Sobre o Ideb: metas e riscos

segunda-feira, 20 de agosto de 2012
por Jornal A Voz da Serra

Ricardo Lengruber Lobosco

Os resultados do Ideb 2011 divulgados nos últimos dias revelam dados interessantes sobre a Educação no Brasil, mas, em especial, em Nova Friburgo.

Para as classes dos Anos Iniciais (1º ao 5º ano do Ensino Fundamental) a meta de 5,4 foi alcançada exatamente. De 4,9, em 2009, houve o avanço para 5,4, em 2011. Para as séries dos Anos Finais (6º ao 9º ano do Ensino Fundamental) a nota média alcançada foi de 4,4, em 2009, para 4,5, em 2011, quando a meta seria de 4,6.

As notas mostram como houve esforço de professores e coordenadores. Revelam que nossa rede de ensino tem profissionais verdadeiramente dedicados e competentes. Professores que cumprem seu papel digna e eficientemente. 

Os números, vistos secamente, representam avanço e melhoria. Mas, por outro lado, números precisam ser lidos à luz da realidade que pretendem representar. Números são símbolos. A realidade a que se referem é que deve ser compreendida mais detalhadamente. Além disso, médias escondem extremos e, exatamente nos extremos, é que moram os riscos do erro e da generalização.

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado em 2007 para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino. O indicador é calculado com base no desempenho do estudante em avaliações aplicadas pelo Inep e em taxas de aprovação. Assim, para que o Ideb de uma escola ou rede cresça é preciso, segundo o Ministério da Educação, que o aluno aprenda, não repita o ano e frequente a sala de aula.

Além disso, segundo o protocolo de trabalho do MEC, o índice é medido a cada dois anos e o objetivo é que o país, a partir do alcance das metas municipais e estaduais, tenha nota 6 em 2022—correspondente à qualidade do ensino em países desenvolvidos.

Nisso tudo, é preciso ter claro que o Ideb não é um fim em si mesmo, mas um instrumento para mensurar a situação da rede de educação num dado momento. Não se pode supor que uma prova, realizada numa data, atrelada a dados de aprovação e frequência escolar, por si sós, sejam capazes de diagnosticar a realidade de uma escola ou rede de ensino.

Para além do número do Ideb está um leque imenso de questões a serem debatidas na rede pública de ensino e, na minha opinião, a mais séria delas é a clareza quanto aos rumos pedagógicos que se quer tomar.

Educação de qualidade só se faz com planejamento de longo prazo e bases pedagógicas discutidas amplamente pelos profissionais, de modo que os alvos sejam perseguidos por meio de caminhos didático-pedagógicos bem pensados e que, acima de tudo, tenham como objetivo a aprendizagem plena e significativa.

Uma escola existe para que seus estudantes aprendam e, sobretudo, aprendam a aprender constantemente. A escola deve abrir as portas para a vida de aprendizado. Os instrumentos de avaliação devem servir para iluminar tal processo e corrigir os equívocos da caminhada.

Quando uma meta é posta e o seu atingimento deve ser conquistado a qualquer preço, corre-se o risco de cair na tentação do treino e da simulação. Problemas que já conhecemos há décadas por conta dos exames vestibulares. Como há poucas vagas, a peneira é muito fechada e às escolas preparatórias cabe apenas treinar os jovens para saberem dos macetes e alcançarem bons resultados, mesmo que sob o preço de não ter ocorrido aprendizado significativo para a vida real.

O risco que corremos com o Ideb é permitir que se faça o mesmo. Ou seja, sem uma política educacional de longo prazo, com densidade científico-pedagógica, pode se deixar levar pela tentação dos testes simulados e do treinamento repetitivo que prepara para um exame, mas ignora tudo mais.

A meta para 2021 deve ser perseguida sim! Mas—se o foco for apenas a nota—correr-se-á o risco de alcançá-la e nossa Educação continuar com tantas e tão sérias lacunas.

Mais do que uma nota, nossa meta deve ser a real qualificação e valorização dos profissionais de Educação e a certeza de que os gestores garantam diretrizes curriculares dialogadas e seriamente postas como alvos a serem alcançados. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade