Tradição antiga, figurinhas ainda fazem sucesso entre colecionadores da nova geração

O prazer de abrir o pequeno envelope e olhar o rosto daquele jogador que falta na coleção, ou mesmo se encantar com a beleza das mais brilhantes, resiste ao tempo e ainda conquista gerações. Mesmo com a chegada da tecnologia, o interesse por colecionar álbuns de figurinhas ainda é capaz de unir pessoas das mais diversas idades, pais e filhos, em um momento de diversão. Aos domingos, a Praça do Viagra, na Avenida Alberto Braune, torna-se o ponto de encontro dos colecionadores.

"O legal é que, principalmente de 2006 pra cá, o interesse por colecionar figurinhas voltou. Todos os domingos, a turma se reúne para trocar as repetidas com outras pessoas. Existe essa interação entre o pai, a mãe e o filho, ou o avô com o neto. Não deixa de ser um jeito de reaproximar a família”, destaca o colecionador friburguense Rogério Albertini.

O primeiro livro oficial de figurinhas de futebol a circular no país foi o da Copa de 1950, realizada no Brasil. O produto era patrocinado pelas Balas Futebol, mais conhecidas pelos álbuns do que exatamente pelo sabor. Anos mais tarde, a Editora Dimensão Cultural inovou ao lançar um álbum de figurinhas metálicas — Rogério ainda guarda o do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, antigo Campeonato Brasileiro. No fim dos anos 70 surgiu o "Futebol Card”, da Ping-Pong, quando os cards (cartões) traziam as fotos dos jogadores, a respectiva equipe e a ficha técnica na parte de trás. "Minha mãe comprava inúmeras caixas de chiclete Ping-Pong para que eu pudesse completar a minha coleção”, lembra.

À época, as figurinhas eram fixadas com cola ou arroz, bem diferente das autocolantes de hoje em dia. Pouco depois, um álbum intitulado "Os grandes jogos” foi lançado, retratando algumas partidas históricas e as informações sobre cada uma delas. "Nesse livro, têm registros de públicos de 130, 140 mil pessoas”, afirma Rogério, que guarda um desses exemplares.

Os cromos autocolantes estrearam em 1971, com o livro ilustrado do campeonato italiano. No Brasil, a novidade chegou em 1979, com a coleção "Amar é...”. "A vantagem é que o álbum fica mais conservado. Quando colávamos com arroz ou cola, se sobrasse um pouquinho dos lados, a página grudava uma na outra. A gente corria o risco de perder aquela página”, explica.

Desde a Copa do Mundo de 1982, na Espanha, o colecionador acumula dezenas de álbuns, todos completos devidamente preservados com a proteção de plásticos. O Campeonato Brasileiro começou a ganhar as páginas dos livros ilustrados a partir da Copa União, em 1987, e desde então Rogério Albertini colecionou ano a ano, e o de 2013 está próximo de ser completo. Os álbuns mais antigos foram adquiridos recentemente, e um deles, de cor preta e comprimento maior em comparação aos atuais, traz o Santos ainda sem Pelé, e Telê Santana como jogador do Fluminense. 

Com o passar dos anos, a exposição ao tempo e a umidade danificaram a capa, mas o conteúdo mantém-se relativamente conservado. "Um amigo me encontrou e comentou que tinha um álbum para me dar. São os times brasileiros da época, e alguns deles, como o Canto do Rio, nem existem mais”, conta.

Contudo, nenhum item é mais especial que o álbum do futebol amador de Nova Friburgo, cujas figurinhas eram vendidas junto a uma famosa bala. Rogério conseguiu o livro através de um amigo, e fez a cópia das páginas que trazem os times do Fluminense, Serrano, Esperança, Bom Jardim, Friburgo e outros clubes da região. "As pessoas confiam a mim essas verdadeiras relíquias. Após a morte de um avô ou de um pai, os mais novos não têm o interesse de guardar o material, mas também não querem jogar fora. Como eles sabem que eu guardo, eles me cedem, até por saberem que eu não vou vender. Se daqui a 20 anos o filho ou o neto quiser ver, o álbum vai estar guardado comigo.”

 

 

Novidades em 2014

Álbum da Copa do Mundo no Brasil terá algumas adaptações à tecnologia

Os números comprovam que as figurinhas ainda são atrativas também para a indústria fabricante, e novos investimentos devem ser feitos. O álbum da Copa do Mundo de 2010 teve cerca de três milhões de colecionadores aproximadamente, segundo a editora Panini. Estima-se que o livro da Copa de 2006 tenha vendido 140 milhões de envelopes (de cinco cromos cada) — ou seja, 700 milhões de figurinhas. 

Depois do sucesso das últimas edições, o álbum de figurinhas para o Mundial de 2014 poderá ter novidades, e o álbum virtual no site da Fifa pode ser uma delas. Cerca de 500 mil euros devem ser investidos pela fábrica, com o objetivo de alcançar a produção diária de 10 milhões de envelopes e distribuí-los por toda América Latina. 

O Brasil foi a filial que mais vendeu figurinha durante a última Copa do Mundo, à frente da Alemanha e da Suíça. A Panini planeja ainda um material especial que abordará as outras edições da Copa, intitulado "O Brasil de Todas as Copas”, para contar a história dos mundiais.

 

Movimentado