POR ANGELA PEDRETTI
No alto da montanha, respirando o ar fresco da mata atlântica que cerca as instalações da Origem, incubadora de empresas da Uerj em Nova Friburgo, Paulo Mangia, um dos sócios da Carbono Bom, empresa especializada em softwares e soluções ambientais, concedeu entrevista exclusiva para A Voz da Serra falando das possibilidades que o mercado da sustentabilidade apresenta e o que pode trazer em termos de vantagens, benefícios e desenvolvimento para Nova Friburgo.
Para quem ainda está tateando no escuro, aí vai uma luz: sustentabilidade é um termo amplo, que se aplica a todas as atividades humanas. Trocando em miúdos, significa prover o melhor para as pessoas e para o ambiente, tanto no presente como no futuro.
E não dá mais para ignorar: todos têm a sua parcela de responsabilidade quando o assunto é meio ambiente. A boa notícia fica por conta de que indivíduos ou empresas podem se valer de algumas ações e melhorar a vida do planeta, começando pela própria cidade. E esta é a proposta da Carbono Bom.
A VOZ DA SERRA - A Carbono Bom é mesmo boa para Nova Friburgo?
PAULO MANGIA - Sim, e muito. Primeiro, a base da empresa é Friburgo, isso traz divisas, visibilidade e desenvolvimento. A segunda boa notícia é que a Carbono Bom permite às empresas, incluindo-se as locais, aderirem a programas de sustentabilidade, preservação e melhoria ambiental. O software permite o levantamento do passivo ambiental de uma determinada entidade, empresa, poder público, o cadastramento das áreas degradadas, o ajuste de recuperação nesta determinada área degradada e o fornecimento de um selo Carbono Free.
A VOZ DA SERRA – Há muita informação nesta resposta, vamos entender isso melhor, por partes: o que é exatamente passivo ambiental?
PAULO MANGIA - Tudo que consumimos, quer seja em serviço, quer seja em produtos, custa ao meio ambiente. É premissa do software da Carbono Bom mapear todos os processos e descobrir qual o custo ambiental dos produtos ou serviços. Esse custo é o passivo ambiental. É um passivo que todos nós temos, empresas, pessoas, entidades...
A VOZ DA SERRA - Você mencionou também o cadastro de áreas degradadas. Não se pode fazer o mapeamento?
PAULO MANGIA - Pode-se e iremos, mas, como começamos a conversa por Friburgo, isso não é mais preciso. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente tem hoje o mapeamento de todas as áreas degradadas. Que eu saiba, é uma das poucas cidades no Brasil com esse excelente trabalho. Então, nas ações locais basta cadastrar, pois o trabalho feito pelo Roberto Viana, secretário, está impecável.
A VOZ DA SERRA – E o selo Carbono Free, como é isso?
PAULO MANGIA - As empresas precisam de diferenciais; os consumidores estão mais preocupados com sustentabilidade, em deixar um legado de que não possam se envergonhar; a natureza está próxima de sua curva máxima de reversão, daqui a pouco será uma questão de adiar a degradação total... Precisamos fazer algo. Assim, esta é mais que uma tendência de mercado, já é uma realidade de mercado preservar.
A VOZ DA SERRA - Este selo é, portanto, uma espécie de prova pública para a empresa que o possuir de que ela compensa todo o impacto ambiental de sua produção em natureza?
PAULO MANGIA - Sim, comprova que seus processos foram estudados, evitando-se desperdício, dano ambiental, e que o custo ambiental indispensável à produção foi quitado, através de iniciativas rastreadas, capazes de zerar seus impactos.
A VOZ DA SERRA - E a escolha? A empresa tem vantagem na escolha?
PAULO MANGIA - A resposta é simples: há dois produtos na prateleira: um cuida e preserva, o outro só tira e pega para si. Qual deles você e o resto do mundo escolheriam? Daremos essa escolha. Outra grande vantagem é que quem está entre os primeiros se beneficia de novo em poder se posicionar como uma empresa que respeita e cuida do mundo, da natureza, diferente daqueles que o farão depois, que serão apenas os que foram obrigados.
A VOZ DA SERRA - E Nova Friburgo se insere neste contexto?
PAULO MANGIA - Claro! Uma grande vantagem deste projeto é o foco. Estamos focados nas pequenas e médias empresas, e no poder público também. Quanto vale um município que cuida de seu passivo ambiental? Quanto de mídia gratuita pode render estar entre os primeiros ou, quiçá, ser o primeiro? Isso tem a ver com uma pegada turística? Uma cidade-parque se faz com zero de carbono? Em Nova Friburgo temos um polo metal-mecânico, temos empreiteiras e construtoras locais fortes, temos fábricas de lingerie de atuação nacional e até internacional... Somos uma empresa friburguense e queremos, sim, começar por aqui! Pense no valor que essas empresas ganham nas escolhas, nos diferenciais positivos perante todo o resto? E o melhor é conseguir isso fazendo o bem.
A VOZ DA SERRA - Como começou tudo isso?
PAULO MANGIA - Mercado! O mercado já mostrou que veio para ficar. Queremos ganhar com isso e queremos todos ganhando. É incrível isso neste mercado, tudo o que se faz beneficia a cadeia, isso é um círculo virtuoso! Todos ganham, nós, da Carbono Bom, as empresas clientes e os consumidores destes clientes. O mundo ganha!
A VOZ DA SERRA - A Carbono Bom ganhou o Prime, não é verdade?
PAULO MANGIA - Desenvolvemos um projeto cuidadoso, submetemos a Origem à incubadora de empresas da Uerj, campus Friburgo, e concorremos ao Prime, um projeto da BioRio e Finep, do Ministério da Ciência e Tecnologia, focado em gestão. Fomos escolhidos e estamos em pleno trabalho! E não é pouco, não! (risos)
A VOZ DA SERRA - Como esse software funciona?
PAULO MANGIA - Em plataforma WEB, ou seja, de qualquer lugar do mundo se pode acessar. Nós podemos fazer a inclusão de dados, o cliente pode verificar seu passivo ambiental acumulado, seu saldo, o consumidor pode rastrear as ações, ver o quanto a empresa que ele escolheu já sequestrou de carbono, e até fazer simulações de quanto ele, consumidor, já evitou de desgaste para o planeta. É a materialização do seu cuidado.
A VOZ DA SERRA - O Brasil está atrasado nesta questão?
PAULO MANGIA - O mundo anda acelerado, então, os delays são cada vez menores. A Europa já exige isso em muitos casos, os EUA também. No Brasil a exigência existe em pequenas ilhas da iniciativa privada, mas, como já disse, o consumidor começou a fazer suas escolhas. Melhor estar dentro do que fora, e isso já é uma realidade.
A VOZ DA SERRA - O que se pode esperar da Carbono Bom agora?
PAULO MANGIA - Esperamos trazer empresas locais e poder público para essa cultura e realidade de mercado, proporcionando redução de custos e de danos ambientais, através do redesenho dos processos, e um alinhamento com o tempo social em que vivemos e com as necessidades ambientais, que são urgentes. Temos o entendimento, a certeza de que nossa região terá seu potencial turístico multiplicado com isso e os produtos aqui gerados terão preferência nas prateleiras aonde forem disponibilizados, aqui no Brasil e no mundo.
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