Luiz Gabriel Salim Ribeiro é mais um talento do futebol friburguense, que deixou o município ainda jovem para ganhar o mundo. O jogador de 24 anos começou nas divisões de base do Flamengo, ainda com dez de idade, onde permaneceu por algumas temporadas. A condição de destaque o levou à Seleção Brasileira nas divisões de base, e como consequência surgiu o interesse do Liverpool, da Inglaterra. Ainda cultivando o nome “Biel”, apelido de infância, chegou a vestir a camisa do tradicional clube inglês em 2009, onde permaneceu por três meses.
O atleta friburguense conviveu com grandes nomes da história dos “Reds”, tais como Steven Gerrard, Jamie Carragher e o técnico Rafael Benitez. No entanto, um entrave entre Flamengo e Liverpool fez com que a negociação não se concretizasse, e Gabriel – como agora prefere ser chamado - voltou para o Rio de Janeiro. Sem clima no rubro-negro da Gávea, acertou a rescisão de contrato e abriu caminho para começar a escrever uma nova – e bela – história no futebol europeu.
A primeira experiência no continente aconteceu quando ainda tinha 15 anos de idade. Um jovem, sonhador, mas já habituado com a pressão de defender um grande clube do futebol. A Associazione Calcio Bellinzona, da Suíça, foi o primeiro clube em terras europeias. O sucesso foi iminente e ilustrado pelo uso da camisa de número 10. Da Suíça, rumou para a Itália, onde atuou por seis anos, até esta temporada. Jogou pelo Genoa, clube importante da elite italiana, e na sequência rodou por times menores. Em 2018 defendeu o Campobasso, da terceira divisão. No último jogo do campeonato, entretanto, Gabriel sofreu uma lesão no ligamento do joelho esquerdo.
O atleta está em Nova Friburgo, e realiza o trabalho de fisioterapia na fase final de recuperação, enquanto aguarda a definição do futuro. A reportagem de A VOZ DA SERRA conversou com Gabriel sobre o início e o futuro da carreira. Para breve, ele não esconde a preferência de voltar a morar e jogar na Suíça.
A VOZ DA SERRA: Você começou a trajetória bastante cedo no futebol, ainda em escolinhas de Nova Friburgo. Quando e como foi esse começo dentro do esporte?
Gabriel: “Eu comecei na escolinha do Nova Friburgo Country Clube, com os professores Daniel e Fajardo, e depois fui para o Nova Friburgo. Lá, o Brandão (Diretor de Futebol) agendou um teste no Flamengo pra mim e para outros garotos da cidade. Quando cheguei e vi 200 garotos, pensei que não passaria. Tive a felicidade de, após dois treinos, o Flamengo pedir os meus documentos para me federar e permanecer no Rio.”
A oportunidade de defender o Flamengo, com a pouca idade, é um sonho de muitos garotos. Conte-nos um pouco sobre essa passagem pelo clube.
“Foi uma emoção muito grande defender as cores do clube para o qual eu torço, uma passagem muito marcante pra mim. No Flamengo eu fiquei seis anos, e dentre outras conquistas, eu fui campeão estadual invicto e da Taça BH juvenil em 2009. Com 15 para 16 anos, eu fui para a Europa.”
E como foi conviver, ainda muito jovem, com toda a pressão natural do futebol e ainda maior quando se joga em um grande clube?
“O lado bom é o do crescimento, porque você já tem pressão com 11 anos de idade. Se você não ganhar é cobrado. Uma vez perdemos aqui em Nova Friburgo para o Friburguense, por 3x1, voltamos para o Rio e três meninos foram demitidos. Então, foi bom para amadurecer como homem e jogador.”
Depois de se destacar no Flamengo e chegar à Seleção Brasileira na base, surgiu uma proposta do Liverpool. Você chegou a jogar no clube inglês? Por que não permaneceu por mais tempo na Inglaterra?
“Recebi o convite para jogar no Liverpool em 2009, e fiquei por seis meses na Inglaterra. Estava tudo certo para realizar o sonho de jogar num clube daquele tamanho, mas tive problemas com o Flamengo, que pediu uma quantia muito alta para a minha idade. O Liverpool não quis pagar, e foi uma decepção muito grande. Voltei pro Rio, mas a minha relação com o Flamengo ficou estremecida. Era um sonho meu ficar na Inglaterra.”
Com a relação estremecida, então, você buscou novos caminhos para a carreira...
“Na época, o meu irmão (Bernardo Ribeiro) já tinha saído da Inglaterra para jogar na Itália. E aquela foi uma época de transição no Flamengo, onde a Patrícia Amorim estava deixando a presidência e não havia muito comando na base. Não tinha mais como eu ficar, e pedi para ser liberado. O clube dificultou, quase brigamos, mas deu certo e tive a oportunidade de ir para a Suíça. Financeiramente foi bom pra mim e pra minha família.”
A Suíça não é dos maiores centros do futebol europeu, mas é um país desenvolvido e possui clubes que jogam competições importantes. Como foi a sua passagem por lá?
“Foi uma experiência muito boa, uma ótima vitrine. Cheguei com 16 anos, e ao jogar a primeira divisão de um país um pouco menor, já como profissional, toda a Europa observa. Não foi uma passagem tão vitoriosa, pois o objetivo do clube era sempre se manter na primeira divisão, que conta com apenas dez times. Mas as portas se abriram. Foram dois anos felizes, em um país de primeiro mundo. A qualidade de vida é fantástica. Fiz muitos amigos por lá, e tenho possibilidade de voltar na próxima temporada.”
Logo depois veio a proposta e o acerto com o futebol italiano...
“O Campobasso foi um recomeço de carreira pra mim, e tive uma temporada muito boa. Geralmente jogo de meia, mas nessa temporada atuei mais como ponta. Fui o jogador com o maior número de assistências no campeonato e alguns gols também. Infelizmente, no último jogo do campeonato eu tive uma lesão bastante séria no joelho. Já que eu teria que passar por uma recuperação, preferi voltar para o Brasil e ficar perto da minha família e amigos. No final do ano agora, em meados de dezembro, já volto a treinar.”
De forma até surpreendente, a Itália ficou de fora da Copa do Mundo deste ano. Você que acompanhou de perto toda essa decepção, como foi a reação do povo italiano?
“Muita gente na Itália disse que há muitos estrangeiros por lá, e por isso a Seleção ficou fora da Copa, pois sem os talentos italianos, eles tiveram que buscar em outros países. Foi um baque muito grande, e inclusive o presidente da Federação se demitiu. Houve uma renovação do futebol. Sempre houve uma mentalidade muito defensiva, e os torcedores reclamaram disso. A Itália não fez nenhum gol na Suécia na repescagem pra Copa. Eles gostam de futebol tanto quanto a gente. Nem os jogos do Mundial acompanharam direito.”
A Itália voltou a ficar em evidência através da Juventus, e a contratação do português Cristiano Ronaldo. Em sua opinião, o que isso representa nesse processo de resgate do futebol italiano?
“A chegada do Cristiano Ronaldo foi muito boa, pois o foco voltou para o futebol italiano. O Milan, a Inter estão dinheiro. Torço para dar certo, pois é um campeonato bom, tradicional. O Ronaldo pode atrair mídia e dinheiro para o futebol da Itália.”
Você nos contou que está quase recuperado da lesão no joelho. Quais os planos para o futuro próximo do Gabriel? Há propostas ou negociações em andamento?
“Com esse bom desempenho, começaram a aparecer algumas coisas boas pra mim, na própria Itália e na Suíça também. Essa lesão atrapalhou a definição do futuro, mas continuo mantendo contato com essas pessoas ainda. Tenho muita vontade de voltar para a Suíça, e inclusive o Bellinzona fez contato comigo. Se tudo der certo, gostaria de voltar pra lá. Mas primeiro tenho que focar na minha recuperação e estar 100% para definir o futuro.”
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