Dalva Ventura
O sexo ainda é um assunto tabu e pouco discutido, inclusive a portas fechadas num consultório médico ou mesmo entre os casais. Por isso mesmo, nada mais pertinente que o tema escolhido pelo Hospital São Lucas como o tema da última Ratera (Reunião de Apoio Terapêutico). O urologista Rodrigo Barros de Castro, que esteve à frente da palestra, lembrou que os problemas masculinos na esfera sexual não dizem respeito só ao homem, acabando por repercutir na vida do casal e lamentou que na maioria das vezes, as pessoas resistam tanto em procurar ajuda. Aqui estão os principais pontos abordados que podem esclarecer uma série de dúvidas a este respeito. E que podem ajudar não apenas os cardíacos e não apenas aos homens, mas a todos nós.
• Quanto tempo é preciso esperar para voltar a praticar sexo depois de uma cirurgia cardíaca?
O sexo implica atividade física bastante intensa. Por isso mesmo, recomenda-se que depois de uma cirurgia cardíaca o paciente espere três meses para voltar a ter vida sexual. Quando o homem for liberado pelo cardiologista para fazer exercícios físicos, pode voltar a praticar sexo normalmente. No entanto, cada caso é um caso e, por isso mesmo, a palavra final é do especialista.
• Como o diagnóstico de um problema cardiovascular afeta a sexualidade do casal?
Se isso acontecer, não vai ser por conta de um problema orgânico, mas por causa de ansiedade e medo. Se o cardiologista liberou o paciente para praticar exercícios, este também pode ter uma vida sexual plena. O grande problema é que este tema é tabu e os casais costumam se afastar, não tocam no assunto, ficam constrangidos. Muitas vezes é mais fácil não falar nisso, deixar para lá do que conversar. Inclusive com o médico.
• Impotência: um dos principais fantasmas que afligem os homens
A sexualidade é muito importante na vida de todos nós. A chamada disfunção erétil é a incapacidade persistente de obter ou manter a ereção. Alguns homens ficam preocupados quando isso acontece eventualmente, mas na verdade só é preciso cuidado quando este problema se torna constante. Ao contrário do que se pensa, a disfunção erétil é muito comum. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos com mais de 1300 homens entre 40 e 70 anos mostrou que cerca de 50% apresentava algum grau de impotência, sendo que 10%, severa. Em termos de Brasil, a realidade não é diferente. Um estudo realizado no sul do país com quase mil homens na faixa etária entre 40 e 90 anos observou-se que a impotência atingia quase a metade deles. E é impressionante como estes pacientes só procuram o médico “carregados” pela mulher. Podemos afirmar que, de uma maneira geral, metade dos homens na faixa dos 40 anos tem algum grau de impotência.
• Fatores de risco que levam à impotência
A idade é, inegavelmente, um dos principais. A cada ano que passa, o risco de impotência aumenta, acentuando-se depois dos 60 anos. A obesidade e o sedentarismo também contam muito. Temos casos comprovados de pacientes que eram obesos e tiveram uma melhora acentuada no seu desempenho sexual depois que emagreceram. Ou de sedentários que passaram a fazer exercícios e também melhoraram. O tabagismo e o consumo de álcool também contribuem para a impotência, assim como o diabetes, a hipertensão arterial, o colesterol e o triglicerídeos alto. Deixei para o final, por sua importância, a depressão. Detalhe: estes fatores de risco são os mesmos que causam doenças do coração. Aliás, os pacientes que chegam ao consultório do urologista se queixando única e exclusivamente de impotência fornecem uma oportunidade de ouro para avaliarmos sua saúde global. Muitos já são cardiopatas e nem sabiam.
• Principais causas da impotência
A mais comum é a aterosclerose. A disfunção erétil pode surgir três a cinco anos antes da doença arterial coronariana se manifestar. O homem que sofre de angina, muito provavelmente já apresentava algum grau de impotência há alguns anos. Isso porque a artéria que manda sangue para o pênis é mais fina ainda do que a que manda sangue para o coração. Aquele homem que já começa a ter algum grau de impotência, se não mudar a evolução natural das coisas, provavelmente vai apresentar também algum problema coronariano. Existem outras causas, como o diabetes, a cirurgia radical da próstata, as lesões nos nervos cavernosos e por último, mas não em último lugar, a deficiência de testosterona, que acomete, principalmente, homens com mais de 50-60 anos, que além da impotência causa uma diminuição do desejo, do humor, falta de motivação. É importante destacar também os fatores psicológicos, que é o mais comum em pacientes jovens, que não apresentam nenhum desses fatores de risco.
• Tratamento da impotência
O tratamento de primeira linha para a impotência é a medicação oral. Todos os existentes no mercado atuam da mesma maneira, causando uma dilatação dos vasos que levam sangue para o pênis. Vale lembrar que não adianta tomar estas pílulas sem mudar os hábitos que estão na raiz do problema. É preciso voltar a fazer caminhadas, controlar o colesterol, parar de fumar. Caso contrário, remédio algum vai resolver. Pode até obter alguma melhora, mas dali a pouco vai deixar de responder ao remédio.
• Quando a medicação para impotência não pode ser tomada
A única contraindicação absoluta é a associação com drogas dilatadoras das artérias coronarianas, mas é preciso lembrar que nem todos os homens que têm problemas de coração tomam este tipo de droga. Alguns, inclusive, colocaram pontes de safena e depois que operam, ficam curados, isto é, não precisam de medicação para dilatar as artérias. Neste caso, podem fazer uso, sem medo, dos medicamentos para impotência disponíveis no mercado.
• Quando o homem não pode tomar medicamentos para impotência
A primeira alternativa é a injeção intracavernosa, método um pouco mais artificial, mas funciona muito bem. É aplicada pelo próprio paciente uns cinco minutos antes da relação sexual, podendo causa um certo desconforto, mas perfeitamente tolerável. Quando não há resposta para nenhum tratamento, pode-se partir para a prótese peniana, que apesar de ter uma série de inconvenientes, inclusive o preço, é eficaz.
• Ejaculação precoce. Um problema também muito comum
Considera-se ejaculação precoce a incapacidade de controlar a ejaculação para que ambos os parceiros tenham prazer sexual. A média normal que um homem leva para ejacular é de sete a 14 minutos. Muitos homens que começam a apresentar algum grau de impotência passam a desenvolver um mecanismo de defesa e acabam ejaculando muito rápido. Trata-se de um problema muito comum que acomete cerca de 40% dos homens em alguma fase da vida.
• Outras causas da ejaculação precoce
Pode acontecer tanto com homens que têm poucas relações sexuais como com os que ficam muito ansiosos com seu desempenho na cama. A predisposição genética conta muito, porém a causa mais comum é psicológica. Que acontece, em geral, a partir da fase de iniciação sexual. Mas, atenção. As pessoas muitas vezes querem reproduzir em suas vidas o que assistem na televisão ou mesmo em filmes pornográficos, quando na realidade não é isso o que acontece. Segundo comprovam diversos estudos, este tempo é, em média, bem menor do que se imagina—em torno de dez minutos. De uma maneira geral, porém, as pessoas acham que têm de durar uma, duas horas.
• Tratamento da ejaculação precoce
Os antidepressivos são o tratamento de primeira linha para a ejaculação precoce, mas devem, necessariamente, ser associados à psicoterapia.
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