Tragédias em Nova Friburgo. A técnica e a política.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Segue uma visão puramente técnica e bem simples mesmo. Além disso, é puro exercício de política.

Uma madrugada de altíssimo índice pluviométrico, antecedido por um mês inteiro de chuvas diárias e quase que constantes foi a gota d’água desse desastre, que provocou inúmeros deslizamentos de taludes e os consequentes assoreamentos e inundações de leitos fluviais em algumas partes do município de Nova Friburgo.

Nesse contexto puramente natural de peneplanização, no processo de evolução das vertentes, estão inseridas as ações antrópicas (abertura de vias de acesso, construção de imóveis, torres de transmissão de energia e telefonia etc.), que inexoravelmente resultam em atos de supressão de vegetação, exposição e escavamento de solo, e que vão permitir a penetração das águas das chuvas com muito mais facilidade, o que acaba desencadeando a aceleração desses processos erosivos.

Assim, e só por isso, um fenômeno natural passa a ganhar contornos de tragédia humana.

E, infelizmente, não há novidades. É lugar comum mesmo! As áreas mais propensas a sofrer esses processos erosivos são mesmo as áreas de que trata o artigo 2º do Código Florestal: ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água, desde o seu nível mais alto em faixa marginal; ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais; nas nascentes, ainda que intermitentes; no topo de morros, montes, montanhas e serras; nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive; em altitude superior a 1.800 metros, qualquer  que seja a vegetação; e, no caso de áreas urbanas, tudo isso, além de outras maiores restrições.

Estas seriam, em tese, as áreas de risco.

Resta-nos mapear essas áreas no município de Nova Friburgo e promover a total anulação de qualquer ação antrópica, com a consequente retirada de habitações, estradas, instalações eletrotécnicas e de telecomunicações etc., promovendo a total recomposição natural dessas áreas.

Pronto! E todos os eventos naturais de evolução das vertentes não terão contornos de catástrofe.

Esta é a receita, simples, e onde termina a questão puramente técnica.

E se, por acaso, concluirmos que isso é impraticável, então eu concordo com a ONU, que invoca altos investimentos em prevenção antecipada de cataclismas, e sugiro comprar milhares de sirenes para serem acionadas em momentos de grandes precipitações, “gritando” para que os humanos troquem, às pressas, seus pijamas e sandálias por capas e galochas e corram para “locais seguros”.

Mauro Zurita - Geógrafo

“É preciso saber separar a administração da política, mas, antes de mais nada, é

preciso não subordinar a administração à política. A teoria e a prática de uma e

de outra complementam-se no interesse do país, mas toda vez que este equilíbrio

é violado, pelos excessos da técnica ou pelos da política, os governos arrastam o

país para dificuldades.”

Oswaldo Aranha/1935

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