(SECOM) Se computadas, desde os primeiros momentos da recepção aos dois comboios, desembarcados na madrugada e na manhã da última sexta-feira, 16, são mais de cem horas. Ou seja, foram cinco dias de convívio fraterno, amigo e camarada. Na viagem de volta para casa, mais do que lembranças, imagens gravadas na retina ou mesmo em suas máquinas fotográficas e filmadoras, os suíços levam a renovação de uma grande amizade, um entrosamento de três décadas. Aos que ficam, além do sentimento de esperança, o contentamento por ter revisto primos distantes, mas ambos povos ainda dividem uma missão: rumo ao futuro próximo – já faltam menos de nove anos – do bicentenário friburguense. En route vers les 200 ans (Encontro rumo aos 200 anos), que não é apenas um título, mas um compromisso de grande importância.
Da recepção – tanto na manhã quanto à noite de sexta – a cada um dos momentos da programação, seja no animado cortejo da manhã de sábado, em que a mescla de cultura, artes e tradições dos dois países e a mistura das cores brasileiras e suíças, emoldurou o verdadeiro sentido da irmanação entre esses dois povos. Do almoço na paradisíaca Fazenda Campestre, num cenário típico tal como se estivéssemos todos nos Alpes, de repente transpostos para os trópicos, a cada um dos momentos de música, lazer, divertimento. Tudo, cada um dos programas foi de grande emoção, mas sobretudo de reflexão também: que fenômeno será este da aproximação de toda essa gente.
Momento de fé: emoção em missa no Teatro
Além de toda a fé, no momento emocionante em que o Teatro Municipal de Nova Friburgo, na praça do Suspiro – como num batismo – pela primeira vez abrigou a celebração de uma santa missa. E mais que isso, uma celebração atípica. A missa cantada, boa parte em francês, acompanhada pelo coral suíço Rosa Nova.
E ainda do empolgante domingo de um verdadeiro carnaval cultural do Encontro Folclórico História e Tradições, que fez das praças Dermeval Barbosa Moreira e Getúlio Vargas, a um só tempo, espaço de arte e encantamento. Como se fora o grande mar, o oceano que nos separa, ao mesmo tempo ali simbolicamente nos juntando.
Da linguagem universal da música, os concertos nas noites de sábado, 18 e domingo, 19 – ambos no Teatro – respectivamente com a Euterpe Friburguense e a Brass Band de Treyvaux e da Campesina com a La Gérinia de Marly, foram dois momentos também muitos especiais. Históricos para as agremiações musicais e para todo o contexto dos encontros e mesmo de todo o intercâmbio.
Dois povos, um só coração
Também as viagens, na segunda-feira, 19, das respectivas caravanas à Tanguá, Santa Maria Madalena e Cantagalo, além do grupo que visitou o quinto distrito friburguense, Lumiar, e embora estivesse previsto, mas não foi possível ir a São Pedro da Serra, por causa da chuva forte, que no entanto não impediu o programa na Ação Rural lumiarense, com centenas de estudantes das escolas rurais do Município e com apresentação de teatro do grupo da Sociedade Musical Euterpe Lumiarense, brindada ainda com apresentação da Bras Band de Treyvaux.
Foram vários os momentos especiais deste VI Encontro Suíço-Brasileiro, na comemoração dos 30 anos da Associação Fribourg-Nova Friburgo – elo de um intercâmbio duradouro e promissor – que ainda repercutirá por muito tempo na lembrança de cada um. E, sobretudo para dois povos, duas cidades, mas com um só coração.
Uma história de amor por Nova Friburgo
Martin Nicoulin, símbolo das três
décadas de união dos dois povos
Um dos últimos remanescentes dos pioneiros da integração - Pierre Kealin, Ariosto Bento de Mello e René Louis Rossier são falecidos - o suíço do canton de Fribourg Martin Nicoulin, mas como um autêntico brasileiro e mesmo friburguense, há 30 anos é um dos principais responsáveis pelo sucesso dos encontros suíço-brasileiros. Com seu jeito excêntrico, que já abandonou o famoso paletó listrado (hoje peça de museu, doado à Casa Suíça), mas mantém o jeito irreverente, quase tropical, que, por exemplo, exibia durante boa parte deste encontro o sapato vermelho de camurça, mesmo contrastando com o terno de cores neutras. “Me sinto um pouco vovô desta aventura”, conta Martin, que em meado da década de 1970 concluiu sua tese La Génese du Nova Friburgo, transformada em livro anos mais tarde (vertido para o português em 1995). O trabalho, resultado de vários anos de pesquisa na Universidade do Canton de Fribourg, deu início a todo o movimento de integração e irmanação das duas cidades.
Para tanto, em 1966, Nicoulin morou por seis meses no Rio de Janeiro e Nova Friburgo, iniciando os estudos sobre a imigração para o município. E, português perfeito, mesmo sob retocado sotaque, ele revela ser um apaixonado pela cidade brasileira que o adotou: “me sinto muito emocionado em ver o Brasil crescer, se desenvolver, e Nova Friburgo está seguindo este exemplo. Temos – porque me sinto um pouco friburguense também – muita sorte em estar preparando esta cidade para os seus 200 anos. Criei um carinho fraterno por este lugar, desde que estive aqui pela primeira vez; e esta cidade será amiga para sempre”, confessou, emocionado.
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