Torcida única é a solução?

Justiça do Rio de Janeiro proibe a presença de duas torcidas rivais em clássicos que envolvam os quatro grandes clubes de futebol do Rio de Janeiro
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Pixabay)
(Foto: Pixabay)

O assunto desse texto não é futebol. Também não é esporte. Não envolve somente um tema, e não é problema apenas de torcida A ou B. É um problema cultural, e envolve toda a sociedade brasileira. Desde a criança, na escola, até a criação em casa, passando pelos conceitos familiares que a ela são ensinados. Na última semana, a Justiça do Rio de Janeiro proibiu a presença de duas torcidas rivais em clássicos que envolvam os quatro grandes clubes de futebol do Rio de Janeiro. A medida é tomada depois da morte de um torcedor no último dia 12, antes do jogo entre Botafogo x Flamengo, no estádio Nilton Santos.

Torcedores dos dois clubes se envolveram numa briga de grandes proporções, e além de feridos, o saldo foi mais uma morte por conta da violência. Mais do que isso: famílias ficaram assustadas, com medo e podem não mais voltar aos estádios de futebol. Esporte que possui o único e exclusivo caráter de entreter, de mexer com a paixão do brasileiro. Fazer vibrar, esquecer um pouco os problemas. Divertir. E não amedrontar. Que os responsáveis sejam severamente punidos. As imagens, áudios e demais provas estão disponíveis nas redes sociais, câmeras nos arredores do Nilton Santos e outros lugares. Só não vai haver punição se não quiserem. Mas essa não foi a primeira vez, e pode também não ter sido a última.

Alguns estados brasileiros já adotam a torcida única nos clássicos regionais. E tal fato não diminuiu as brigas entre torcedores. Aliás, essas pessoas que se envolvem em brigas, que marcam encontros para promover a violência não são torcedores. Jamais poderiam ser assim considerados. São marginais travestidos com a camisa de um clube, que utilizam as torcidas organizadas como proteção. O escudo como desculpa para externar o sentimento de ódio, de falta de compaixão e respeito com o próximo. São bandidos como quaisquer outros, e assim deveriam ser tratados. Mas não são, e por isso, protegem-se debaixo das asas de uma legislação branda, e agora, mais do que nunca, paliativa.

É triste ouvir relatos de torcedores que estavam envolvidos na briga do último dia 12, no Nilton Santos, onde eles agradecem às torcidas organizadas do seu clube por protegerem e, assim, evitarem uma tragédia maior. Não fosse o confronto, segundo eles, mais pessoas inocentes teriam sofrido com as consequências do vandalismo. Ausência de policiamento? Nesse caso específico sim. Mas no geral nunca foi.

Não dá para julgar a PM do Rio de Janeiro que, desvalorizada, com salários que não condizem com a responsabilidade que possui, reclama dos atrasos salariais. Ganha pouco e mesmo assim não recebe. É responsável por combater a violência, o tráfico de drogas e todas as demais irregularidades. Dentro de suas atribuições, tapam o sol com a peneira, enquanto o verdadeiro culpado continua escondido, promovendo casos e mais casos de desmando e corrupção: o Estado brasileiro. Os políticos que teriam o poder e a responsabilidade de tomar providências eficazes a médio e longo prazo.

A violência nos estádios ou nas ruas do Brasil é sim, culpa do Estado. A nossa sociedade é reflexo dos governantes, da falta de investimento na educação, na formação cultural das pessoas, na manutenção dos valores familiares. Enquanto a classe política nacional enriquece, o povo padece. E os reflexos são nítidos, dentre outras coisas, na violência que assola o nosso país.

Proibir a presença de duas torcidas em clássicos no Rio de Janeiro é mais uma demonstração de incompetência do Estado. Um atestado para a própria incapacidade de oferecer segurança ao povo fluminense e brasileiro. Não por culpa da PM, repito, mas pela falta de cuidado com a formação das nossas crianças, dos nossos jovens. Sem as torcidas de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco, juntas nos estádios, o futebol carioca perde mais um pedaço do seu charme. A sociedade ganha mais um prova de que o sistema brasileiro está falido. É muito mais fácil punir do que tentar resolver. Tomar medidas paliativas do que investir. É mais fácil enganar o povo do que assumir as falhas. Alguém se sente mais seguro depois dessa medida?

Enquanto um estádio de futebol ou a rua do lado de casa tiver que contar com um forte policiamento é porque há algo de errado. Cada marca de violência é um sinal da incompetência de quem comanda o nosso país nas mais variadas esferas. Enquanto o Estado não assumir as suas responsabilidades, nada, absolutamente nada vai mudar no Brasil.

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