Trilheiros pedem socorro: Pico do Caledônia está abandonado

Um dos principais atrativos da cidade tem sérios problemas na estrada de acesso e na guarita de entrada, de responsabilidade da Petrobras
quinta-feira, 13 de junho de 2019
por Fernando Moreira (fernando@avozdaserra.com.br)
O estado da trilha principal (Foto de leitora)
O estado da trilha principal (Foto de leitora)

 

Um dos principais pontos turísticos de Nova Friburgo está abandonado. O tradicional Pico do Caledônia (com 2.257 metros acima do nível do mar, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE), uma das maiores elevações da Serra do Mar, no limite entre Nova Friburgo e Cachoeiras de Macacu, está com seu acesso precário, além do total abandono da guarita de entrada, que ficava sob a responsabilidade da Petrobras.

Os problemas já começam bem antes do pórtico de entrada. São inúmeros e enormes buracos que praticamente inviabilizam o acesso de carro até o início do escadão. Somente com veículos potentes, com tração nas quatro rodas e uma boa dose de experiência do motorista, dá para chegar até o fim do trajeto onde é (ou deveria ser) possível ir de carro.

“Tenho um carro com tração nas quatro rodas e achei que conseguiria subir com certa facilidade. Mas os buracos são imensos e a subida é muito íngreme. Tive que parar a mais de um quilômetro da guarita e subir o restante a pé”, disse o produtor rural Ramon Rezende, que subiu o Pico do Caledônia pela primeira vez em abril e ficou surpreso com o abandono do espaço.

Abandono começa pela guarita

O estado de abandono do ponto turístico também fica evidenciado na entrada da guarita que era mantida pela Petrobras e servia para controlar o acesso dos visitantes ao Pico do Caledônia. Para acessar o espaço era preciso estar portar algum documento com foto, ser ou estar acompanhado de um maior de idade. Hoje isso não é mais necessário, já que não há nenhum funcionário da Petrobras trabalhando no local. O portão de acesso está fechado com cadeado, mas um buraco foi aberto na grade permitindo a entrada.

Apesar de estar trancada, papéis e até uma garrafa d’água ainda estão na guarita. Ao lado, uma pequena casa servia como ponto de apoio aos funcionários. O espaço abriga o que parece ser um dormitório, um banheiro e uma pequena copa, tudo aberto e revirado.

Montanhistas fazem manutenção voluntária

Um grupo de montanhistas friburguenses que visita o local com frequência e promove a manutenção voluntária do ponto turístico, deixou uma mensagem de apelo escrita em um pedaço de isopor: “Este é um espaço particular, por favor, respeite. Nossa cidade não pode perder o direito de visitar esse mirante. Ajude na limpeza e organização. Não tem água. Por favor, não use o vaso sanitário, deu muito trabalho para desentupir. Não deixe as lâmpadas acesas, pois atraem mariposas. Colaborem”, diz a mensagem.

Cláudio Tardin, presidente do Centro Excursionista Friburguense (CEF), é um desses entusiastas que lutam pela preservação da natureza e dos pontos turísticos de Nova Friburgo. Ele afirma que visita com frequência o Pico do Caledônia e lamenta que a situação tenha chegado a esse ponto.

“A situação está deplorável. Algumas pessoas não tem educação. Defecaram em vários lugares, o banheiro está imundo e todo quebrado. A Petrobras alega que não pode enviar os guardas para ficarem na guarita porque não tem acesso pela estrada que, seria de responsabilidade da prefeitura. Mas o município também diz que não é de responsabilidade dele. Aí fica nesse jogo de empurra e nada é resolvido”, afirmou Cláudio.     

Local atrai praticantes de voo livre

Magdo Fernandes é natural de Volta Redonda, no Sul Fluminense, mas mora em Nova Friburgo há 27 anos. Há duas décadas é praticante de voo livre e um dos locais mais utilizados por ele e pelos colegas de esporte para realizar o salto é a base do Pico do Caledônia. Mas a cada dia isso tem ficado mais difícil, devido às condições da estrada de acesso.

“O que eu faço para ajudar na manutenção do espaço é o que todos deveriam fazer: não deixar lixo, não fazer fogueiras e respeitar a natureza acima de tudo. Há 20 anos frequento o Pico do Caledônia e nunca o vi tão mal cuidado, principalmente depois de novembro do ano passado, quando a guarita deixou de funcionar de vez. Amo essa cidade e me dói ver esse descaso. Fico até meio nervoso de falar disso”, desabafou Magdo.

Problemas também no cume

Terminando a subida de aproximadamente 630 degraus e 330 metros de elevação, o estado de abandono fica novamente evidente. Enquanto havia funcionários controlando o acesso, os visitantes não podiam acessar o lado esquerdo da pedra, pois é onde se concentram importantes antenas, contêineres e equipamentos de telecomunicações.

“Infelizmente muitas pessoas que têm frequentado o local não fazem um montanhismo consciente. Acabam deixando muito lixo, degradando e depredando as estruturas. Recentemente também colocaram fogo na mata. Nossa preocupação é que agora começa a entrar esse período mais seco de inverno e possa acontecer algum tipo de acidente. De repente, alguém faz uma fogueira e esse fogo pode se alastrar pela mata. É uma situação delicada e que nos preocupa muito”, diz Claudio Tardin, presidente do CEF.

Visual deslumbrante como recompensa

Lá do alto, a 2.257 metros de altura, o clima peculiar e a vista deslumbrante são os grandes destaques. De cima, é possível ver praticamente toda Nova Friburgo de um ângulo único e incomparável. Em dias limpos, sem nenhuma nuvem, dá para avistar até a Baía de Guanabara e uma parte da cidade do Rio de Janeiro, Grande Rio, Baixada Fluminense e Região dos Lagos. Quem também é apaixonada por essa vista é a jornalista friburguense Christiane Mussi, que já visitou diversos países e culturas, mas não deixa de se encantar pelas inúmeras belezas naturais de Nova Friburgo, em especial do Pico do Caledônia.

“Quando fui à Patagônia, fiquei surpresa como não valorizamos as nossas montanhas. Lá tem cidades que vivem do turismo de montanhismo. Friburgo poderia ser um desses polos turísticos, mas é muito pouco explorado. O próprio friburguense conhece muito pouco disso tudo. A sensação que eu tive ao visitar o Pico do Caledônia foi de tristeza por não valorizarmos aquela maravilha como fonte de turismo”, lamentou Christiane Mussi.

O que dizem os citados

A redação de A VOZ DA SERRA entrou em contato com a Petrobras para saber o motivo do abandono da guarita e o que pretende ser feito no local daqui para frente, mas até a atualização desta reportagem não havíamos obtido retorno.

Também tentamos contato com a Prefeitura de Nova Friburgo, para saber de quem seria a responsabilidade pela manutenção da estrada de acesso ao Pico do Caledônia, mas também não recebemos resposta.

 

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