Rodrigo dos Santos encontra referências de vida com capoeira
Capoeira é lúdica, é mente, é corpo e é festa. Esta é a análise que Rodrigo dos Santos, o Noronha de Passione, da Globo, faz da prática abraçada por ele há 11 anos. “A capoeira me ajudou na capacidade de improviso, na prontidão física e na preparação corporal”, empolga-se o ator. No ar em Passione, o ator que interpreta Noronha, advogado da Metalúrgica Gouveia e de Saulo, papel vivido por Werner Schünemann, não se contém quando o assunto é o futuro do seu personagem. “Ele será o presidente da empresa. Depois que Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos, ninguém segura o Noronha”, brinca.
Na quadra onde Rodrigo joga capoeira três vezes na semana, as ornamentações típicas do esporte estão por toda parte. Fotografias antigas de grandes mestres, outras de encontros de associações e fotos em preto e branco de crianças treinando são algumas das primeiras imagens que enfeitam o ambiente. No chão, uma roda com aproximadamente 15 alunos, acompanhados do Mestre Marrom, entoam cantos folclóricos e feitos de famosos capoeiristas do passado. Dentro da roda está o ator e aluno Rodrigo Santos, se preparando para jogar com outro aluno. O ator abaixa a cabeça, faz reverência, aperta a mão do seu oponente e segue o jogo. Os movimentos, quase coreografados, parecem antevistos por Rodrigo, que se esquiva lentamente de cada golpe. “Já me machuquei várias vezes. Meu nariz é torto, tenho o septo desviado, já gravei com olho roxo. Normal, né?”, questiona, entre risos, o ator.
Aluno da Associação Marrom de Capoeira, do professor Henrique Anastácio de Jesus, o Mestre Marrom, Rodrigo encontrou na capoeira da angola uma profunda reverência ao passado do esporte. O respeito às raízes e aos mestres mais antigos foram algumas das razões que fizeram Rodrigo escolher a capoeira angola ao invés da capoeira regional – um estilo considerado mais moderno, jogado mais acelerado e mais em pé. “Há um tempo comecei a buscar minhas raízes culturais. Depois de treinar com o Mestre Marrom, vi que só poderia fazer a capoeira angola”.
O primeiro contato do ator com essa mistura de dança, luta e cultura aconteceu em 1995, quando ele participava da Companhia Prática de Teatro, com o espetáculo O Pagador de Promessas, dirigido por Michel Bercovitch. “Tinha capoeira na peça e alguns capoeiras foram convidados para participar”, relembra Rodrigo. Quatro anos depois, prestes a estrear na série Mulheres, da Globo, Rodrigo por acaso se encontra com o Mestre Marrom e desde então a capoeira está na sua rotina.
Para o ator, a capoeira eleva tanto a sua capacidade profissional quanto a pessoal. “É uma forma de ter minhas habilidades ampliadas. Sou um percursionista, um artista, um cantor, um dançarino, um lutador, um poeta, um improvisador e um artesão”, afirma Rodrigo, que está no último semestre da faculdade de filosofia. Ainda segundo ele, o Brasil deveria investir em filmes de ação com capoeira. “Aliar o comercial ao artístico é mesmo possível. Eu queria ter feito em 2009 o protagonista de Besouro, defende o ator, referindo-se ao filme de João Daniel Tikhomiroff sobre o lendário capoeirista baiano Manuel Henrique Pereira, conhecido como Besouro Mangangá. Ao fim da aula, depois de ter esquivado de golpes como meia-lua, rabo-de-arraia, vingativas e rasteiras, Rodrigo dos Santos encara suas apostas de futuro. “Eu me vejo carregando toda minha ancestralidade. E criando minha filha com estes valores”, diz.
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