, em Conquista, onde a integração entre os dois povos tem seu marco principal nas obras da queijaria-escola e do museu da colonização, vai contar com apresentações folclóricas e artísticas de grupos do 3° distrito. “Procuramos privilegiar as atividades locais, da comunidade e de grupos ligados às escolas aqui dessa importante região produtora do município; assim convidamos diversos grupos para esta que promete ser uma festa bastante especial”, diz Maurício Pinheiro, friburguense que morou seis anos em Berna, e retornou recentemente para assumir a animação cultural da Casa Suíça.
Regina Lo Bianco autografará seu livro
A visita acontecerá a partir das 10 horas e vai constar de diversas apresentações em homenagem aos suíços: mineiro-pau, jongo e coral do Instituto Bélgica-Nova Friburgo, além de capoeira, com os mestres Caroço e Santana, que prometem concluir o evento com muito samba de roda, depois da roda de capoeira e maculelê. Também a fotógrafa friburguense, Regina Lo Bianco, estará autografando os últimos exemplares do livro de fotografias, a cujo lançamento, na Suíça, em 2006, ela não pode comparecer.
“Este é um momento fantástico. Passamos a fase em que as relações ficaram adormecidas, ainda que a Suíça tenha continuado colaborando. Este relançamento da Casa Suíça e da queijaria-escola, sobretudo do ponto de vista cultural, é extremamente fantástico; é um ganho, de fato, para Nova Friburgo e, sobretudo, para a comunidade de Conquista”. - ressalta Maurício Pinheiro, ao anunciar que os planos são ambiciosos. Segundo ele, ainda, a ideia é ultrapassar as fronteiras para a região. “Mas a proposta tem também um papel específico, com foco no setor cultural e social, prioritariamente de Conquista e adjacências, por acreditarmos muito na inserção comunitária, através dessa célula viva que é o complexo: queijaria suíça e museu da colonização que, apesar dos últimos 13 anos sem manutenção, possui uma estrutura magnífica”.
Intercâmbio tende avançar no setor econômico
Mas o programa não termina aí, assim também como o processo de intercâmbio entre Nova Friburgo e o Canton de Fribourg, de onde se originou a maioria dos colonos há 191 anos. Antes da grande Noite de confraternização, a partir das 20 horas de hoje, no Country Clube, o final da tarde reserva um dos eventos mais importantes desta viagem para o futuro da integração dos dois países.
No auditório Angel Dieguez, da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), a Prefeitura e a Federação das Indústrias promovem apresentação sobre o potencial de investimentos nas áreas industriais e comerciais. Mostrar aos suíços a força da economia friburguense é um dos objetivos, mas não é o único. O evento, promovido em conjunto com a representação regional da Firjan, será entre as 15 horas e 17h30, para dar início ao fortalecimento da integração, que até hoje se manteve na área cultural, iniciando uma nova e promissora fase pelos caminhos do desenvolvimento econômico.
SECOM/NF Especial VI Encontro Suíço-Brasileiro
Participaram da cobertura: Girlan Guilland (secretário de Com. Social / coordenação geral); Gabriel Calixto, Erika Amaral e Scheila Santiago (reportagem) e Daniel Marcus, Leonardo Vellozo e Maurício Porão (fotografias).
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