Em março deste ano, A VOZ DA SERRA publicou reportagem com o título “Número de casos de sífilis não para de crescer no Estado do Rio”, na qual alertava para a escalada dos casos da doença em gestantes e recém-nascidos, desde 2008. “A previsão para 2016 é preocupante, com expansão da doença”, destacou, naquela edição. Ao que tudo indica, a previsão se confirmou.
Segundo o ministro da Saúde, Ricardo Barros, os casos subiram em número significativo. “Estamos tratando o problema como epidemia até para que os resultados de redução sejam os mais expressivos possíveis”, declarou, em outubro. Também informou que os recursos estão disponíveis e que é preciso que as pessoas se submetam aos testes e aos tratamentos.
A sífilis é uma doença silenciosa: pode passar despercebida por muitos anos nas pessoas adultas e é capaz de causar sérios problemas ao bebê em formação no útero. O número de infectados tem crescido no Brasil e de 2014 a 2015, a doença teve um aumento de 20,9% nas gestantes e de 19% nos casos congênitos (bebês que nascem infectados).
Um problema mundial, segundo Delia Engel
A sífilis é uma doença infecciosa sistêmica, crônica, causada pela bactéria Treponema pallidum, que se manifesta em diferentes estágios. Sem tratamento, apresenta evolução em fases: inicialmente, com feridas na pele, pode evoluir para complicações que levam ao óbito, podendo afetar o sistema cardiovascular e neurológico.
“O aumento no número de casos de sífilis é um problema mundial”, informou a médica infectologista Delia Celser Engel (foto). Segundo ela, há registro de aumento de 20% no número de casos de sífilis na Inglaterra, e de 19% nos Estados Unidos, entre 2014 e 2015. “Em outubro de 2016, o Ministério da Saúde do Brasil admitiu que enfrentamos uma epidemia. Entre junho de 2010 a 2016, foram notificados 230 mil casos novos da doença”, completou.
De acordo com Delia, em 2015, foram registrados 65.878 casos em todo o país, sendo 56,2% na região Sudeste. “Em 2010 a incidência da doença em homens era de cerca de 1,8 caso para cada caso, entre mulheres. Essa média caiu para 1,5 homem/mulher em 2015. Ou seja, a vulnerabilidade está aumentando nas mulheres”, esclareceu.
Outro dado alarmante que a médica revelou é que os casos de sífilis congênita também cresceram. “Em 2010, para cada mil bebês nascidos, 2,4 eram portadores de sífilis. Em 2015, esse número aumentou para 6,5. Ainda temos muitas mulheres sem acesso ao pré-natal e portanto sem realizar o exame para sífilis durante a gestação”.
A principal forma de transmissão é o contato sexual, e a gestante, também por via hematogênica (pelo sangue), transmite para o feto a bactéria em qualquer fase da gravidez ou em qualquer estágio da doença. A transmissão via transfusão de sangue pode ocorrer, mas atualmente é muito rara, em função do controle do sangue doado.
Portanto, a principal forma de prevenção é o uso de preservativos no ato sexual. “O tratamento correto e completo também é considerado uma forma eficaz de controle, pois interrompe a cadeia de transmissão. O tratamento de ambos os parceiros é importante na prevenção para impedir que ocorra a reinfecção, garantindo que o ciclo seja interrompido”, disse. E emendou: “Sabemos a importância da utilização da camisinha nas relações sexuais; que todas mulheres devem ter acesso ao pré-natal; que o teste deve ser oferecido aos parceiros das pessoas infectadas e que o tratamento deve estar disponível para todos”, observou a médica.
A especialista ressaltou ainda que é preciso assumir a existência de uma epidemia para que se coloque em prática as formas de enfrentamento. “Vivemos recentemente a falta das duas principais armas para o tratamento da sífilis: a penicilina cristalina, utilizada nas formas mais graves e na sífilis congênita, e a penicilina benzatina, para tratamento da maioria dos casos. Não ter como tratar contribuiu para o aumento no número de casos tanto em adultos como nos recém-nascidos, com graves consequências na evolução dessas crianças”, disse Delia.
E completou: “É importante lembrar que os postos de saúde devem oferecer teste rápido para HIV, hepatite B, sífilis e hepatite C, com encaminhamento dos casos positivos para tratamento”.
A doença em Nova Friburgo
Em Nova Friburgo, a campanha de testagem de sífilis é promovida pela Secretaria Municipal de Saúde, através da Subsecretaria de Vigilância em Saúde e do Programa Municipal de DSTs, Aids e Hepatites Virais.
Segundo revelou em março deste ano, Teresa Polo, coordenadora municipal do setor, durante a última campanha — outubro de 2015 a fevereiro de 2016 — foram realizados 82 testes rápidos para sífilis, que resultaram em oito positivos, sendo que os pacientes recebem o tratamento em seguida ao diagnóstico.
“Todas as terças e quartas-feiras, realizamos testes rápidos para o HIV, Sífilis, Hepatite B e C no Programa Municipal de DST/Aids/HV. Nos últimos cinco meses foram realizados 355 testes rápidos para sífilis, sendo 18 positivos. Todos os resultados são confirmados com exame específico e encaminhados para acompanhamento médico e tratamento adequado”, esclareceu Teresa, à época.
Segundo ela, o Plano Municipal de Enfrentamento da Sífilis Congênita trabalha em conjunto com a Secretaria estadual de Saúde. E, de acordo com a Vigilância Epidemiológica de Nova Friburgo, em 2015 houve as seguintes notificações: sífilis na gestação (29 casos, com taxa de detecção de 14,19 casos por 1.000 nascidos vivos); e sífilis congênita (dez casos, com taxa de detecção de 4,89 casos por 1.000 nascidos vivos).
Na última quarta-feira, 9, Teresa Polo informou que o estoque está regularizado para atendimento da demanda do município. Entre os dias 18 e 22 de outubro, 91 pessoas passaram pela testagem de sífilis, das quais seis deram positivo, o que significa um índice de 6,6%, número que a coordenadora considera expressivo.
“Não são poucos dentro do universo testado, em pessoas com idades entre 19 e 46 anos”, avaliou.
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