Quem é friburguense e viveu na cidade nos anos 60 viu nascer uma das primeiras papelarias de Nova Friburgo: a Mercado dos Papéis. Talvez, por esse nome, seja difícil identificar de qual papelaria se trata, mas a palavra Tanajura certamente o fará lembrar. Fundada pelo português Antônio Joaquim da Cunha Santos e sua esposa, Diva Maciel Santos, em 1962, o estabelecimento foi criado para ajudar a suprir a necessidade de um local focado na venda de papéis, canetas e demais artigos do setor na cidade.
Antes de embarcar nesse mercado, porém, seu Antônio representava uma fábrica de tecidos na região e escolheu Nova Friburgo para viver. A aquisição do ponto onde estabeleceu o comércio, que permanece no mesmo lugar até hoje, se deu após o vendedor, que tinha 26 anos na época, conhecer o dono do imóvel. Com a vontade de atender a diversas necessidades da população, o português também resolveu investir em outros produtos e se tornou um dos principais representantes das pilhas National, sendo ainda um dos pioneiros a trazer a TV a cores para Friburgo, nos anos 70. Em seu auge, inclusive, a Tanajura chegou a ter mais duas filiais, uma na mesma rua da primeira loja e outra em Olaria.
Antes do Mercado dos Papéis, a cidade já possuía as papelarias União, em Olaria, e Simões, na Avenida Alberto Braune. Nenhuma das duas, entretanto, existem mais. Com os filhos adultos e seguindo suas carreiras profissionais, a Tanajura sobreviveu às constantes modernizações do mercado, ganhando diversos certificados por sua atuação na cidade, até os anos 2000, quando foi fechada devido ao adoecimento de seu Antônio.
A exemplo de diversos estabelecimentos, quando uma loja muda de proprietário, normalmente, muda-se também o foco comercial. No caso da Tanajura, porém, a tradição de vender produtos de papelaria permaneceu. Dentre os administradores atuais, inclusive, está um dos antigos funcionários de seu Antônio, Rafael Teixeira Guimarães, de 34 anos.
“Tivemos vários interessados na loja, mas passamos o ponto para o Rafael por ele ser um rapaz de muita confiança e amigo da família. Tínhamos certeza de que ele seria capaz”, afirma dona Diva, hoje com 80 anos”. “Trabalhei na Tanajura como balconista quando tinha 17 anos, entre 2000 e 2002, naquela época éramos quatro funcionários e a loja já estava sobrevivendo de forma devagar. Com o comércio, seu Antônio conseguiu investir em imóveis e conquistar uma boa estabilidade financeira e aí com a idade a vontade de manter o negócio acabou”, conta Rafael.
Em 2002, Rafael deixou o emprego de balconista com o objetivo de ter outras experiências profissionais, mas a amizade com a família Cunha dos Santos permaneceu. Seis anos depois, com 25 anos, lá estava o jovem Rafael voltando à Tanajura, dessa vez com a missão de reabrir o negócio.
“Nunca imaginei que estaria onde estou. A Tanajura ficou fechada por cerca de cinco anos, quando fui chamado para ser um dos novos sócios do estabelecimento. Continuamos nesse mesmo ramo para manter a tradição e por saber que Friburgo ainda era carente de uma papelaria completa. Foi um desafio e tanto. Foi preciso mudar a parte física da loja, devido à deterioração dos móveis, e começar o estoque do zero. Hoje vejo que foi uma loucura pegar tamanha responsabilidade, mas tem dado certo”, conta ele aos risos.
Quando reinaugurada, em 9 de abril de 2008, a papelaria também dividiu espaço com uma livraria evangélica, por isso o nome foi alterado para “Na Bênção”. Mas a mudança durou pouco tempo. Com a constante identificação das pessoas pelo nome original e a mudança de sócios, o estabelecimento voltou a se chamar Tanajura em 2009, sob a nova administração.
“O nome era muito forte entre a população. Quando reabrimos a loja, as pessoas chegavam perguntando se aqui ainda era a papelaria Tanajura, contavam histórias da época. E hoje ainda é assim. Identificamos direto a hereditariedade da loja. Pais e avós que chegam aqui com os filhos e netos contam que compravam aqui antigamente. Além disso, a papelaria é referência de localização, apesar de ter o nome de Rua Comandante Ribeiro de Barros, ela é conhecida como Rua do Arco ou ainda como Rua da Tanajura”, conta Rafael.
Quase dez anos depois, o jovem assume que o desafio continua: “Na época de seu Antônio existiam quatro tipos de capa de caderno no mercado, hoje é possível chegar a mais de cem. Por isso, um dos maiores desafios da atualidade é se manter ligado nas tendências para corresponder ao que os clientes procuram”, afirma.
O segredo para manter o negócio vivo, mesmo com tantas mudanças e uma economia desfavorável? “Trabalhar muito, conhecer o mercado e atender o cliente da melhor forma possível. Nós vamos além da venda, acompanhamos o cliente no pós-venda e isso impulsiona o negócio. Não sei fazer outra coisa a não ser vender. Eu e minha família vivemos disso, então a gente acaba respirando trabalho o tempo inteiro, faço propaganda do negócio até no posto de gasolina”, diz Rafael, que tem como sócia a mulher, Caroline Guimarães.
Além de materiais escolares, hoje a Tanajura também trabalha fornecendo produtos a escolas e empresas.
Tanajura: o porquê do nome
Conhecida inicialmente como Mercado dos Papéis, nos anos 70 a papelaria ganhou uma nova identificação. E não se engane pensando que a alusão a uma formiga foi proposital. O estabelecimento passou a se chamar Tanajura devido a um bordão utilizado por seu Antônio.
Foi graças à propaganda “Mercado dos Papéis: Tá na jura de vender barato”, que a população acabou juntando as palavras e apelidando a loja com o nome do inseto. Ou seja, o título que hoje faz referência à formiga, na verdade, era uma forma de expressão.
Aproveitando a popularização, Antônio criou uma campanha dentro das escolas estimulando as crianças a criarem um desenho da formiga, o melhor seria escolhido como mascote da loja. E aí, não teve jeito, o Mercado passou a se chamar Tanajura e hoje ainda carrega uma simpática formiguinha em sua logo.
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