Seu Mario, o point que foi o mais famoso da cidade

Bar Central começou reunindo operários das fábricas e virou reduto de toda a sociedade friburguense
sábado, 16 de dezembro de 2017
por Janaína Botelho
A galera reunida em frente ao Bar Central, reduto dos alunos do Ienf (Acervo
A galera reunida em frente ao Bar Central, reduto dos alunos do Ienf (Acervo "Histórias e Memórias de Nova Friburgo")

Quem nunca tomou uma bronca do seu Mário Babo? Um namoro indecente no bar, um pé na cadeira, leituras impróprias, o sujeito logo tomava uma bronca e retirava-se, aborrecido. Porém, tempos depois, voltava ao bar. Ninguém resistia deixar de freqüentar o Bar do Seu Mário. Era oficialmente o Bar Central e localizava-se na esquina da Rua São João.

Foram 26 no ponto central da cidade, passando por ele todas as classes sociais, vivendo os ciclos de progresso da cidade em um tempo em que o comércio tinha a personalidade de seu proprietário.

Seu Mário (foto abaixo), português, veio para Friburgo em 1951, de porte da denominada “Carta de Chamada”, condição exigida pelo governo para o imigrante trabalhar no Brasil. Trabalhou inicialmente no Bar América, o mesmo que hoje funciona na Rua Monte Líbano, de propriedade de seu irmão.

O Seu Mário, em suas memórias, lembra que naquela época os imigrantes mais importantes em Friburgo eram os alemães, que, após o turno nas fábricas, iam ao Bar América para tomar cerveja. Eram proprietários de indústrias como Rendas Arp, Filó, Ypú e Haga, que empregavam boa parte da população.

O Bar do Seu Mário (foto abaixo), no entanto, foi inicialmente freqüentado por operários, que saíam das fábricas, iam para suas casas, tomavam banho, colocavam um terno e dirigiam-se para o bar, num ritual tipo trabalho, lar, botequim. Bebia-se cerveja e comia-se pastel. Foi ele quem trouxe o chope para a cidade e o delicioso bolinho de bacalhau, pelas mãos de sua eterna companheira, a também portuguesa Dona Alcina. Mas quem não se lembra dos sorvetes de abacaxi, pistache, ameixa, creme holandês, de fabricação caseira, que concorriam com a Sorveteria Única, da família Ruiz?

À tarde, as senhoras da sociedade, como as Braune, freqüentavam o bar para um cafezinho. À noite, era a vez dos maridos, médicos, advogados, magistrados, profissionais liberais. Nesta fase, os operários das fábricas já não iam mais ao bar e podemos dizer que foi a elite da cidade que passou a freqüentá-lo.

Laércio Ventura, diretor de A VOZ DA SERRA, acompanhado de seu amigo DeCache, freqüentavam o bar (antes de brigarem). Passaram por lá políticos como Carlos Lacerda, Jânio Quadros, Brizola e diversos artistas como Dina Sfat, Cláudio Marzo, Reginaldo Farias, o comentarista de futebol Gerson, todos os veranistas da aprazível Nova Friburgo.

Mas o que marcou seu Mário em suas memórias foram os alunos da Fundação, um colégio do tipo internato, considerado um dos melhores do país. A maior parte desses alunos vinha de diversos estados. Nas olimpíadas internas dos colégios, que ocorriam no Celso Peçanha, arrumavam briga com os alunos do Colégio Anchieta, cuja rixa estendia-se por toda a cidade, onde pedras, correntes e garrafas rolavam entre os desafetos, apavorando os comerciantes próximos ao estádio.

Pois era no bar do Seu Mário onde os alunos da Fundação se refugiavam, fugindo da polícia. Seu Mário lhes dava guarita, entre milk shakes e toddy. Era, sobretudo, um bar de família (foto acima).

 

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