Alessandro Lo-Bianco
O Dia dos Pais passou a ter um novo sentido em minha vida depois que a Valentina nasceu. A data, antes reservada ao meu pai e ao meu avô no calendário da família, passou a ser o meu dia também. Quem já é pai ou avô sabe o que significa este nobre sentimento, que vem do verbo "pertencer”; e quem ainda não é, acredite: não é pouca coisa. Não é, porque já ansioso pela chegada do Dia dos Pais, a retrospectiva da paternidade surge automaticamente em nossa cabeça como um filme que começa preto e branco e termina colorido, em formato 4D.
É inevitável que, ao escutar um "Feliz Dia dos Pais”, algumas lembranças apareçam, como, por exemplo, a notícia da gravidez. A minha aconteceu de forma reveladora. Um dia depois de assistir ao filme "Nosso Lar”, sonhei que acompanhava um pedacinho de gente no "Ministério da Reencarnação”, tal como era no filme. No sonho, a pequena me olhava e perguntava: "Papai, você vai me acompanhar até o final?”, e eu respondia: "Papai só vai sair do seu lado quando você dormir”.
Uma semana depois, descobrimos que estávamos grávidos e eu não tinha dúvidas quanto ao sexo. Quando ela nasceu, o pai gritou: "Não precisa chorar filha, papai está aqui, vem cá!”. Derrubei a bancada de instrumentação e fui expulso da sala de cirurgia para não atrapalhar o término dos procedimentos. Tudo isso, quase nada perto de quando vi o sorriso dela, puro e feliz ao sentir, aos sete meses, pela primeira vez, o gosto de uma melancia ou, a primeira vez — sim, de novo, porque ainda viveremos, ao longo da vida, muitas ‘primeira vez’ — em que senti o olhar preocupado da Valentina: ainda no meu colo, observava se eu iria retribuir, por meio de uma postura confiante que ela poderia proceder (?????), desfrutando da sua mamadeira quando estranhava, pela primeira vez, que o gosto de uma água de coco não tinha o mesmo sabor da antiga água comum, que até então era a única que conhecia.
Coisas ainda poucas perto do sorriso que vi quando experimentou pela primeira vez uma batata frita do Mc Donald’s (até então era o nosso primeiro segredo, selado quando tinha um ano de idade), e, menor ainda, perto daquela gargalhada inesquecível que ela deu quando escutou o primeiro "craque” ao morder um biscoitinho de polvilho. A barriga parecia que ia explodir de tanto biscoito que comeu em troca daquele delicioso barulhinho seguido de uma gargalhada, que também se tornou coisa pouca perto da preocupação que tive ao vê-la golfar, de uma só vez, o saco inteiro de volta, ainda em meio a gargalhadas.
Neste domingo, teremos nosso segundo Dia dos Pais. Ainda não sei o que vamos fazer. Mas sei que, às 10h em ponto, estarei pronto para pegá-la, e desfrutaremos o meu dia; meu, porque ela existe. E é justamente porque elas, essas crianças, esses filhos existem, que nós, homens, podemos sentir um pouquinho o que é ser parte de Deus. Feliz Dia dos Pais.
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