Amine Silvares
Já se passaram sete meses da tragédia de janeiro e Nova Friburgo ainda não recebeu a maior parte das obras necessárias para que uma nova catástrofe seja evitada. Enquanto a população segue na espera pelos reparos, o próximo período de chuvas se aproxima. Na iminência de novos desabamentos, o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) elaborou um relatório, intitulado “Tragédia Anunciada”, no qual aponta os principais problemas da Região Serrana, além de sugerir medidas urgentes para prevenir e amenizar as consequências das próximas chuvas de verão.
Uma das principais preocupações dos inspetores do Crea-RJ, o assessor de Meio Ambiente do Crea-RJ, engenheiro civil sanitarista Adacto Ottoni e do agente de fiscalização do Crea-RJ Marco Antonio Barreto, que visitaram diversas áreas críticas, é a volta de moradores para casas em zonas de risco, já que não têm onde ficar. Em Nova Friburgo apenas um abrigo segue em funcionamento, enquanto uma grande parte da população continua sem o auxílio do aluguel social. As casas populares, que abrigarão quem tudo perdeu e também quem está desalojado, só entram em construção em outubro, período apontado como o de início das chuvas, sendo que dos 3.480 imóveis prometidos apenas 60 estão sendo erguidos no Parque das Flores.
Para a contenção de encostas, o maior problema da Região Serrana, o órgão sugere que seja feito o reflorestamento das áreas mais afetadas. O relatório afirma expressamente que “essas áreas fragilizadas, sem a sua cobertura florestal original e com grandes feridas de deslizamentos (...) poderão muito mais facilmente sucumbir”. Além disso, como conta o inspetor do Crea-RJ, o engenheiro civil Leiner Rezende, os rios e córregos que ainda não foram devidamente assoreados, limpos e expandidos representam uma chance maior de transbordar caso haja uma chuva mais forte. Como muitos imóveis estão construídos próximos aos leitos é provável que novos desmoronamentos aconteçam.
O relatório do Crea-RJ mostra que várias construções destruídas pelas enchentes estavam dentro do leito dos rios. De acordo com o documento, o Código Florestal considera como “Área de Preservação Permanente (APP) as Faixas Marginais de Proteção (FMPs), bem como os topos de morro e encostas com taludes acima de 45°, devendo essas áreas estarem preservadas com sua vegetação nativa”, mostrando que as medidas preventivas que deveriam ter sido tomadas para proibir construções em locais de risco, não foram acatadas.
A fim de tentar minimizar os estragos das próximas chuvas, que devem começar em cerca de dois meses, o Crea-RJ sugere três medidas emergenciais. A primeira é a implantação de um sistema de alarmes nas principais regiões afetadas pela tragédia de janeiro. A segunda medida seria um sistema de aviso prévio para as prefeituras, com algumas horas de antecedência, para que a população pudesse ser notificada. A terceira medida pede para que sejam criados abrigos em locais seguros, próximos às principais zonas de perigo, ao invés de contar com escolas e outros locais inadequados, para que a população possa ser transferida em caso de chuvas intensas.
Apesar de todos os avisos de órgãos competentes e protestos da população, muito pouco foi feito nos últimos sete meses para resolver os problemas que ficaram após a catástrofe. Diversos bairros ainda sofrem com a poeira e bueiros entupidos, além de pedras gigantescas e barrancos que podem cair mesmo com chuvas mais fracas. Algumas casas ainda não tiveram serviços básicos restabelecidos, como o fornecimento de água. Enquanto isso, os friburguenses se preparam, da melhor forma que podem, para enfrentar a força da natureza durante o verão. A reportagem de A VOZ DA SERRA procurou a prefeitura para esclarecimentos, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
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