“Todo mundo é cultura”

segunda-feira, 16 de novembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

“Cultura não é evento”, alertou o subsecretário de Cultura de Nova Iguaçu, Jorge Cardoso, que esteve em Nova Friburgo na tarde da última quinta-feira, 12, para participar de reunião do Fundo Municipal de Cultura, presidida pelo secretário municipal de Cultura, Roosevelt Concy. O subsecretário do maior município da Baixada Fluminense compareceu à reunião a fim de falar de suas bem-sucedidas experiências e avanços no setor, visto que Nova Iguaçu tem sido vista como exemplo do estado na administração do Fundo de Cultura.

Na ocasião Roosevelt lembrou a importância da cultura como potencial agente de transformação na sociedade. “A ação deve ser feita nos moldes de uma ‘tática de guerrilha’, investindo na produção, preservação, memória, difusão e educação para as artes”, disse, lembrando que a expectativa da repartição é de que até o fim do ano seja utilizada toda a verba da cultura – que representa apenas 1% de toda a verba destinada pela Prefeitura -, e que até agora só foi consumida em 0,4%.

Quase nada, mas, segundo Jorge Cardoso, a cultura, ainda que enfrentando todos esses empecilhos, deve agir na intenção de recuperar o tecido social. “Essa guerra não está ganha. Muito pelo contrário, corremos o sério risco de perdê-la, porque existem diversos fatores que devem ser levados em conta, situações críticas às quais a sociedade é constantemente exposta e que agem na intenção de desinstruir o cidadão, deixá-lo vulnerável”, afirmou o visitante, lembrando ainda que a cultura, por não ser sistematizada, isto é, por não se prender a tantas convenções, “pode ir a lugares onde a educação, por exemplo, pode ter problemas para chegar, como favelas, becos e outros”.

“Nessa perspectiva todo mundo é cultura, basta que lhes deem o espaço. A rezadeira, o artista popular, a folia de reis. O ativista cultural deve agir na intenção de instruir o cidadão”, disse Jorge, lembrando que ao se trabalhar com o adulto, por exemplo, muitas vezes, consumido pela realidade dura, é incapaz de se perceber vulnerável à arte e à cultura como possibilidades para elas. “É tudo uma questão de autoestima. Muitas vezes encontramos famílias que se recusam a crer que possam tomar parte, de qualquer forma, de uma atividade cultural. Ouvimos coisas como: ‘isto não é pra gente’, ‘eu sou burro, meu pai foi burro, meus filhos são burros’, quando, na verdade, não é nada disso.”

Jorge apresentou como exemplo de reforços ao espírito comunitário o Bairro Escola, uma experiência em que os alunos, após o horário letivo, se deslocam até alguma área da localidade para receberem instruções diversas, sejam aulas de capoeira, dança, e diversas outras. “A experiência é interessante porque visa a atingir toda a comunidade. No trajeto feito pelas crianças da escola até o lugar onde receberão as aulas, pintamos faixas de segurança, que a princípio recebiam suporte da Guarda Municipal de Trânsito, e que hoje em dia conta com total colaboração da comunidade, dos motoristas”.

Ainda citando o Bairro Escola como exemplo, Jorge disse que esse mesmo trecho percorrido pelas crianças “que não precisam ficar presas na escola o dia todo, afinal”, os muros e casas eram pintados com anuência dos proprietários e moradores. E ainda mais, os muros e casas podem ser pintados e recuperados com as cores dos municípios ou ainda sofrerem alterações graças à intervenção de grafiteiros e jovens treinados por eles. “É engraçado ver como as pessoas reagem a essas coisas. Tem gente que vê o trabalho dos grafiteiros e acha uma ofensa. Passadas duas semanas, lá estão eles, pedindo que seus muros sejam feitos à semelhança dos outros, grafitados, também”, comentou.

Durante a reunião, que contou com a participação do secretário de Planejamento, Antonio Mastrangelo, Roosevelt lembrou ainda que a atual administração fornece total apoio às manifestações culturais.

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