Tchan da Alegria toma lugar do Lilita e Friburgo volta a ter passeio turístico

Jardineira, ainda muito pouco divulgada, é quase um "trem fantasma”. Prefeitura planeja circuitos com várias paradas
sexta-feira, 10 de agosto de 2018
por Adriana Oliveira (aoliveira@avozdaserra.com.br)
A jardineira em operação num sábado recente (Fotos: Adriana Oliveira e Henrique Pinheiro)
A jardineira em operação num sábado recente (Fotos: Adriana Oliveira e Henrique Pinheiro)
Sai o Lilita, entra o Tchan da Alegria. Há cerca de dois meses, um “trenzinho” turístico voltou a ser visto circulando pelas ruas de Nova Friburgo. Só que agora em versão mega plus size: double deck, metade ônibus, metade caminhão. O “trenzão” é, na verdade, uma carreta Volkswagen Constellation de 275 cavalos, adaptada para carregar 40 passageiros sentados na carroceria (foto mais abaixo). O Tchan, que também pode ser visto circulando à noite, todo iluminado em neon (foto), está em operação para passeios turísticos há dois meses, diz o proprietário, Cênio Guimarães Basílio. Mas há três anos o veículo já vinha sendo usado para excursões escolares, podendo ser alugado para empresas e festas particulares.

"Vi muita gente contente. Chama atenção, as pessoas gostam”

Gilberto Sader, empresário

Por enquanto, o trem é meio fantasma. Isto porque, ainda bem pouco divulgado, não tem horários certos de circulação e o trajeto percorrido - “desde que haja demanda”, destaca Cênio - se resume a um bate-volta do Centro até Olaria pela Via Expressa, com embarque nas praças do Suspiro e Getúlio Vargas. Quem viu, viu.

Por que esse itinerário? “Fomos pegando o caminho mais fácil”, explica Cênio, ainda tão encabulado quanto o serviço que oferece. Por enquanto, as saídas ocorrem apenas aos sábados e domingos, a partir das 9h30 até o último passageiro. “Quando junta um grupo, partimos. Ainda não temos muito movimento”, justifica.

Natural de Cordeiro, o dono do Tchan da Alegria conta que recebeu autorização da atual gestão municipal, atendendo a todas as exigências, e trouxe a carreta, já adaptada, de Minas Gerais. O veículo é lento, trafega a pouco mais de 20 km/h. O bilhete custa R$ 10 por pessoa e a viagem dura geralmente 40 minutos. “Depende do movimento”, repete Cênio.

Trombada sonha trazer trenzinho de volta

Antecessor de Cênio na operação do serviço, Roberto Lima Jatobá, o Trombada, sonha trazer o nostálgico trenzinho Lilita de volta. Ele diz que está reunindo toda a documentação exigida pela prefeitura - como barra de proteção, seguro e cinto de segurança para os passageiros - para legalizar o trenzinho preto com chaminé que marcou a memória de gerações de friburguenses. Desde o ano passado, o Lilita está parado numa rua do Vale dos Pinheiros (foto).

Trombada relembra que sua ligação com o trenzinho vem desde os anos 70, quando ele era adolescente e o veículo, então chamado Trem da Alegria, com motor Chevrolet a gasolina, era pintado de vermelho e tinha bancos de madeira. Em 1981, agora preto e com locomotiva imitando uma Maria Fumaça, ele virou Lilita em homenagem à mãe do então proprietário. “Nesse tempo todo, nunca houve um só acidente”, orgulha-se.

Prefeitura prepara circuitos turísticos

Ouvidos por A VOZ DA SERRA, tanto o secretário de Turismo, Pablo Sprei, quanto o de Ordem e Mobilidade Urbana, Marques Henriques, acham que a cidade dificilmente comportaria dois trenzinhos, ainda por cima, concorrentes. Os titulares das duas pastas estão trabalhando num projeto conjunto e planejam anunciar, em breve, um serviço mais bem organizado, com horários pré-fixados e circuitos variados, incluindo paradas em hotéis e pontos turísticos diversificados como Furnas, Queijaria Suíça, Ponte da Saudade e Parque Juarez Frotté.

“Ainda vamos melhorar muito o serviço de trem turístico, fazê-lo parecido com o modelo utilizado em outras cidades do Brasil e do exterior, com paradas em vários lugares da cidade”, disse Marques, consonante com Sprei. Recentemente, a Secretaria de Ordem e Mobilidade Urbana (Smomu) reservou boa parte da margem direita da Praça Getúlio Vargas, junto à Feira de Artesanato, como parada exclusiva de ônibus de turismo, entre eles o Tchan da Alegria”. O espaço exclusivo é uma antiga reivindicação dos artesãos que trabalham no local (foto).

No Festival de Inverno,  jardineira “entupida de gente”

Um dos empresários mais conhecidos do Suspiro, Gilberto Sader é um dos que aplaudem o trenzinho, seja ele Tchan ou Lilita.  “Foi legal ver a Praça do Suspiro lotada de turistas no Festival de Inverno e a jardineira entupida de gente. Vi muita gente contente. Chama atenção, as pessoas gostam”, testemunhou ele. Sader acha o Tchan um pouco grande demais, o que o deixa muitas vezes ocioso, mas, ainda assim, “melhor do que nada”. Se o trenzinho era mais bucólico, na sua opinião, por outro lado a jardineira permitirá oferecer aos turistas circuitos maiores, como o Terê-Fri, com mais segurança.

Memórias do trenzinho...

Na década de 70, Nova Friburgo ainda não tinha tantos automóveis e veículos pesados circulando, e andar de carro era, de certa forma, ainda uma novidade para muitos, ou, no mínimo, privilégio de poucos. A Avenida Alberto Braune ainda era pavimentada com paralelepípedos e o trânsito seguia em mão dupla. A cidade ainda suspirava com saudades do trem, extinto na década anterior, em 1964.

Nesse contexto, o trenzinho surgiu. Era vermelho, com bancos de madeira, e não fora concebido para turismo, e sim como alternativa de lazer para as crianças, que embarcavam segurando casquinhas “japonês” e algodões doces de várias cores.

Aliás, friburguenses de todas as idades passeavam no trenzinho, já que as crianças nunca iam desacompanhadas. Às vezes ele servia para passeios de escola; em outras, para passeios de idosos como os abrigados do Laje. O trenzinho era um parquinho de diversões sobre rodas, ambulante. Bons tempos.

VEJA FOTOS DO ANTIGO DO TRENZINHO NA GALERIA ABAIXO:

 

 

 

  • O trenzinho vermelho, hoje parado numa rua do Vale dos Pinheiros (Foto: Henrique Pinheiro)

    O trenzinho vermelho, hoje parado numa rua do Vale dos Pinheiros (Foto: Henrique Pinheiro)

  • Alegria da criançada, como os alunos da creche Cantinho Feliz (Arquivo)

    Alegria da criançada, como os alunos da creche Cantinho Feliz (Arquivo)

  • O veículo era todo em madeira e dava a volta pelo Centro da cidade (Arquivo)

    O veículo era todo em madeira e dava a volta pelo Centro da cidade (Arquivo)

  • Excursão do Colégio das Mercês (Arquivo)

    Excursão do Colégio das Mercês (Arquivo)

  • Parado no Suspiro (Arquivo)

    Parado no Suspiro (Arquivo)

  • O Lilita em circulação: locomotiva iimitando Maria Fumaça (Arquivo)

    O Lilita em circulação: locomotiva iimitando Maria Fumaça (Arquivo)

  • Idosos do Laje embarcam para um passeio (Arquivo)

    Idosos do Laje embarcam para um passeio (Arquivo)

  • O Lilita hoje: parado numa rua do Vale dos Pinheiros à espera de legalização (Foto: Henrique Pinheiro)

    O Lilita hoje: parado numa rua do Vale dos Pinheiros à espera de legalização (Foto: Henrique Pinheiro)

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: Turismo
Publicidade