Sob frio negativo, Nazareno não completa maratona de Boston

Friburguense de 67 anos passa mal na mais dura das provas, com rajadas de 50km/h e chuva torrencial
segunda-feira, 30 de abril de 2018
por Vinicius Gastin (esportes@avozdaserra.com.br)
Nazareno (ao centro) no embarque para os EUA
Nazareno (ao centro) no embarque para os EUA

Uma experiência para jamais ser esquecida. Aos 67 anos, Manoel Nazareno Gonçalves de Araújo foi o primeiro friburguense a participar da tradicional Maratona de Boston, uma das mais importantes do mundo na modalidade, realizada no último dia 16 de abril. Nova Friburgo, de fato, não poderia estar melhor representada ao longo dos 42,195 quilômetros da prova. Lá estava ele, entre 26.948 atletas que largaram, dos 29.798 inscritos.

Naza, como é conhecido, conserva o espírito jovem e aventureiro, que mantém o sorriso no rosto mesmo com as dificuldades encontradas no paísamericano. Problemas médicos o impediram de ser um dos 25.746 que completaram a prova, em um dos dias mais difíceis de todas as 122 edições da maratona em sua história.

Nazareno começou imprimindo um ritmo forte, correndo inclusive abaixo dos tempos que costumava fazer nos treinos. Caso mantivesse o ritmo, poderia até mesmo superar a marca que o classificou para a prova. Depois de cerca de oito quilômetros, no entanto, a chuva e o frio intenso, numa sensação térmica de cinco graus negativos, começaram a pesar.

A prova começou com temperatura de um grau negativo, e terminou com três positivos, os menores registros para a Maratona de Boston em 30 anos (antes de 2018, a menor temperatura foi registrada em 1970). Sem contar as rajadas de vento, a nada menos que 50km/h, e a chuva torrencial.

 “Alguns dias antes eu chequei a previsão do tempo, que indicava temperaturas estáveis. Não contava com todo esse frio, não fui preparado para isso. Lá comprei capa de chuva, uma blusa, mas o frio foi muito intenso. Estava bem fisicamente, muito preparado, mas as condições climáticas atrapalharam meu rendimento. Me senti mal, quase não sentia as minhas pernas, e as pessoas foram muito solícitas. Em uma próxima, vou vir mais preparado para combater o frio”, relata.

O corredor friburguense foi atendido em um hospital nas proximidades, onde, inclusive, encontrou outros atletas na mesma situação. Segundo a organização da prova, foram feitos este ano 1.298 atendimentos médicos durante a maratona, a maioria entre as milhas 13 e 18, e outros 992 após a linha de chegada. Oitenta pessoas foram hospitalizadas, a maioria por hipotermia (como foi o caso de Naza), dentre elas três atletas da categoria elite, a principal do evento.

Com muitas boas histórias para contar, Manoel Nazareno retorna ao Brasil, mas com desejo e expectativas de voltar à Boston em breve. O pequeno notável, que já acumula quase 50 maratonas ao longo de sua trajetória nas pistas, teve a oportunidade este ano após completar a Maratona de Porto Alegre, em junho 2017, com o tempo de três horas, 25 minutos e 34 segundos.

Em 2014, ele participou de outra prova nos Estados Unidos, em Fort Lauderdale, na Flórida, e venceu na faixa etária. Além desta, o corredor participou de outras duas provas, de menor quilometragem, vencendo por idade. “Agradeço muito às pessoas que acompanharam a minha trajetória e torceram por mim. E também ao Augusto (presidente da Ascof) e demais companheiros de treinos, por todo o apoio”, disse o atleta.

Naza segue com a rotina de treinos, que registra entre  90 e 130 quilômetros por semana, aliando resistência e velocidade. A maior parte da preparação acontece na pista de atletismo do Eduardo Guinle, no Friburguense, juntamente com os companheiros da Associação dos Corredores Friburguenses (Ascof). Com o mesmo espírito, vontade e sonhos que os próprios esforços lhe permitem alimentar.

“O Nazareno faz parte da Associação desde que ela foi fundada. Ele já corria antes mesmo da Ascof. Ele é um exemplo para as diversas pessoas que têm procurado a corrida. Costumamos dizer nas pistas que o objetivo não é correr bem, é correr sempre, participar de todas as provas. Chegar à máxima idade possível correndo”, conta, orgulhoso, José Augusto, presidente da Ascof.

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