Taca e 2017: um ano para não esquecer

Premiado Grupo de Teatro Amador do Colégio Anchieta já presenteou a cidade com mais de 70 peças em 43 anos
sábado, 26 de agosto de 2017
por Guilherme Alt
Taca e 2017: um ano para não esquecer

O ator de teatro dá forma a diferentes personagens e histórias em cima de um palco. Aliás, o palco pode ser qualquer lugar. Um banco de uma praça, um caixote de madeira, um lugar de destaque acima, abaixo e, até mesmo, no mesmo patamar de sua plateia.

Sem microfone, sem tecnologia, só com o corpo e a voz. Gestos que transmitem uma mensagem direta a seu público, que transmitem emoções, que articulam e traduzem palavras não ditas. O ator de teatro é um artista completo.

No Brasil, as atividades teatrais começaram a ser praticadas no século XVI, para propagar a fé religiosa. Mas foi só com a vinda da corte portuguesa para o país, no Rio de Janeiro, que o progresso do teatro teve início, em 1808. João Caetano foi o ator que estimulou que os atores brasileiros tivessem uma formação, formando então, em 1833, uma companhia brasileira para o ensino desta profissão.

Em Nova Friburgo, o Teatro Amador do Colégio Anchieta (Taca) há 43 anos emociona o público friburguense. Aliás, emoção é o que não faltou no meu reencontro com este templo centenário da arte cênica friburguense. Pelos palcos do Taca passaram inúmeras gerações de estudantes talentosíssimas. Jane Ayrão, diretora do Taca desde 1998, afirma que 2017 tem sido o ano do Taca.

“Tudo começou em 1974, com Arnaldo Miranda juntamente com Padre Paiva. Imagino que tenha sido muito difícil no começo. Por aqui passaram grandes diretores como David Massena e Plínio Alvim Padilha. Há um envolvimento muito grande da escola com o nosso grupo, principalmente agora, em 2017. No início do ano o Taca recebeu o prêmio Heloneida Studart (instrumento de reconhecimento e estímulo às boas práticas culturais), indicação de um grande amigo nosso que é o Wanderson Nogueira. Foi maravilhoso e muito importante para a garotada do Taca. Sem dúvidas foi tudo muito mágico.  Quando recebemos o prêmio as pessoas gritavam ‘Friburgo, Friburgo’, eu nunca tive tanto orgulho de pertencer a essa cidade.”, conta a diretora.

De acordo com Jane, o Taca tem, atualmente, 150 alunos, de seis a 19 anos. O palco centenário do Teatro do Colégio Anchieta já viu mais de 70 peças. São 512 lugares, mas com capacidade para até mil espectadores — e que possui jirau, espaço para coro, palco de madeira, praticável acarpetado e pano de boca original de sua inauguração. As encenações, na maior parte das vezes, contam a vida e a obra daqueles que ajudaram o desenvolvimento de Nova Friburgo, seja no campo social, econômico e/ou cultural.

Uma delas, inclusive, responsável por contar a história da passagem do trem, em Nova Friburgo, é escolhida por Jane como uma das peças mais marcantes. “‘Nos Trilhos do Trem – Uma Loucura Friburguense’ foi marcante. Relatamos histórias incríveis. Foi muito bonito contar a última passagem do trem, pela cidade. Eu nunca vi tanta gente chorando”.

De fato, tinha muita gente emocionada nesse dia. Eu estava lá, e vi do palco a emoção das autoridades políticas, eclesiásticas e de centenas de pessoas. Fazer parte do Taca é viver na pele o real significado da palavra “amador”. É quem ama, quem por pura paixão decide se entregar a uma experiência fantástica, sem qualquer fim lucrativo e sem saber que o lucro não vem pela moeda, vem pela experiência e pela riqueza de transformar letras impressas em gestos e falas. E assim fui eu, dos 11 aos 15 anos, diante de centenas de pessoas, por vezes falando sozinho com um “amigo invisível”, no palco. Voltar ao teatro 15 depois, agora jornalista formado, foi como fazer uma viagem no tempo. Dizem que não existe máquina do tempo, mas como explicar aos céticos que a visão perfeita de mim mesmo há 15 anos, pisando pela primeira vez e ensaiando as primeiras falas foi apenas uma mera lembrança? O Taca não é mais o mesmo, é melhor. Graças a uma geração de talentos que pude ver ao vivo, ao acompanhar uma tarde de ensaios da próxima montagem. Vale a pena conferir “Geração Bendita”, escrita pelo cineasta Carlos Bini, que conta a história da passagem dos hippies por Nova Friburgo. A peça está prevista para estrear dia 6 de outubro.

Em setembro, Karen Erthal e Beatriz Pollo, duas alunas do Taca de 16 e 17 anos, respectivamente, foram convidadas para representar o Brasil no evento “Poeiras”, em Portugal. O festival de poesias de Oeiras, vila portuguesa com pouco mais de 170 mil habitantes, é dirigido pelo profissional de teatro António Terra. As meninas estão ansiosas pela viagem e creditam às artes cênicas a oportunidade de crescimento pessoal. “Teatro é uma arte libertadora e que permite que você se descubra. Quando a gente sobre no palco todos os problemas são deixados de lado. Você se entrega ao personagem. Estamos muito ansiosas para viajar, vai ser um ganho enorme para nossas vidas. Vamos aproveitar cada minuto”, afirmam as estudantes.

Karen e Beatriz vão encenar um texto escrito pelo ator e ex-aluno do Taca, Bernardo Dugin. “Quem ainda não conhece o Bernardo escritor, vale a pena. É um texto sensacional. Além disso, o figurino que será usado em Portugal é uma criação do estilista Virgilius, com confecção de Dulcineia Baião e um figurino todo pintado em aerografia, por um grande artista de Friburgo que é o Diego Storck”, finaliza Jane Ayrão.

 

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