Jéssica Louredo
“Sob a proteção de Deus, prometo que, no exercício da Medicina Veterinária, cumprirei os dispositivos legais e normativos, com especial respeito ao Código de Ética da profissão, sempre buscando uma harmonização entre ciência e arte, aplicando os meus conhecimento para o desenvolvimento da sanidade e do bem-estar dos animais, da qualidade dos seus produtos e da prevenção de zoonoses, tendo como compromissos a promoção do desenvolvimento sustentado, a preservação da biodiversidade, a melhoria da qualidade de vida e o progresso justo e equilibrado da sociedade humana. E prometo tudo isso fazer, com o máximo respeito à ordem pública e aos bons costumes. Assim o prometo.”
Começo a matéria com esse juramento. Acredito que qualquer profissional da saúde como um médico veterinário, acima de tudo, tem que ter respeito à vida do próximo, amor à profissão e comprometimento. Ele pode não ter a obrigação de atender; porém, omitir socorro não é digno à profissão. Digo isso, por que no último domingo, 18, fui testemunha de duas situações no mínimo tristes e revoltantes.
Gritos na manhã deste domingo me chamaram atenção e rapidamente fui ver o que estava acontecendo. Dois cachorros da raça Pitbull atacaram um cãozinho de rua. E foram os gritos de moradores e um carro que conseguiram amedrontar os cães que fugiram em seguida. A fêmea de raça não definida ficou gravemente ferida na região abdominal e apesar da dor e de estar assustada reagiu docemente com todos que se aproximavam.
A primeira questão revoltante é a de que cães de temperamento agressivo como Pitbull deveriam estar devidamente instalados por seus donos sem ter a mínima possibilidade de fugir ou sair à rua sem equipamentos como focinheiras e supervisão de seus donos. Pois na situação citada acima, poderia ser seu filho, sua sobrinha, você… E a lei a respeito é bem clara:
LEI Nº 4.808, DE 04 DE JULHO DE 2006 (RIO DE JANEIRO)
Art. 27 – O cão de qualquer raça que for considerado agressivo na avaliação comportamental estará sujeito às seguintes medidas, ressalvado o direito do proprietário ou do possuidor do animal, que discordar dessa avaliação, de adotar as medidas legais cabíveis:
II – condução em locais públicos com uso de coleira, guia e focinheira que permita total abertura da boca do cão, possibilitando a perda de calor pela via respiratória, independente de raça e tamanho, ou em veículos, com utilização dos equipamentos de contenção necessários a tornar impossível a evasão.
É totalmente inadmissível que donos de cães perigosos sejam negligentes a ponto de expor vidas a um risco desnecessário, já que o animal é de sua total responsabilidade. E este tem que arcar com as consequências de atos de imprudência com multas e pena legal. Pois com a vida, seja de pessoas ou animais, não se brinca.
A segunda questão que gostaria de relatar é sobre a falta de compaixão. Acredito que qualquer ser humano, independente de idade, religião e classe social, deveria ter como princípio a compaixão. Tentamos ligar para diversas clínicas veterinárias da cidade de Nova Friburgo, além de veterinários particulares e praticamente todos (a não ser um) se negaram a prestar atendimento ao cãozinho vítima do ataque. Uma médica veterinária classificada como “profissional”, que acredito eu ter feito o juramento acima, se negou a atender veementemente. Inclusive, disse com todas as palavras ao telefone que só prestaria atendimento mediante pagamento. A mesma é veterinária do meu cachorro e depois dessa declaração retiro totalmente de seus cuidados o meu animal. Partindo do princípio de que ética, profissionalismo e compaixão são valores que prezo, eu não deixarei meu cão com uma pessoa que traduz os princípios capitalistas e políticos da sociedade alienada em que vivemos. Também concordo que todo profissional deve ser remunerado, mas, nesse caso, profissionais como ela são pagos com o meu dinheiro, com o dinheiro de pessoas que se importam com seus animais. Então, se a questão monetária pesa em um momento desses, o “profissional” perde o meu respeito, pois é omitir socorro a um ser indefeso, que não tem quem fale por ele, que esta ferido necessitando de socorro. E o descaso é o que mais me incomoda. São seres vivos que não se importam com outros seres vivos. O fim do mundo deve mesmo estar próximo.
Gostaria de deixar meu profundo agradecimento à Clínica Veterinária Bem Estar (deixo claro, a única a nos atender) por prestar os primeiros socorros ao cãozinho, batizado de Preta, e que a partir de agora esta encarregada de cuidar do meu cachorro. Preta agora passa bem, estamos monitorando, dando água e comida. E gostaríamos de encontrar um Lar para ela (interessados por favor entrem em contato comigo pelo e-mail abaixo).
je_louredoo@hotmail.com
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