“Caro, muito caro” é a frase repetida por boa parte dos motoristas e motociclistas de Nova Friburgo que já pensaram em contratar ou contrataram um seguro para seus veículos. Com baixo índice de furtos e roubos, mas grande quantidade de colisões, a cidade segue uma tendência no país: dos 102.601 carros que foram emplacados no Detran até agosto, somente 20% estão segurados, estimam os corretores.
“Tirei o carro zero da concessionária há três anos. Fiz um seguro total, mas decidi cancelá-lo no ano passado. Nunca havia acionado a seguradora. Seguro, IPVA, pedágio... Com medo da crise, achei melhor poupar o dinheiro do seguro. Não sei se vou voltar fazer um novo seguro”, disse a psicóloga Marina Alves. Com 33 anos, ela tem o perfil de segurado que costuma pagar mais barato. É mulher, casada, tem ensino superior, emprego fixo, é maior de 25 anos, tem garagem e alarme. O carro, um Hyundai HB20, porém, tem alta taxa de sinistralidade. É o carro mais roubado no estado, segundo Índice de Veículos Roubados (IVR), da Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Na contramão do que ocorre na capital e Região Metropolitana do Rio, que este ano tiveram uma explosão no número de veículos roubados, a ponto de as seguradoras recusarem clientes ou aumentarem consideravelmente o valor do contrato, Friburgo parece uma ilha de tranquilidade, apesar de estar a pouco mais de duas horas de carro do Rio, cerca de 140 quilômetros.
Até agosto deste ano, 53 veículos foram furtados e um foi roubado no município, segundo relatórios estatísticos do Instituto de Segurança Pública (ISP). Em comparação com o ano anterior, houve queda de 17% nos casos. A Polícia Militar conseguiu recuperar 40 no mesmo período este ano, índice que o 11º BPM ostenta com orgulho.
Já no estado, foram registrados 37.100 roubos de veículos até agosto. Um aumento de 43,9% em comparação com 2016. Os furtos, entretanto, tiveram queda de 6,7%. Os 4.613 veículos roubados em agosto no estado — 1.572 a mais que no mesmo mês do ano passado — ligaram o sinal de alerta no mercado de seguros na capital e arredores.
Segundo a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), companhias do setor deixaram de trabalhar em pelo menos cinco bairros da Zona Norte do Rio. E a negativa para novos contratos se estende a várias localidades que ficam próximas a favelas, ou seja, não adianta morar em área nobre. Considerando todos os estados brasileiros, as seguradoras que atuam no estado são as que mais pagam indenizações. De janeiro a agosto deste ano, segundo a FenSeg, as empresas desembolsaram R$ 1,4 bilhão com indenizações no Rio — 77% do que arrecadaram, o maior percentual do país.
Outro levantamento da FenSeg aponta que, em 50% dos casos de roubos de veículos no Rio, os crimes são praticados para retirada de peças e venda no mercado ilegal. Em 30% das ocorrências, o objetivo é a clonagem de automóveis, e, em 20%, ladrões roubam um carro para cometer outros delitos.
Para o Procon-RJ, seguradoras que recusam clientes por causa do local onde vivem estão ferindo o Código de Defesa do Consumidor. “O artigo 39, inciso IX, estabelece como prática abusiva a recusa da venda de bens e serviços a quem se disponha a pagar por eles, exceto em casos regulados por leis especiais”. O órgão lembrou que os preços são regulados pelo mercado.
Em Friburgo, não existe diferença de preços por local de moradia e uem possui seguro só teve o reajuste anual de acordo com a inflação, segundo as seguradoras Rosatan, Gismonti e Verba, ouvidas por A VOZ DA SERRA na última semana. Algumas apólices vendidas no município são mais baratas do que em muitas cidades vizinhas, por isso, vale pesquisar — o custo do seguro pode variar 10% nas corretoras.
Entre os carros de passeio, o seguro total varia 4% a 6% do valor do veículo na tabela Fipe, desde que o motorista tenha idade acima dos 25 anos. Se o carro tiver alta taxa de roubo ou for usado para fins comerciais o custo da apólice aumenta. Já o seguro de motocicleta é bem mais caro, varia de 10 a 20% do preço na tabela; por isso, nem 2% das motos emplacadas na cidade tem proteção.
“Eu já pensei em fazer um seguro contra roubo, mas é o triplo do preço do seguro de carro. É caro para quem ganha pouco”, disse o motociclista Fábio Lage, de 30 anos, que é supervisor de produção. “Para mim que piloto com atenção, o conserto de um abalroamento sai mais barato do que pagar o seguro, que, muitas vezes, dá para pagar uma moto nova”, garante ele.
De janeiro a agosto deste ano, 411 acidentes, envolvendo carros e motos, deixaram 677 feridos em Friburgo, segundo o Corpo de Bombeiros. As colisões são a principal causa de acionamento das seguradoras da cidade. O aumento nos casos está relacionado a falta de educação, a desobediência às legislações de trânsito, mas também à grande quantidade de veículos nas ruas.
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