As sextas passam e... segue o baile funk que torna a Monte Líbano um caos

Carros com som alto, gritarias e motos barulhentas atormentam quem vive e trabalha nas imediações e atrapalham até ambulâncias
sexta-feira, 16 de agosto de 2019
por Alerrandre Barros (alerrandre@avozdaserra.com.br)
Carro de som sob a placa de
Carro de som sob a placa de "proibido som alto" estacionado na Monte Líbano (Fotos de leitores)

Garrafas quebradas se espalham pelo meio-fio ao longo da calçada em frente a um edifício comercial na boêmia Rua Monte Líbano, no Centro, quase todo fim de semana. Os cacos de vidro são resultado dos bailes ao ar livre realizados por jovens, entre eles menores de idade, todas as sextas-feiras à noite naquele trecho da rua. Com aparelhagem de som embutidas no porta-malas de carros, o encontro semanal virou um tormento para moradores e comerciantes que atuam na noite friburguense. Até ambulâncias têm dificuldade para passar.

“É uma baderna. Eles ocupam o local com som alto, fazem um baile funk no meio da rua até altas horas da madrugada. É uma gritaria. Motociclistas disputam qual escapamento é mais barulhento. Dificultam a passagem na calçada e na rua”, disse um morador de um prédio na esquina da Monte Líbano com a Rua Augusto Spinelli, que pediu para não se identificar. “Já fui reclamar com eles e me ofenderam. Fizeram sinais obscenos. Não respeitam os moradores. Liguei para a polícia, mas me disseram que os agentes não podem tirar as pessoas da rua. Eu só queria que diminuíssem o barulho”, apelou. 

O porteiro de um edifício próximo contou que já viu cenas indecorosas no final da Rua Monte Líbano. “À noite a coisa é feia. Muitas drogas, sexo e as pessoas fazem as ruas transversais de banheiros. Brigas, palavrões. E não é só sexta-feira. É de segunda a sábado. O poder público deveria olhar com mais carinho por esta rua”, disse o porteiro, também com medo de se identificar. 

No edifício comercial, lojistas também reclamam da sujeira deixada na calçada onde acontecem os encontros do grupo. Uma comerciante, que também pediu anonimato, contou que toda manhã de sábado precisa retirar latas e garrafas de bebida que os jovens deixam na porta da loja. “Fica um cheiro de bebida insuportável. Às vezes até urinam na porta. Funcionários da prefeitura costumam vir limpar a rua. É um transtorno”, disse a comerciante. 

Donos de bares na Rua Monte Líbano, acostumados com o agito na rua, também dizem que os jovens cometem excessos. “Os carros com som incomodam mesmo. O som é muito alto. Eles andam também com caixas de som portáteis e com rodinha. Consomem bebida, drogas, fazem uma farra”, falou um comerciante sob a condição de anonimato. “Já pedimos à Subsecretaria municipal de Posturas que tomem uma providência, mas não adianta. O ideal seria a PM ficar de prontidão na rua. Ou, quem sabe, a prefeitura tornar a rua de mão-dupla. Evitaria assim que carros fiquem parados na rua”, sugeriu. 

O que dizem o 11º BPM e a prefeitura 

O 11º BPM informou que reforça as rondas no locais boêmios do centro da cidade, como as ruas Monte Líbano e Portugal, assim como o entorno da Praça Getúlio Vargas, nas noites dos fins de semana. Quando os agentes observam alguma irregularidade, fazem abordagens a fim de reprimir o consumo de bebidas e drogas por adolescentes. A PM pode ser acionada pelo 190. 

Já a Prefeitura de Nova Friburgo informou que realiza, regularmente, operações conjuntas com a Polícia Militar, a Promotoria da Infância e Juventude e Polícia Civil visando coibir a presença de carros com música alta, a fiscalização de alvarás, venda de bebidas alcoólicas para menores e estacionamento irregular e fila dupla. 

“São mobilizadas as secretarias de Ordem e Mobilidade Urbana, por meio da Subsecretaria de Posturas, de Políticas sobre Drogas e a Guarda Municipal, que têm feito abordagens frequentes no local. Inclusive, outras ações deste gênero estão previstas para aquela área. As denúncias podem ser feitas à Guarda Civil Municipal pelo telefone 153, que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. A população ainda pode realizar denúncias à Polícia Militar e ao Ministério Público”, diz a nota.

Operação Choque de Ordem

A operação a que a prefeitura se refere é a chamada Choque de Ordem. Iniciado no ano passado, o trabalho conjunto já foi realizado nas ruas Monte Líbano e Portugal, e na Praça Getúlio Vargas, que vem sendo cada vez mais ocupada por jovens, à noite, a maioria portando cigarros e bebidas. 

A força-tarefa vem fechando o cerco, especialmente, contra estabelecimentos comerciais que vendem álcool para menores na cidade. “Já colocamos agentes disfarçados em bares para registramos o flagrante. Para isso, contamos com as denúncias de pessoas que frequentam esses lugares para que os proprietários sejam responsabilizados”, contou o secretário de Políticas sobre Drogas, Daniel Lage em entrevista recente para A VOZ DA SERRA.

Responsabilidade dos pais 

Outro desafio da operação, segundo Daniel, é a responsabilização dos pais. Em fevereiro, três adolescentes foram flagrados consumindo bebidas alcoólicas na Rua Monte Líbano. Conselheiros tutelares tentaram acionar os pais dos jovens, mas como não foram encontrados, os menores foram conduzidos à delegacia para registro de ocorrência. Em seguida, encaminhados à casa de familiares pelo Conselho Tutelar.

Em outra ação recente, porém, um pai foi encontrado pelos conselheiros e disse à reportagem ter ficado surpreso ao receber o telefonema. “Nos esmeramos em dar a ele uma boa educação, e por isso levamos um susto quando fomos acionados para vir buscá-lo. Enxergo a ação com bons olhos, pois nos serviu de alerta em relação às amizades dele. Vamos ficar mais atentos", disse o pai que optou por não se identificar.

A conselheira tutelar Evelyn dos Santos explicou que a função do órgão é mediadora. “Atuamos em defesa dos direitos da criança e do adolescente. Vamos conversar com os pais e fazer uma avaliação de cada caso; se necessário, será feito um acompanhamento familiar”, explicou ela, acrescentando que se os responsáveis não comparecem ao Conselho, a família recebe uma visita do órgão após a segunda notificação.

Educação na primeira infância

Titular da Vara da Infância, Juventude e Idoso de Nova Friburgo, a juíza Adriana Valentim afirmou que os adolescentes devem ser tratados como vítimas. “Essas operações, apesar de serem boas na intenção de coibir a venda de bebidas aos menores, não tratam a causa do problema, que passa pela educação, atenção à família etc”, afirmou ela.

Valentim também disse que é necessário investimento em educação desde a primeira infância. “As crianças e adolescentes deveriam desde cedo receber informações sobre os danos causados pela bebida, tabaco e outras drogas. Acompanhamento e assistência às famílias me parece outro caminho importante, pois visa identificar os focos de atuação e direcionamento de atendimento”, observou a magistrada.

Para ela, os pais com dificuldades na criação dos filhos devem procurar auxílio na rede de apoio do município, o Conselho Tutelar, e caso não consigam o atendimento de que seu filho precise, devem acionar a Defensoria Pública para as providências cabíveis. “O município carece de políticas públicas voltadas para a infância. O atendimento precisa ser melhor equipado, mas faltam recursos”, afirmou ela.

Estratégia contra as drogas 

Em Nova Friburgo, a política antidrogas segue, segundo a prefeitura, o Plano Nacional Sobre Drogas, que recomenda a atuação em três eixos. O primeiro é a prevenção, através de palestras nas escolas e associações ou pelos stands montados em praças e locais públicos da cidade.

O segundo eixo é o acolhimento, que disponibiliza atendimento psicológico para o usuários e familiares, além de tratamento em grupos de ajuda, acompanhamento no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) ou nos Narcóticos Anônimos e no Nar-Anon. Por fim, o terceiro eixo foca na reinserção do usuário. Toda terça-feira, um profissional de Educação Física oferece treinamentos para jovens acautelados do Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Adolescente (Criaad) a fim de desenvolver socialização, disciplina e valores.

 

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