Márcio Madeira da Cunha
A primeira impressão não é das melhores. Para ter acesso ao bairro Solares II, o motorista que vem da RJ-130 precisa cruzar a Rua Dr. Benedito Feliciano da Costa, trafegando brevemente pela contramão. A situação, além de provocar retenções ao trânsito em horários de maior movimento, representa também um risco contínuo às mais de mil pessoas que ali residem. “Nos horários de pico, o trânsito fica muito lento sim. Além do cruzamento, a rua também é estreita e não comporta a passagem de dois ônibus ao mesmo tempo. Mas essa é uma situação difícil de resolver, e felizmente não me lembro de nenhum acidente mais sério nesta entrada não. As pessoas já se adaptaram”, afirmou José Carlos, morador do loteamento.
Seguindo através da Rua Norberto Alves da Rocha, única via de acesso ao bairro, chama atenção a quantidade e a profundidade dos buracos, tanto nos trechos asfaltados quanto nas partes em paralelepípedo. O fluxo de veículos, que já seria naturalmente difícil em meio a ruas tão inclinadas e sinuosas, torna-se muito mais sacrificante e perigoso com o péssimo estado das vias. É este o mais grave problema do bairro, conforme explica Amantino de Melo, mais conhecido como “Paulista”, diretor da associação de moradores. “Esses buracos são o pior problema que nós temos aqui atualmente. Nós já reclamamos muitas vezes, e é uma situação perigosa, porque os motoristas acabam andando na contramão para desviar dos piores lugares”, explicou.
O caminho, no entanto, surpreende. Justamente num dos trechos mais esburacados, o motorista é subitamente brindado com um dos mirantes mais bonitos de Nova Friburgo, oferecendo um ângulo inesperado das Duas Pedras. A rigor, a vista é tão limpa que chega a ser uma pena a inexistência ali de um local para estacionar o carro, ou de alguma estrutura de apoio ao turismo.
Alguns metros após o mirante surge o bairro propriamente dito. De imediato chama atenção a nova quadra poliesportiva, anexa à creche Solares e em fase final de construção. Bem perto dali, na Rua Lo Bianco Pasquale, uma encosta está cheia de lixo. “A coleta é feita três vezes por semana. Gostaríamos que a frequência fosse maior”, comenta Paulista.
No que se refere ao abastecimento de água, alguns detalhes também precisam melhorar. “A água chega dia sim, dia não. Em meados de março nós tivemos problemas, ficamos cerca de quinze dias sem água. A situação agora se normalizou, mas o reservatório, que fica próximo ao ponto final do ônibus, foi construído quando havia muito menos moradores. Hoje ele é insuficiente e precisaria ser ampliado.”
E por falar em ônibus, como é a questão do transporte público? “Nós temos ônibus de hora em hora, com algum reforço nos horários de maior movimento. Gostaríamos que fossem mais, mas a empresa alega não ter carros nem pessoal suficientes. O último carro sobe aqui às 22h30, e quando desce já vai direto para a garagem. Quem vai para Duas Pedras ainda consegue descer, mas quem vai para o centro precisa ir antes disso”, explica Paulista.
Acesso, transporte, água, lixo... Em meio a tantas esferas que precisam ser aprimoradas, ao menos um ponto parece não incomodar aos moradores do Solares: a violência. “Nós já tivemos alguns problemas aqui, como qualquer lugar. Mas já faz tempo e o bairro hoje é um local muito tranquilo. Diversos policiais moram aqui, e todo mundo se conhece. Quanto a isso não temos do que reclamar não”, comentou o diretor da associação de moradores, encerrando a visita ao bairro.
No fim, a imagem que fica é a de um lugar marcado por contrastes. Um dos mirantes mais bonitos da cidade, incompreensivelmente isolado por um acesso precário e uma rua sinuosa e cheia de buracos. Um bairro tranquilo, onde todos se conhecem e gostam de viver, mas que ao mesmo tempo sofre com problemas de solução relativamente fácil. Um reservatório maior no topo da montanha, uma coleta de lixo que seja feita com maior regularidade, horários de ônibus mais amplos e menos espaçados... Nada, enfim, que seja pedir demais para um universo de mais de mil moradores, compreensíveis o bastante para terem se adaptado ao risco de trafegar todos os dias pela contramão, no caminho de volta para casa.
Prefeitura fala sobre problemas do bairro
Com relação ao acesso ao bairro Solares II, a Autran informou que a situação na referida via é decorrente dos vários carros parados em local proibido, o que causa um estreitamento da rua. Agentes da Autran já estiveram no local e notificaram os veículos. Se os proprietários não retirarem os carros dentro do prazo estipulado nas notificações, serão multados. Quanto aos buracos na via, a Secretaria de Obras afirmou que está ciente, e que já está acontecendo em toda a cidade uma operação tapa-buracos. Solares II está incluído na programação e dentro de pouco tempo a questão será solucionada.
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