Suíça—o Pacto Nacional que deu certo

terça-feira, 31 de julho de 2012
por Jornal A Voz da Serra

Oscar Boëchat Filho

A história dos povos, consagrada ao longo de séculos, frequentemente foi marcada com edificantes exemplos de homens e mulheres que mereceram reconhecimento em razão de nobres causas que abraçaram. Suas ideias e reflexões, sazonadas pelo tempo, eram então colocadas nas mesas de negociação com a chancela de seus líderes e com o indispensável timbre da credibilidade. Assim, foram organizadas sociedades que buscavam espaço para desenvolver e estimular a convivência fraterna. Bandeiras foram desfraldadas pela solidariedade com a dor do próximo. Nações foram edificadas.

Um exemplo de que a história nos dá conta ocorreu há 107 anos em Chicago. Um jovem advogado, Paul Percy Harris, dotado de incontida vocação para a liderança, reuniu-se com três amigos de diferentes profissões e, através do entendimento, estabeleceu as bases sobre as quais estruturou uma sociedade com o objetivo inicial de promover a boa-vontade e a convivência fraterna. A força das ideias e a união em torno de nobres princípios atuaram de forma preponderante e transformaram os Rotary Clubs em poderosa alavanca acionada no mundo todo por 1 milhão e 300 mil associados, através da Fundação Rotária. Pela nobre causa da solidariedade humana.

Um pouco mais distante no tempo, pela metade do século XIX, o suíço Jean-Henri Dunant registrou, emocionado, os exemplos de solidariedade demonstrados por Florence Nightingale, nos sangrentos campos de batalha da Crimeia. Inspirado pelas ações corajosas e heroicas dessa notável enfermeira inglesa, Jean Dunant estruturou, em 1864, a Cruz Vermelha Internacional. Foi através do entendimento com lideranças mundiais, por iniciativa sua, que a Cruz Vermelha se consolidou como entidade forte, respeitada e sobretudo amada nos seis continentes.

O entendimento também edifica Nações. Há mais de sete séculos, no distante ano de 1291, quando agosto chegava, três comunidades da Europa Ocidental—Uri, Schwyz e Unterwald—selavam a aliança e firmavam o compromisso, prosaico em sua forma, solene em sua determinação, de velar pela tranquilidade e o bem-estar de seus habitantes.

O Protocolo de Entendimento preliminar, desprovido de sofisticados recursos jurídicos, constituiu-se, em sua concepção mais simples e ressalvada a escala, em algo assim como a minuta de uma Associação de Moradores ou como o texto incipiente de uma Convenção de Condomínio. Projetivamente, porém, resultou no Documento primeiro que instruiu a constituição e alicerçou os fundamentos de um Estado Democrático, a Confederação Helvética, inspirado no postulado de liberdade, em época quando dinastias radicais se expandiam e procuravam cristalizar-se. A Suíça, hoje com 27 cantões consolidados, é exemplo de um Pacto Nacional que deu certo, não obstante a recorrência a quatro idiomas e a alguns dialetos na busca do entendimento para selar aquele solene compromisso de 1291.

Ao redor do mundo, neste 1º de agosto de 2012, centenas de milhares de companheiros rotarianos certamente estarão reverenciando o Pavilhão da Suíça na celebração de sua Data Nacional. Com a mente, o coração e o espírito voltados para a consecução do bem comum, através da poderosa força do entendimento.

Oscar Boëchat Filho é sócio do Rotary Club do Rio de Janeiro

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