Torcedores encaram alta despesa para acompanhar o time do coração no Maracanã

quinta-feira, 03 de abril de 2014
por Vinicius Gastin
Torcedores encaram alta despesa para acompanhar o time do coração no Maracanã

Pouco mais de 43 mil pessoas empurraram o Botafogo contra o Union Española na noite da última quarta-feira, 2, no Maracanã. O jogo valeria a classificação antecipada para as oitavas de final da Copa Libertadores ao alvinegro carioca em caso de vitória, mas os planos foram frustrados pela derrota por 1x0 para os chilenos. Dentre os torcedores presentes ao palco da final da Copa do Mundo deste ano estava um grupo de 16 friburguenses, sendo sete da mesma família.

"Apesar do resultado, valeu muito a pena pelo passeio e pela oportunidade dos meus netos conhecerem o Maracanã. O Marcus Vinicius já está louco para contar como é o estádio para os amigos da escolinha de futebol. Ele ficou muito satisfeito”, conta Delci.

O grupo deixou Nova Friburgo em uma van por volta das 15h. O empresário levou a esposa, as duas filhas e os dois netos ao estádio. Uma aventura inesquecível, porém, de custo cada vez mais elevado. Cada torcedor pagou 50 reais pelo serviço, valor que seria um pouco maior para abastecer um veículo de passeio. Ao longo da estrada administrada pela Rota-116, relativamente bem conservada, os três pedágios em direção ao Rio de Janeiro aumentam as despesas em R$ 12,40. O primeiro deles, no valor de R$ 4,50, é cobrado à altura da Boca do Mato; no segundo, pouco mais à frente, paga-se o mesmo preço, enquanto o pedágio próximo à Manilha custa R$ 3,40. Na ponte Rio-Niterói a cobrança é feita de forma unidirecional, apenas no sentido Niterói, acrescentando mais R$ 4,90 à despesa. Considerando ida e volta, o custo total de pedágios é R$ 29,70.

Ingressos e lanchonete elevam os custos

Cerca de duas horas e meia depois da saída, os friburguenses cruzam a Avenida Maracanã. A chegada ao estádio já não foi das mais fáceis por conta do trânsito caótico. O destino seguinte do grupo foram as bilheterias, onde o atendimento é feito com boa velocidade e organização. No entorno, funcionários orientam sobre como adquirir os ingressos e para onde cada torcedor deve se encaminhar. Os preços dos bilhetes variam de acordo com os setores, sendo os centrais, leste e oeste, os mais caros --- no caso de Botafogo x Union Española a inteira custou 90 reais e a meia 45. Nos setores localizados atrás dos gols, o sul e o norte, os botafoguenses pagaram 70 reais para assistir à partida, sendo a meia-entrada no valor de 35 reais. O área denominada Maracanã Mais oferece alguns benefícios, e por isso, custou 160 reais (100 a meia-entrada).  No caso da família de Delci, que optou por assistir ao duelo no setor sul, as despesas totais somadas giraram em torno de 600 reais --- considerando que os netos não pagaram o transporte e o ingresso.

"A gente vem ciente de que vamos gastar mesmo, não tem jeito. Por isso nós não vamos sempre, mas quando temos a oportunidade não a desperdiçamos”, garante.

Dentro do Maior do Mundo, a emoção de fazer parte de uma grande festa em um dos templos consagrados do futebol mundial. Os alvinegros prepararam um mosaico com os dizeres "Somos um só”, exibindo-o ao som de uma das canções mais famosas da torcida logo na entrada do time em campo. No segundo tempo, os torcedores acenderam as luzes dos celulares e recepcionaram os jogadores com a chamada "constelação alvinegra”. 

Entre um espetáculo e outro nas arquibancadas, o tradicional lanche na hora do intervalo. Os preços, entretanto, não são nem um pouco convidativos. Um cheeseburger simples é vendido ao preço de R$10, equivalente também ao valor de um sanduíche natural. O refrigerante e a cerveja sem álcool custam R$5, e a água R$3. Em menos de 15 minutos entre um tempo e outro de partida, Delci gastou algo em torno de R$100.

Final de partida no Maracanã. Os alvinegros, decepcionados com o resultado, deixam o estádio cabisbaixos e já fazendo contas para analisar as possibilidades de o time seguir na Libertadores. O Glorioso terá que vencer o San Lorenzo na Argentina, no próximo dia 9, para não depender de outros resultados. Uma derrota elimina a equipe comandada por Eduardo Húngaro. Todos pareciam preocupados, à exceção de Marcus Vinicius. "Quero voltar mais vezes”, repetia o garoto. A frase parece ter sido o suficiente para justificar todo o alto investimento feito por Delci. "Isso já vale a pena, é uma experiência diferente pra eles. Apesar dos gastos, fiquei feliz por apresentar o Maracanã aos meus netos”, garante.

A preocupação de quem faz o futebol...

A magia de levar os filhos e netos a um estádio de futebol parece resistir às transformações ao longo tempo, tais como a elevação dos custos e a comodidade oferecida pelas emissoras de televisão, a preços bem menores. A antiga geral do Maracanã que outrora concentrava o chamado "povão” e oferecia ingressos a preços populares foi setorizada. Os setores leste e oeste inferior, inclusive, são os mais caros. A situação já preocupa dirigentes dos clubes brasileiros, e os reflexos aparecem nos públicos registrados durante o campeonato carioca deste ano. Botafogo e Flamengo, por exemplo, jogaram para menos de mil torcedores em algumas partidas. Ao menos na Libertadores, a realidade é diferente.

A proibição da bebida alcoólica nos estádios é outro termo bastante discutido, e que de fato, afastou boa parte dos torcedores. Não é raro encontrar grupos de amigos que preferem assistir aos jogos nas proximidades do campo, em bares, onde inclusive os preços são mais em conta. 

"Realmente preocupa, e temos que discutir o porquê disso. Grande parte da mídia classifica o campeonato carioca como ruim, e por isso ele já deixou de ser o mais charmoso. Mas ninguém discute os preços dos ingressos, os horários dos jogos, a questão do sócio-torcedor e o consequente processo de elitização do futebol nacional”, alerta o gerente de futebol do Friburguense José Eduardo Siqueira. 

Grupo de alvinegros friburguenses foi ao Maracanã para acompanhar o Botafogo na Libertadores: alta despesa limita a maior frequência

 

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