Talento e dedicação que brilham no escuro. Aos 22 anos, o friburguense Victor Neves já construiu uma reputação que extrapola os limites da cidade e o permite, por exemplo, realizar extensivos testes de elenco no Rio de Janeiro, com dezenas de atores interessados, sem oferecer qualquer tipo de cachê pelos papéis. Tudo por conta do prestígio e da visibilidade que sua produtora, a Telemilênio, proporciona. Suas séries já foram vistas em 20 emissoras de televisão regionais e atualmente ajudam a compor a grade do canal Cine Brasil TV, com repercussão suficiente para garantir participações especiais como a de Martinho da Vila e de atores consagrados fora do Brasil.
Sob todos os aspectos, trata-se de uma carreira meteórica e singular. Porque é normal uma criança se interessar por vídeos, e brincar com a filmadora da família. Mas é preciso ser muito especial para conseguir mobilizar tanta gente de renome tendo apenas 17 anos de idade, como era seu caso no início de 2009, no momento em que as brincadeiras tornaram-se uma opção profissional.
"Eu comecei a fazer os vídeos na época do ensino médio”, relembra Victor. "Um período de muitas dúvidas sobre qual carreira seguir, e eu comecei a fazer essas produções audiovisuais por diversão mesmo. Passei a reunir os amigos na hora do intervalo e a gente montava alguns vídeos, que eram geralmente aberturas de séries e novelas que nós imaginávamos, mas que acabam ficando apenas no pensamento, por falta de recursos. A gente gravava apenas as aberturas. Então o tempo passou e a gente foi melhorando... Comprei outras câmeras e fui aprendendo mais sobre edição, produção, lendo e assistindo bastante para conhecer técnicas de enquadramento. Até que em 2009, quando nós batemos o martelo e decidimos que era isso que queríamos fazer na vida, a gente acertou com a TV Focus. Nós apresentamos um material, e ela foi a primeira emissora que abriu espaço para a gente, exibindo nossa primeira série, a Nox – 2. Eles nos deram um mês de graça, e como o resultado foi positivo e o público gostou, nós continuamos a parceria e nunca precisamos levar anunciantes. A qualidade na época ainda era bastante comprometida, mas a gente foi sempre melhorando até chegar ao nível em que estamos hoje”, continuou.
A partir de então, com o compromisso de produzir novas séries, o caminho estava aberto para negociar a exibição em outras tevês regionais, espalhadas pelo Brasil. "Ficamos cerca de um ano e meio na Focus, sempre preenchendo a grade, nunca deixamos buraco. Gravávamos todo sábado. E então, com esse material em mãos, eu comecei a procurar outras emissoras do estado. Consegui estabelecer uma parceria em Teresópolis, depois consegui Três Rios, e lá era uma tevê um pouco maior, que alcançava quatro cidades. A rede foi crescendo até que em 2012 chegamos a 160 cidades, através de 20 emissoras em cinco estados”, explica Victor.
Números extremamente significativos, mas que não satisfizeram a equipe. "Na tentativa de estimular os envolvidos através de boas notícias, a gente enviou material para o canal Cine Brasil TV no fim de 2012, e eles gostaram muito do conteúdo. Firmamos então uma parceria de exclusividade em relação às produções mais recentes, enquanto as séries continuaram a ser veiculadas nas 160 cidades. A partir desse momento começamos a produzir filmes de média e longa-metragem. Para isso melhoramos ainda mais a parte técnica, captação de áudio, qualidade do vídeo, e começamos a trabalhar mais o elenco. Eu fiz uma reunião com algumas pessoas através da internet e divulguei um teste de elenco no Sesc Tijuca, no Rio de Janeiro, dia 4 de agosto. A procura foi muito grande, já temos 80 atores lá”, comemora o produtor.
A vocação para a edição não demorou a render outros convites. Após ter sido personagem de matéria, Victor foi chamado a trabalhar no SBT, onde ficou por dois anos. "Até hoje o Paulo Carvalho nos empresta sua voz para a narração de nossos traillers. Deixamos muitos amigos por lá, e também na InterTV, onde trabalhei em seguida”, recorda. E seu trabalho também abriu portas a outras pessoas, à frente e atrás das câmeras. "Não temos meio de pagar cachês, mas cobrimos os custos de viagem e alimentação de quem vem para atuar através de parcerias. As pessoas nos procuram apesar disso, porque nos tornamos uma ponte entre esses talentos e a televisão. Muita gente que trabalhou conosco já conseguiu trabalho em outras tevês porque foram vistos em nossas produções.”
Multifuncional, Victor é também o roteirista da produtora. "Muitas pessoas nos procuram com bons roteiros, mas nossas limitações financeiras não nos permitem gravar qualquer história. Por isso eu mesmo acabo escrevendo os textos, pensando desde o início naquilo que pode ser feito, e qual parceria pode nos ajudar.”
Mas não é apenas o trabalho de Victor que explica o sucesso da Telemilênio. Ao longo dos anos a equipe sofreu um processo de seleção natural, agrupamento as pessoas que no caminho foram descobrindo a vocação e o desejo de seguir essa carreira. O ator friburguense Vinícius Lourenço, de apenas 25 anos, é um desses nomes. "Eu comecei no finalzinho de 2010, quando conheci o Victor pessoalmente, e estou na equipe até hoje. Sempre gostei de televisão e jornalismo, mas não pensava em ser ator antes disso. A experiência, no entanto, me ensinou a gostar mais da atuação. Já participei de uma dezena de trabalhos, e agora é esse caminho que eu quero seguir”, explicou.
Jovens talentosos, dedicados, bem relacionados e fiéis a quem os apoiou nos primeiros momentos. O sucesso dos integrantes da Telemilênio está apenas começando, e é o resultado inevitável diante das boas sementes que têm sido plantadas ao longo do caminho. Apoiá-los nesta fase da carreira, portanto, não significa apenas ajudar a quem merece, ou propiciar a Nova Friburgo a oportunidade de ser notícia por questões de natureza cultural. Por tudo que já mostraram ser capazes de fazer, investir em seus trabalhos é também um ótimo negócio ao alcance do empresariado local.
Deixe o seu comentário