Tragédia acirra falta de mão de obra na cidade

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
por Jornal A Voz da Serra
Tragédia acirra falta de mão de obra na cidade
Tragédia acirra falta de mão de obra na cidade

Dalva Ventura

Nunca foi tão fácil conseguir trabalho em Nova Friburgo. Pelo menos para alguns profissionais especializados, como auxiliar de serviços gerais, serralheiros, carpinteiros, mecânicos, eletricistas, costureiras, manicures, entre outros tantos. Se, antes da tragédia do dia 12, já havia empregos sobrando e não faltava trabalho para estas e outras profissões, a procura agora ficou maior ainda.

Afinal, a cidade já começou a ser reconstruída e demandando muita mão de obra. E, tanto a população em geral como a iniciativa privada e órgãos do governo estão, mais do que nunca, carentes de pessoal.

Mas, com tanta gente procurando emprego? Como assim? Pois é isso mesmo. Basta observar a quantidade de empregos fixos e temporários disponíveis no Posto de Empregos da Prefeitura, que funciona na antiga rodoviária urbana. No início da semana, o Balcão estava oferecendo ou intermediando 401 vagas de empregos fixos e temporários, número este que já pode ter mudado, até porque, as vagas estão sendo preenchidas com muita rapidez. Mesmo assim, sobram vagas e continua faltando mão de obra especializada.

Como assim? Com tanta gente desempregada, precisando trabalhar e buscando empregos diariamente? Nova Friburgo não estaria vivendo já há alguns anos em meio à recessão, com um PIB bem menor que o de outras cidades serranas, empresas quebrando ou indo se instalar em outros municípios? Sim, tudo isso é verdade. Mas, ao que parece, continua faltando mão de obra qualificada para atender às necessidades do município.

Segundo a diretora do Posto de Empregos, Irany Medeiros, uma única empresa, contratada para fazer a limpeza da cidade depois da enxurrada, oferecia 150 vagas para serventes, e até a semana passada tinha dificuldades para encontrar interessados. O órgão, que funciona das 7h às 18h, na antiga rodoviária, ao lado da Prefeitura, tem no momento mais de 20 vagas para manicures e outras tantas para esteticistas, costureiras, secretárias, recepcionistas, pedagogas, auxiliares de limpeza, assim como para motoristas, mecânicos, galvanizadores, churrasqueiros, cozinheiros, auxiliares de cozinha, garçons e garçonetes, gerentes, copeiros, camareiras, auxiliares de hospital, acompanhantes...

Sem falar naquelas vagas para as quais nunca aparecem interessados: eletricistas, serralheiros, carpinteiros e outras tantas. Estes profissionais geralmente trabalham por conta própria e estão muito satisfeitos assim. Têm tanto serviço que chegam a dispensar e até contratam pessoal para trabalhar para eles. A maioria chegou a abrir microempresas ou se registrou como autônomos, para ter direito à licença e aposentadoria.

É o caso do eletricista Rodrigo Linhares, formado pelo Senai e no mercado há cerca de dez anos. Ele não dá conta das encomendas e muitas vezes não consegue atender seus inúmeros clientes particulares, principalmente depois que foi descoberto pelos arquitetos locais. Com isso, já comprou sua casa própria, tem um Gol 2005 e ainda ajuda os pais, já aposentados.

Trabalho também não falta para Carlos Roberto Rodrigues, conhecido como Carlão, uma espécie de “faz tudo”, mistura de pedreiro, pintor, ladrilheiro, encanador, eletricista, carpinteiro e o que mais se precisar. Mesmo contando com alguns ajudantes eventuais, quem precisa de seus serviços quase sempre tem que esperar uma folga na sua concorrida agenda para ser atendido. O que pode levar até algumas semanas para acontecer. De hoje para amanhã, nem pensar! Carlão acha muito complicado sublocar mão de obra, pois o trabalho nem sempre é realizado com a qualidade que ele exige e já é conhecida pelos que o contratam. “Todo mundo quer ganhar, mas ninguém quer pegar mesmo no pesado”, diz.

Muitos empresários reclamam de falta de mão de obra especializada. É o caso de Ricardo Ferreira Dutra, da Novidartes Construtora, Montagem e Empreendimentos, que atua no ramo da construção civil e na montagem de estruturas metálicas. A dificuldade de encontrar profissionais qualificados, principalmente serralheiros e galvanizadores, é enorme e, segundo ele, tende a se agravar.

Construção civil, o setor mais afetado

O diretor da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo ( Acianf), Cláudio Verbicário, assina embaixo das afirmações acima e atribui a falta de profissionais à recessão que o município atravessa. “Que ninguém se engane”, diz. “Nossa cidade vive uma grande recessão”, faz questão de destacar. Para tanto, cita números ligados ao PIB, um importante parâmetro do desenvolvimento municipal. “O índice de Friburgo foi de menos 29, o de Petrópolis, menos 17, e o de Teresópolis, mais um”. Tudo isso, acredita, devido, entre outros fatores, à falta de incentivos do governo. “À medida que as grandes empresas fecham ou vão se instalar em outros municípios, em função dos incentivos recebidos, as pessoas que nelas trabalhavam e ficaram desempregadas acabam abrindo suas próprias empresas ou se tornam autônomas”, diz.

Além do setor têxtil, que sabidamente vive uma crise sem precedentes na história de Nova Friburgo, outros se ressentem de um planejamento mais efetivo. Mas que, mesmo com toda a crise, é carente de mão de obra especializada. Fato que agora, com a necessidade de reconstrução do município, certamente vai se acirrar. É o caso, principalmente, do setor da construção civil, que mesmo antes da tragédia já se ressentia da falta de profissionais.

Segundo Verbicário, o segmento metal-mecânico ainda se mantém estável, mas na corda bamba. Por isso mesmo, não chega a ter nem folga nem carência de mão de obra. Idem com relação ao comércio, o segmento que mais emprega na cidade. Por enquanto, as lojas não estão demitindo, mas, notem bem, apenas “por enquanto”, destaca. A liberação do FGTS já está contribuindo para movimentar a economia local, mas este dinheiro vai acabar, ressalta Cláudio Verbicário.

Os principais responsáveis pela crise do comércio, afirma, são as lojas de departamentos que se instalaram na cidade há cerca de cinco anos, apesar das reclamações das entidades que representam os empresários do setor. “Estas lojas prejudicam demais o comerciante e não beneficiam em nada a cidade. O dinheiro que movimentam vai todo embora e nem empregos elas geram, pois a grande maioria de seus empregados vem de fora”, afirma Verbicário.

As confecções, claro, estão sendo muito atingidas pela recessão, pois, além de depender diretamente do trabalho informal, que é escasso, têm de enfrentar a concorrência dos produtos chineses, de qualidade no mínimo duvidosa, mas com um preço imbatível. Mesmo assim, o setor ainda emprega bastante e a maioria das confecções dispõe de vagas para diversas funções.

Balcão de Empregos

Vagas Cargo

100 Servente de obra

100 Auxiliar de serviços gerais para limpeza da cidade

10 Serviços gerais

1 Estoquista

1 Auxiliar de escritório

6 Domésticas

30 Costureira

20 Manicures

4 Atendente de balcão de drogaria

2 Balconista de loja

1 Balconista de lanchonete

3 Garçonete

4 Churrasqueiro

4 Cozinheiro

2 Diarista

1 Pedagoga

10 Técnico em edificação

4 Pedreiro

5 Vendedor externo

1 Operador de escavadeira

2 Serralheiro

2 Pintor

2 Soldador

1 Jardineiro

1 Pizzaiollo

1 Auxiliar de serviços gerais

1 Programador

3 Salgadeiro

1 Esteticista

1 Fisioterapeuta

4 Pessoas para depósito

2 Processador de dados

3 Professor de inglês

2 Camareira/diarista

4 Auxiliar de produção

1 Gerente de produção de confecção

1 Auxiliar de escritório

2 Operador de loja

1 Mecânico

1 Motorista com habilitação

4 Cabeleireira

1 Babá

Total: 350 VAGAS

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