Talvez, quem sabe?

segunda-feira, 12 de outubro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Maurício Siaines (*)

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2009. O anúncio foi feito na sexta-feira, dia 9 de outubro, pelo presidente do Comitê Nobel da Noruega, Thorbjoern Jagland, que justificou a escolha dizendo que “muito raramente uma pessoa com a influência de Obama capturou a atenção do mundo e deu às pessoas a esperança de um futuro melhor.”

O outro presidente dos EUA contemplado com o Nobel foi Theodore Roosevelt, que exerceu seus dois mandatos entre 1901 e 1909, e notabilizou-se pela política intervencionista na América Latina. É a ele que se deve a expressão big stick, literalmente, grande porrete, para designar sua política externa. Foi com ele que se forjou a Guerra Hispano-Americana, quando os EUA, com a justificativa de apoiar a independência de Cuba e das Filipinas, então ainda colônias espanholas, iniciaram sua expansão pelo Caribe e pelo Pacífico. Em suma, Ted Roosevelt não se notabilizou por uma diplomacia pacífica.

Obama parece ser diferente, ou, pelo menos, é o que se deseja em todo o mundo e o Prêmio Nobel não deixa de ser uma expressão desse desejo. O prêmio é um símbolo e o próprio Obama também é um símbolo de uma reviravolta dentro dos EUA, com sua grande tradição racista. Tradição que se manifesta nas ameaças diárias de morte que o presidente ainda recebe.

É cedo para se avaliar a profundidade da mudança que Obama pode significar, mas algumas atitudes suas apontam na direção de alguma esperança. Uma delas aconteceu muito recentemente, em 24 de setembro, quando ele presidiu uma reunião histórica do Conselho de Segurança da ONU, em que foi aprovada uma resolução pró-desarmamento nuclear. Além disso, ele tenta a via diplomática para resolver as questões nucleares do Irã e da Coreia do Norte, que, nos tempos obscuros de Bush, faziam parte do que este chamava de “eixo do mal”.

Se é verdade o que todo esse simbolismo indica, estamos começando a contrariar uma tendência de raízes históricas muito profundas. No mito grego clássico da Guerra de Troia já estava presente essa inclinação a atitudes implacáveis, que se faziam representar na ira do guerreiro semideus Aquiles contra os troianos e no duelo final entre ele e o herói troiano Heitor, onde o ódio e a violência são cantados.

Discutimos hoje a violência que toma conta de nossa vida social e precisamos lembrar que ela tem raízes muito antigas na alma da humanidade: a guerra faz parte quase inseparável daquilo que chamamos de civilização.

Na Ilíada, poema épico de Homero (séc. VIII a.C.), o escudo do Aquiles é descrito como sendo feito de metal. E na época em que poderia ter acontecido a guerra de Tróia, os gregos mal começavam a fazer uso da metalurgia, ou seja, não havia ainda uso disseminado de objetos de metal. Metais tinham pouco ou quase nenhum significado econômico, mas estavam presentes na guerra. No mito narrado pela Ilíada, o escudo e as armas de Aquiles foram forjados pelo deus Hefestos, não eram obra humana, o que reforça a ideia de que a metalurgia, de um modo geral não estava presente naquele mundo grego, não tinha significado econômico. Mas, como produto divino, tinha significado militar.

Do escudo de Aquiles de Homero, até os microcomputadores e a internet, parece que Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) têm confirmada sua hipótese de que as inovações tecnológicas atendem a uma demanda militar, antes de serem significativas economicamente.

A economia dos EUA, a que todo o planeta está, de um modo ou de outro, atrelado, teve sempre seus momentos de expansão com as guerras ou a preparação delas, e retração em sua falta. E mobilizadas por essa economia, todas as coisas que se fazem pelo mundo afora, com todas as bolsas, os mercados financeiros, os comentários dos analistas econômicos etc.

Pode ser que Obama, chefe do Estado mais poderoso militarmente que a humanidade já produziu, esteja sofrendo os efeitos da pressão mundial pela paz. Talvez, quem sabe? Tomara!

(*) Jornalista - mauriciosiaines@gmail.com

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