Eloir Perdigão
Logo na chegada do Solares I se percebe que o loteamento foi muito castigado pela tragédia climática de janeiro passado, quando foi atingido pela águas do Córrego Dantas e uma barreira. Cinco meses passados, o que foi feito em termos de melhorias se deve à ação dos próprios moradores. Na rua principal, a Renato Arnaldo da Silveira Lopes, a ponte ficou sem os guarda-corpos. As cabeceiras foram aterradas pelos moradores para restabelecer a passagem dos veículos. Nesta mesma rua, na subida para o Solares II, um enorme buraco continua aberto. Foi feito um desvio, e só. Na Rua Aristides José Pereira moradores ainda retiram terra da barreira manualmente, com enxadão, pá e carrinho de mão. Um serviço que parece não ter fim, próximo à ponte de acesso a São Geraldo que, segundo os moradores, também está com a estrutura abalada. E o que é pior: com tráfego de veículos liberado.
Os moradores reclamam do buraco da Rua Renato Arnaldo da Silveira Lopes, bem no meio do caminho. Quando chove o problema é a lama e quando faz sol, poeira. O buraco — grande e fundo — parece estar aumentando, pois a água vai escavando por baixo e já ameaça a propriedade em frente. Veículos maiores, como o ônibus, passam com dificuldade. A maior reclamação do morador Wellington Rodrigues da Silva é com relação ao abandono do caso pelas autoridades.
ENCHENTE E BARREIRA – Situação pior vivem os moradores da Rua Aristides José Pereira, local duramente atingido tanto pela enchente do Córrego Dantas, quanto por uma grande barreira. Foi preciso fazer um buraco num muro com marreta, no maior desespero, para que alguns moradores escapassem para a casa de um vizinho.
É o caso de Aline da Silva Debossan, que viveu este drama com seus filhos de 4 e 2 anos, a mãe Rosana e o irmão Vítor, juntamente com mais 12 pessoas, incluindo uma mulher grávida de oito meses e outra com filho recém-nascido. Isso às 4h, sem luz, na maior escuridão e muita chuva. Ficaram abrigados na laje do vizinho. Depois, traumatizados e com medo, com qualquer chuva corriam para os vizinhos.
Aline cita que no dia da tragédia contou 12 carros boiando no rio próximo de casa, além do desbarrancamento da rua e os paralelepípedos amontoados. E assim permanece. Ela e seus familiares nem estão morando no local, onde vão apenas para cuidar da limpeza e arrumar o que sobrou, já que foram muitas as perdas, entre móveis e eletrodomésticos.
MAIS PERDAS – Reni Silva de Souza sofreu tanto com a enchente quanto com a barreira. Além de perder oito mil quilos do seu ferro-velho, ainda perdeu um caminhão e uma caminhonete. Um prejuízo e tanto. Ela mora há 50 anos no local e garante que nunca havia visto nada igual.
A enchente arrancou árvores e uma soqueira de bambu junto ao ferro-velho. Ela e os vizinhos viram dois carros sendo arrastados com pessoas gritando por socorro. Alguns ainda tentaram jogar uma corda, mas não conseguiram salvá-los.
SITUAÇÃO DE ABANDONO - A casa de Reni não foi atingida pela enchente, mas pela barreira. E está interditada em meio a muita terra que desceu da encosta. De acordo com a moradora, até hoje nenhum órgão governamental ajudou em nada. Um sobrinho havia alugado uma retroescavadeira para melhorar um pouco a situação ao redor, mas técnicos da Defesa Civil embargaram o equipamento.
Em função disso, o trabalho de retirada de terra está sendo feito até agora na mão, com enxadão, pá e carrinho de mão. No dia da tragédia, Daniel Silva de Souza, filho de Reni e que tinha a mulher grávida de oito meses, acordou parentes e vizinhos com o rio já transbordando, barreira, muita chuva e lama para todo lado. No auge do desespero, Daniel lançou mão de uma marreta e quebrou o muro para que todos pudessem se salvar passando para a casa do vizinho. Só enxergavam com os relâmpagos, que não paravam. Até a grávida e outra mulher, com filho de 12 dias escaparam por esse buraco.
Mesmo com a recomendação da Defesa Civil para que deixassem o local, permaneceram na casa do vizinho por três dias. Depois, quando puderam sair, foram para casa de parentes e amigos. Atualmente moram no Cordoeira e Bairro Ypu, com auxílio do aluguel social, mas externam preocupação para o fim do prazo de um ano, sem saber se terão a situação resolvida quando expirar esse prazo. E lamentam não terem mais condições financeiras para refazer as casas.
No Solares I os próprios moradores refizeram a Rua Renato Arnaldo da Silveira Lopes nas cabeceiras da ponte, se cotizando no aluguel de um trator. O mesmo foi feito na Rua Aristides José Pereira, pelo menos para juntar os paralelepípedos espalhados.
AJUDA QUE NÃO CHEGA – Os moradores do Solares II continuam esperando por ajuda governamental. Esperam que a Prefeitura retire a terra deixada pela barreira e conserte as ruas. Reni afirma, inclusive, que a ponte de acesso a São Geraldo, de 54 anos, situada próximo de sua casa, está com a estrutura abalada e ameaça cair. Segundo ela, há promessa do governo estadual de refazê-la, mas somente quando for acertado o barranco que originou a barreira. A moradora diz que a ponte da Rua Renato Arnaldo da Silveira Lopes também terá de ser refeita.
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