Assistir a Bela, a feia é ir do paraíso ao inferno fashion em apenas algumas cenas – ou até mesmo em uma só tomada. Os personagens da trama assinada por Gisele Joras transitam entre o universo do glamour e a simplicidade popular, podendo envergar peças de grife e itens vasculhados em brechós. “A coordenação disso começa com o trabalho de desenvolvimento de cada personagem. A partir do momento que a estrutura das roupas está definida, fica fácil”, garante a figurinista da trama, Mariana Baffa, que deu início ao processo de composição do figurino cerca de dois meses antes do início das gravações.
Complexo mesmo, explica Mariana, é montar os figurinos que serão usados nas cenas. A função é diária e obriga cuidado redobrado, para que nenhum personagem apareça com uma peça da mesma cor usada por outro. Outra dificuldade eventual é lidar com o ego de alguns atores, que, vez por outra, torcem o nariz para o vestuário. “Tem ator que consegue comprar o personagem, já outros acham que tem de usar, em todas as novelas, o que fica bom para eles e não para o papel. Então, a gente faz um trabalho de psicólogo, também”, brinca.
Não é o caso de Cláudio Gabriel. Escalado para dar vida ao espalhafatoso Nélson, o ator aceitou descolorir os cabelos – processo que repete a cada dez dias – e desfila um visual totalmente extravagante. “Ele é uma caricatura, está sempre representando alguém que não é”, argumenta ele, cujo figurino combina calças brancas com blusas de estampas grandes e vários anéis de prata. Inicialmente vinculado ao mundo do samba, Nélson foi inspirado no cantor Rodriguinho – pagodeiro conhecido por seus cabelos oxigenados. “Hoje em dia, Nelson não toca muita cuíca, aparece mais como um boy. Mas ainda tem essa coisa do samba porque vai muito ao Boteco do Clemente”, pondera Claudio, mencionando o ponto de encontro dos bambas da Gamboa, bairro da Zona Portuária do Rio de Janeiro em que se passa parte da trama.
Já o figurino de Bela, vivida por Gisele Itié, deu um certo “frio na barriga” na figurinista. “Deixei mesmo por último, porque era a que me dava mais pânico. Acabei buscando referências nas mulheres de Tóquio, que são adultas, mas têm um ar lúdico”, conta Mariana, que revela ainda que o guarda-roupa da protagonista – apesar de parecer uma grande bagunça – reúne peças garimpadas em lojas famosas, como Maria Bonita Extra, Alessa e Maria Filó. Outros itens foram encontrados em brechós e mercados populares – e sempre personalizados com aplicações. “Tem várias peças que dá para usar individualmente. Com outras combinações, eu uso fácil”, enfatiza.
Enquanto as cores fortes dão o tom nos núcleos da protagonista Bela e companhia, a elegância é a regra entre os personagens mais abastados. Interpretada por Carla Regina, a antagonista Cíntia é do tipo que aparece sempre em roupas para lá de elegantes. Mesmo assim, o look sofreu alterações. “Troquei uma bola com a Mariana e fiz algumas sugestões”, conta Carla. “Vestido rodadinho, por exemplo, acho que não fica legal. Algumas roupas engordam, no vídeo. Por mais que a pessoa não esteja acima do peso, fica quadrada”, observa.
No meio termo, estão personagens como Diogo. Diretor de Arte da agência de publicidade +/Brasil, ele é do tipo que anda com ternos alinhados – mas, já há algum tempo, tem investido em bermudas combinadas com paletós. “Ele não abre mão da gravata borboleta, mas usa bermuda. Diogo brinca com a criatividade”, diverte-se seu intérprete, Sérgio Menezes. Metrossexual convicto, o personagem foi inspirado em tipos como o estilista John Galliano, atual Diretor Criativo da marca Christian Dior. “A Mariana é uma garota esperta e conseguiu encontrar uma harmonia entre a sutileza e o bom humor. O Diogo tem roupas de bom gosto, mas tem humor que dá o diferencial”, defende.
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