Texto: Ana Borges / Fotos: Lúcio Cesar Pereira
Foi numa colônia de férias, acompanhada do filho Franco, de 11 anos, em 2010, que a psicóloga e mestre em saúde mental formada pela UFRJ, Renata Velozo, observou a convivência das crianças com os cavalos. Achou curioso que algumas delas tivessem um comportamento afável com o animal, mas, longe deles, fossem agressivas com os adultos e outras crianças. Era como se estivessem em outro universo. Lembrou, lá mesmo, que a reação das crianças remetia ao método aplicado pela Dra. Nise da Silveira com seus pacientes, há 60 anos, através de cães e gatos. Interessada em conhecer o método mais a fundo, Renata decidiu estudar e se especializar em TAA — Terapia Assistida por Animais, regulada pela Associação Nacional de Equoterapia (Ande-Brasil), na qual os animais têm uma participação fundamental.
Light – Esse é o método que definiu os animais como co-terapeutas?
Renata Velozo – Isso. Em 1997, o Conselho Federal de Medicina reconheceu a Equoterapia como um método a ser incorporado às técnicas dirigidas aos programas de reabilitação de pessoas com necessidades especiais. Mas ainda falta a comprovação científica, que deverá ser feita por profissionais brasileiros.
O que é a Equoterapia?
É um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo em uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação. Ele ajuda portadores de deficiências físicas e mentais, paralisias, síndromes, enfim, com necessidades especiais.
O que é e como é feito esse tratamento?
É o que conhecemos por TAA — Terapia Assistida por Animais. A Dra. Nise, nas décadas de 1950/60, mencionou que os animais são importantes catalisadores das emoções dos pacientes. Foi descobrindo que eles exercem uma função de troca afetiva, que despertava a confiança da criança, atraindo–a, convidando-a para atravessar uma porta, entrar em outras, experimentar outro mundo. E isso pode ser alcançado através de um gato, cachorro, cavalo, enfim, no caso de tratamento, cada um desses animais pode funcionar em determinadas situações.
No caso do cavalo, que tipo de problema pode ser tratado com a ajuda dele?
A interação com o cavalo, desde os primeiros contatos, como montar, cavalgar, acarinhar, desenvolve formas de socialização, autoconfiança e autoestima. Enquanto está montando, essa atividade exige a participação do corpo inteiro, ajudando a desenvolver força, tônus muscular, flexibilidade, relaxamento, aperfeiçoamento da coordenação motora e do equilíbrio.
Funciona, inclusive, com crianças autistas?
Nesses casos, os estudos demonstraram diminuição nos comportamentos negativos, agressividade, alienação, isolamento, entre outros.
Há como saber o que acontece entre uma criança com autismo e o cavalo?
O animal oferece um olhar curioso: não tem, como o terapeuta, a preocupação de consertar as coisas e, sim, de acompanhar, construindo jogos lúdicos, repletos de afeto. O sujeito reconhece os movimentos e o animal também. Ocorre um ir e vir de intenções. Ele precisa se deslocar de uma posição para outra, a fim de reconhecer seus passos e que direção deseja tomar.
Então é o comportamento natural do animal, uma das características para o resultado positivo como co-terapeuta?
Sim, uma delas. Para além do adestramento, esses animais são observados por psicólogos, preparados para serem co-terapeutas. Os animais não vivem o passado, mas o momento; interagem no meio ambiente, buscam vincular e perceber o que está em volta.
No caso de cães e gatos, essa relação é mais constante e facilitada pelo convívio diário. O que muda nesta relação?
A resposta já está implícita na pergunta. São situações específicas, bem definidas. Cada um produz eventos novos que, consequentemente, produzem respostas novas. Ao levar seu cãozinho para passear, nos perguntamos: "Quem gera o movimento em quem?” O humano e o animal caminham juntos, suam suas ‘camisas’, juntos. Experiências diversificadas oferecem ao sujeito e ao animal sentirem-se parte de uma tarefa que indica a importância de cada um.
Ambos estão ali, juntos em tudo, naquele momento só deles. É isso?
Sim, eles estão ali unidos numa atividade que produz movimentos espontâneos, flexíveis, geradores de identidade, durante a qual fazem negociações particulares, instintivas. Os animais proporcionam novas modalidades de relação onde a linguagem verbal não é prioridade. Para alguns pacientes, o campo da linguagem verbal não é "seguro”. Por outro lado, com a linguagem não-verbal, cria-se "espaço de dizer”, onde a situação é simplesmente vivida. Trocas e laços afetivos se criam, naturalmente.
Essa mesma relação tranquila observa-se também com os cavalos...
Também. Com naturalidade, de uma posição para outra, o cavaleiro vai deixando-se envolver pelos movimentos. Na relação com o animal, há interesse, curiosidade e respeito, estando os dois na mesma paisagem. No caso dos autistas, o animal fortalece o elo entre a pessoa e o exterior.
Quer dizer, isto é a TAA.
A aposta implícita desta terapia é que algo se ponha a mover num processo de criação conjunta, com vistas ao uso da palavra e a inserção do sujeito. Falamos aqui dos acontecimentos e de tudo que acontece à nossa volta. O animal possibilita um deslocamento físico onde as mudanças de paisagens tornam-se fundamentais. Nem sempre há algo a dizer. O animal se move, vive, reconhece, está fora e ao mesmo tempo, dentro, justamente porque está "fora”. O animal induz ao afeto, cuidado, olha nos olhos, reconhece o contato e fez suscitar acontecimentos, produzindo uma relação afetiva muito especial.
Renata Velozo (Contatos: (22) 2521-0656 / 99839-3296)
O Som dos Bichos
O galo cantou
O grilo grilou
Cachorro latiu
O gato miou
O pato grasnou
A ovelha baliu
E o leão...
O leão rugiu
Mas o pinto piou
A vaca mugiu
peru grugulhou
O porco grunhiu
O passarinho cantou
A cigarra zuniu
Papagaio falou
E a girafa...
A girafa não fala a girafa não...
(MPB 4 – Autores: Geraldo Amaral E Renato Richa)
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