"Vi muita gente contente. Chama atenção, as pessoas gostam”
Por enquanto, o trem é meio fantasma. Isto porque, ainda bem pouco divulgado, não tem horários certos de circulação e o trajeto percorrido - “desde que haja demanda”, destaca Cênio - se resume a um bate-volta do Centro até Olaria pela Via Expressa, com embarque nas praças do Suspiro e Getúlio Vargas. Quem viu, viu.
Por que esse itinerário? “Fomos pegando o caminho mais fácil”, explica Cênio, ainda tão encabulado quanto o serviço que oferece. Por enquanto, as saídas ocorrem apenas aos sábados e domingos, a partir das 9h30 até o último passageiro. “Quando junta um grupo, partimos. Ainda não temos muito movimento”, justifica.
Natural de Cordeiro, o dono do Tchan da Alegria conta que recebeu autorização da atual gestão municipal, atendendo a todas as exigências, e trouxe a carreta, já adaptada, de Minas Gerais. O veículo é lento, trafega a pouco mais de 20 km/h. O bilhete custa R$ 10 por pessoa e a viagem dura geralmente 40 minutos. “Depende do movimento”, repete Cênio.
Trombada sonha trazer trenzinho de volta
Antecessor de Cênio na operação do serviço, Roberto Lima Jatobá, o Trombada, sonha trazer o nostálgico trenzinho Lilita de volta. Ele diz que está reunindo toda a documentação exigida pela prefeitura - como barra de proteção, seguro e cinto de segurança para os passageiros - para legalizar o trenzinho preto com chaminé que marcou a memória de gerações de friburguenses. Desde o ano passado, o Lilita está parado numa rua do Vale dos Pinheiros (foto).
Trombada relembra que sua ligação com o trenzinho vem desde os anos 70, quando ele era adolescente e o veículo, então chamado Trem da Alegria, com motor Chevrolet a gasolina, era pintado de vermelho e tinha bancos de madeira. Em 1981, agora preto e com locomotiva imitando uma Maria Fumaça, ele virou Lilita em homenagem à mãe do então proprietário. “Nesse tempo todo, nunca houve um só acidente”, orgulha-se.
Prefeitura prepara circuitos turísticos
Ouvidos por A VOZ DA SERRA, tanto o secretário de Turismo, Pablo Sprei, quanto o de Ordem e Mobilidade Urbana, Marques Henriques, acham que a cidade dificilmente comportaria dois trenzinhos, ainda por cima, concorrentes. Os titulares das duas pastas estão trabalhando num projeto conjunto e planejam anunciar, em breve, um serviço mais bem organizado, com horários pré-fixados e circuitos variados, incluindo paradas em hotéis e pontos turísticos diversificados como Furnas, Queijaria Suíça, Ponte da Saudade e Parque Juarez Frotté.
“Ainda vamos melhorar muito o serviço de trem turístico, fazê-lo parecido com o modelo utilizado em outras cidades do Brasil e do exterior, com paradas em vários lugares da cidade”, disse Marques, consonante com Sprei. Recentemente, a Secretaria de Ordem e Mobilidade Urbana (Smomu) reservou boa parte da margem direita da Praça Getúlio Vargas, junto à Feira de Artesanato, como parada exclusiva de ônibus de turismo, entre eles o Tchan da Alegria”. O espaço exclusivo é uma antiga reivindicação dos artesãos que trabalham no local (foto).
No Festival de Inverno, jardineira “entupida de gente”
Um dos empresários mais conhecidos do Suspiro, Gilberto Sader é um dos que aplaudem o trenzinho, seja ele Tchan ou Lilita. “Foi legal ver a Praça do Suspiro lotada de turistas no Festival de Inverno e a jardineira entupida de gente. Vi muita gente contente. Chama atenção, as pessoas gostam”, testemunhou ele. Sader acha o Tchan um pouco grande demais, o que o deixa muitas vezes ocioso, mas, ainda assim, “melhor do que nada”. Se o trenzinho era mais bucólico, na sua opinião, por outro lado a jardineira permitirá oferecer aos turistas circuitos maiores, como o Terê-Fri, com mais segurança.
Memórias do trenzinho...
Na década de 70, Nova Friburgo ainda não tinha tantos automóveis e veículos pesados circulando, e andar de carro era, de certa forma, ainda uma novidade para muitos, ou, no mínimo, privilégio de poucos. A Avenida Alberto Braune ainda era pavimentada com paralelepípedos e o trânsito seguia em mão dupla. A cidade ainda suspirava com saudades do trem, extinto na década anterior, em 1964.
Nesse contexto, o trenzinho surgiu. Era vermelho, com bancos de madeira, e não fora concebido para turismo, e sim como alternativa de lazer para as crianças, que embarcavam segurando casquinhas “japonês” e algodões doces de várias cores.
Aliás, friburguenses de todas as idades passeavam no trenzinho, já que as crianças nunca iam desacompanhadas. Às vezes ele servia para passeios de escola; em outras, para passeios de idosos como os abrigados do Laje. O trenzinho era um parquinho de diversões sobre rodas, ambulante. Bons tempos.
VEJA FOTOS DO ANTIGO DO TRENZINHO NA GALERIA ABAIXO:
Gilberto Sader, empresário
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