Ao menos seis tiros foram ouvidos na noite do último domingo, 20, por moradores do conjunto habitacional Terra Nova, no distrito de Conselheiro Paulino, em Nova Friburgo. Os disparos foram efetuados durante uma confusão entre motoristas após uma colisão de dois carros, por volta das 20h, próximo ao condomínio 1, e assustaram moradores dos prédios.
Policiais militares foram chamados por uma moradora e verificaram que dois veículos bateram na Avenida Maestro Joaquim Naegele, trecho da RJ-148 (Nova Friburgo - Carmo) que atravessa o conjunto habitacional. O acidente teria sido provocado porque as pessoas que estavam em um Fiesta vermelho estariam devendo o pagamento de drogas ao motorista do outro veículo. Moradores relataram que houve uma confusão, e o homem teria disparado tiros contra o grupo.
De acordo com a PM, um tiro perfurou o parabrisa do Fiesta. O veículo estava ligado e desocupado quando os policiais chegaram ao condomínio para verificar o chamado. As pessoas que estavam no carro fugiram após a confusão. Os policiais não encontraram vestígios de sangue no veículo, mas apreenderam uma cápsula 380. O proprietário do outro carro que efetuou os disparos não foi encontrado pela polícia.
No mesmo dia, mais cedo, uma Kombi foi destruída pelo fogo na rotatória do condomínio 3. O incêndio foi controlado pelos bombeiros, por volta das 13h, mas o proprietário teve perda total. A VOZ DA SERRA não conseguiu esclarecer com os moradores se o incêndio foi um acidente ou se foi provocado por alguém. Não há registros do caso na 151ª DP.
Depredação de bens e tiros, no entanto, têm se repetido e assustado moradores do Terra Nova. Há pouco mais de uma semana, uma confusão entre dois jovens quase terminou em tragédia também no condomínio 1. Um rapaz armado entrou em luta corporal com outro na área de convivência dos prédios. Os moradores se aglomeraram para separar a dupla e o jovem deu dois tiros em direção ao chão. As pessoas correram, e o rapaz armado fugiu. A PM foi chamada, mas ninguém foi preso.
O Terra Nova foi construído às margens da RJ-148, entre os distritos de Conselheiro Paulino e Riograndina, para abrigar famílias de várias regiões de Nova Friburgo que perderam suas casas durante a tragédia climática de 2011. Inaugurado em há cerca de três anos, oito condomínios com mais de 200 apartamentos, cada, foram entregues aos beneficiários.
O espaço onde havia plantações e viviam poucas famílias foi ocupado em pouco tempo por cerca de 7.500 pessoas, mais do que população do município vizinho de Macuco, que tem 5.400 moradores, estima o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O comandante do 11º BPM, coronel Carlos Eduardo Hespanha, instalou um Posto de Policiamento Comunitário (PPC) no condomínio, mas afirma que é preciso mais do que a presença da PM no local.
“Colocaram, em pouco tempo, muitas pessoas em uma área com pouca infraestrutura. Muitos que vivem ali nunca moraram em prédios e tem dificuldades de convivência. Você passa pelo condomínio e vê crianças e jovens o dia inteiro no ócio. Isso é muito triste porque deveria haver uma creche no local, áreas de lazer e ações sociais de formação cidadã para ocupar o dia a dia da turma. Muitos jovens se envolvem com o tráfico por falta de oportunidades”, avalia o comandante.
Hespanha abriu mais uma turma do seu projeto de judô comunitário, Solução, agora no Terra Nova. A iniciativa do comandante da PM funciona em uma academia próxima ao conjunto habitacional para crianças, jovens e adultos que desejam aprender judô. Os alunos recebem quimono e ainda lanche durante os treinamentos. O comandante conta com apoio de empresários de Nova Friburgo, mas tem enfrentado dificuldades para levar o projeto adiante.
Mais pessoas podem ocupar o Terra Nova no próximo ano — um dos muitos desafios do próximo prefeito Renato Bravo. O condomínio 9, o último do empreendimento, deve ser entregue no primeiro semestre de 2017 prioritariamente para as famílias que recebem o aluguel social, benefício de R$ 500, pago por mês, que o governo do estado pretende extinguir para economizar e tentar regularizar as finanças do estado. A Defensoria Pública já anunciou que vai tentar impedir o fim do programa, premiado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
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