Setores da sociedade discutem projeto Cidade Limpa

Depois de uma série de contestações, votação do projeto ganha prazo para reavaliação
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
por Ana Borges
Trabalhador defende no plenário direito de panfletar nos sinais de trânsito
Trabalhador defende no plenário direito de panfletar nos sinais de trânsito

Às 10h30 em ponto o presidente da Câmara dos Vereadores, Marcio Damazio, deu início à nova audiência pública, com a presença de dez vereadores, representantes de diversas atividades profissionais liberais e comerciais, além de setores sociedade civil, que ocuparam metade da plateia. Depois da abertura protocolar, o presidente passou a palavra para o vereador e primeiro-vice-presidente, Marcelo Verly.

“Percebemos inúmeros aspectos que precisam ser ajustados. Embora a intenção do projeto seja positivo, ele ainda deixa muito a desejar ao permitir interpretações divergentes”, reconheceu. Nos dias subsequentes à última audiência, realizada em 30 de dezembro, os parlamentares se debruçaram sobre o texto enviado pelo Executivo em julho, para uma avaliação mais apurada de todo o seu conteúdo. Segundo Verly, foram realizadas reuniões e conversas com lideranças e representantes de setores diretamente citados no corpo do projeto, como proprietários de bancas de jornais, e movimentos sociais.

“Nesse sentido estamos propensos pela retirada da urgência do projeto, e consequentemente de sua votação que estava marcada para a próxima quinta-feira, dia 14. Agora, nossa intenção é caminhar na construção coletiva de uma alternativa a esse projeto, que pode ser usado como ponto de partida para uma nova redação. Enfim, estamos predispostos a encontrar um denominador comum, que atenda aos interesses de todas as parcelas da sociedade. Hoje, vamos dar início a um trabalho que deverá ser resultado de quantas reuniões e debates forem necessários para oferecer à sociedade o melhor projeto possível, sem o caráter de urgência pedido anteriormente”, reiterou o vereador, antes de passar a palavra ao advogado Guilherme Cardoso - que por sete anos trabalhou na Câmara -, desta vez na condição de representante da secretaria geral do Executivo para esclarecer questões jurídicas do anteprojeto.

O advogado disse acreditar que, com o tempo necessário a Casa Legislativa terá a oportunidade de aprimorar cada ponto do anteprojeto. Segundo ele, nunca houve a intenção nem a possibilidade de a Prefeitura estabelecer, através dele, censura à manifestação política. “Por uma razão muito simples. O Código de Posturas, que está sendo alterado com este projeto, nunca tratou nem cogitou, em qualquer momento, tratar dessa matéria. Simplesmente porque a nossa Constituição assegura a todo cidadão o direito à livre manifestação de pensamento. E ainda que existisse algum dispositivo que tentasse regulamentar essa matéria, a nível municipal, isso não seria possível. Para evitar qualquer interpretação equivocada - não da nossa parte (governo municipal) já que temos pleno conhecimento de que isso (censura) não poderia ser aplicada -, apresentamos em dezembro uma emenda aditivo ao artigo 24 relativa a propagandas. Assim, pretendemos dirimir quaisquer dúvidas”, esclareceu Guilherme, que prosseguiu se estendendo um pouco mais sobre o assunto.

Nada contra o conceito do projeto.... mas tudo contra a falta de diálogo

Em seguida, falando pelo Fórum Sindical (que abrange 23 entidades) além de expressiva parte da comunidade, o ex-vereador Edil Nunes referiu-se a reunião realizada há uma semana com representantes de 25 entidades, cuja posição dos movimentos sociais, além da tomada pelos proprietários de bancas jornais, foi clara: não são contra o conceito do projeto. “O que ficou decidido na nossa reunião é que queremos propor a retirada do anteprojeto, tal como está. E que nós possamos, como sociedade civil, poder público, construir um projeto com unanimidade de aceitação. Que todos possam ser ouvidos e que um novo projeto seja resultado de uma construção coletiva. Ele vai mexer de maneira substancial com a vida das pessoas, portanto, deve ter o aval de todos nós. Um projeto dessa abrangência não pode chegar à Câmara enfrentando uma oposição tão significativa. Nós conversamos com o pessoal da Acianf e CDL e eles demonstraram o mesmo tipo de posicionamento que temos. Isto é, querem ser ouvidos, poder intervir, colaborar para construir juntos um projeto, de fato, uma cidade limpa, democrática e transparente. Essa é a visão que temos e o que esperamos ver concretizado”, falou Edil.

“Gostaria de acreditar na boa vontade do governo de debater o projeto, porque inicialmente, o secretário Edson Lisboa demonstrou, de maneira muito enfática, essa intenção, dizendo que o executivo não ia impor nada. No entanto, impôs. Se não fosse a resistência da sociedade organizada, não estaríamos hoje aqui discutindo a retirada do projeto mas a aprovação ou rejeição do projeto”, discursou o vereador Cláudio Damião, iniciando a sua participação na audiência pública.  E continuou: “Como o governo é maioria, certamente o projeto seria aprovado. Então, é um erro a permanente falta de diálogo do governo com a comunidade, que se comprometeu a fazer quantas reuniões fossem necessárias, ouvir a quem quisesse falar, e no entanto, não foi isso que aconteceu. Se passasse, tal como foi apresentado, prejudicaria diversos setores da economia, sem falar na população de maneira geral”, disse o vereador, levantando outras questões. “Não estou defendendo uma cidade sem regras, mas que a sociedade seja protagonista das decisões. Esse é o desafio que temos que vencer”, enfatizou, defendendo uma “legislação que caiba toda a população”.  

Depois de nova participação do advogado Guilherme Cardoso em réplica à fala do vereador Damião, o vice-presidente Verly leu dois manifestos: do movimento SOS Árvores e dos proprietários de bancas de jornais. Após apresentações de outros vereadores, foi dada a palavra ao público para que expusesse suas preocupações, como a fala de um trabalhador que vive de panfletar nos sinais de trânsito.     

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