*Eugênio Maria Gomes
No ano de 1819, duas centenas e meia de famílias, provenientes, em grande parte, da cidade de Fribourg, na Suíça, chegaram a uma determinada área da região serrana do Estado do Rio de Janeiro, para ali fundar aquela que seria uma das mais belas cidades montanhosas do Brasil... A cidade de Nova Friburgo.
A antiga Fazenda do Morro Queimado, pertencente ao distrito de Cantagalo, tornou-se o palco para a criação da Suíça Brasileira, com suas belíssimas montanhas, seu clima agradavelmente frio e sua vegetação européia.
Nesses seus cento e noventa e poucos anos de existência, Nova Friburgo se esmerou na construção de suas praças, de seus chalés, de seus pontos turísticos. A cidade ficou ainda mais bela, mais hospitaleira, mais aconchegante.
Nesses seus cento e noventa e poucos anos de existência, Nova Friburgo abriu os seus braços para os filhos e netos dos imigrantes, para os filhos e filhos dos filhos de brasileiros advindos das mais diversas regiões do país... Nesse período de sua existência, a cidade teve aumentada em mais de cem vezes a sua população residente.
E foi essa gente toda, mistura de uma gama de raças e de crenças, que fez dessa cidade um lugar bom para viver, agradável para conhecer e fácil de apaixonar. Uma cidade cosmopolita, que recebe e abriga a sua gente e os seus visitantes.
Nova Friburgo da Cachoeira Indiana Jones, um canyon estreito, por onde corre um riacho de água límpida; dos três picos de Salinas, conhecidos como “Montanhas Fantasmas”...
Nova Friburgo das Cachoeiras, do Jardim do Nego... Cidade do Teleférico, das bromélias...
Nova Friburgo da Praça dos Suspiros!
No último dia onze de janeiro a cidade foi dormir como sempre fez, ano após ano, como um dos cartões postais mais bonitos do Brasil, sob a garoa que lhe confere, ainda, mais beleza...
No último dia 11, a população de Nova Friburgo, estimada em duzentos mil habitantes, foi dormir como sempre fez, ano após ano, acomodada em suas agradáveis e aconchegantes casas, sob a garoa que prometia uma noite tranquila...
Na madrugada do dia 12 de janeiro, a cidade e sua população foi acordada pela maior tragédia natural experimentada em toda a sua existência... Sobre Nova Friburgo se abateu a maior tragédia climática do Brasil.
O forte temporal da madrugada causou inundações, deslizamentos, desabamentos...
Naquela madrugada, os riachos de água límpida se transformaram em caudalosos rios de lama... Famílias inteiras foram arrastadas... Famílias inteiras foram dizimadas...
Muitos friburguenses, sequer, acordaram... Muitos outros acordaram debaixo de toneladas de lama, pedra, terra e árvores... Muitos acabaram por dormir de novo, o sono eterno dos justos... Muitos ainda continuam lá, adormecidos, esperando... Esperando...
O day after daquela madrugada apresentou ao mundo o triste saldo da tragédia: Quase quatrocentos mortos, entre eles muitas crianças, mulheres, idosos... De todas as crenças, de todas as raças, de todas as classes sociais.
A tragédia de Nova Friburgo dizimou barracos e mansões, trilhas, acessos, ruas de pedras e grandes avenidas asfaltadas...
Hoje, o Teleférico é um monte de ferro retorcido... Os riachos sucumbiram sob toneladas de terra... A Praça do Suspiro virou um mar de lama e de destroços...
A cidade de Nova Friburgo, assim como as de Petrópolis e Teresópolis, também fortemente atingidas pelas chuvas, irá se recuperar...
Sua gente é guerreira... As bromélias continuam lá... Os riachos voltarão a correr límpidos, sobre o chão de pedras...
A tristeza passará. Já a dor... Aprenderão, tão somente, a conviver com ela.
Porém, tão triste quanto essa e outras tragédias climáticas que tem ocorrido mundo afora é a insistente teimosia de muitos homens em não aceitar o fato de que temos uma imensa responsabilidade em tudo isso; negam o aquecimento global; pensam que o desmatamento da Amazônia e da nossa Minas Gerais não têm qualquer efeito sobre a tragédia dos nossos irmãos serranos...Procuram justificativas para que continuemos com um estilo de vida que está destruindo o meio ambiente e aumentando exponencialmente os efeitos nefastos dos fenômenos naturais.
Todos nós, também, de alguma maneira, somos responsáveis pelos filhos arrancados de suas mães, pelos pais soterrados, pelas crianças órfãs das serras sul fluminenses...
A desinformação, a omissão e o descaso também são muito tristes...
Tristes de doer!
* Eugênio Maria Gomes é Especialista em Marketing e em Gestão Empresarial, Mestre e doutorando em Administração, Escritor e Articulista, Professor e Pró-Reitor de Administração do Centro Universitário de Caratinga – UNEC. BLOG http://professoreugenio2010.zip.net .
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