Uma aula de economia de produção com conceitos novos para que os empresários possam desenhar o próprio futuro na indústria criativa. Esse foi o cenário da palestra “A Visão do Futuro dos Setores Têxtil e de Confecção Brasileiros”, nesta quinta-feira, 3, no Senai Espaço da Moda, em Nova Friburgo. A palestra foi ministrada por Flávio Bruno, pesquisador do Senai Cetiqt, que desenvolve uma pesquisa em conjunto com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) com foco na indústria de 2030.
Segundo o palestrante, a economia regional teve uma fase de florescimento e agora vive um momento de impasse. O modelo atual de produção, de aglomerados e locais, está em apuros. Para ele, essa dificuldade, no entanto, se deve a um movimento muito maior do mundo provocado principalmente pela globalização, pela produção asiática e de baixo custo. “Nós confrontamos dois modelos que não são congruentes: o modelo global de grandes escalas atacando um modelo local. Esse fenômeno não deveria ocorrer, porque todo modelo local de arranjos funciona justamente ao contrário, se impondo não pelo baixo valor de produção, mas pela inovação, pela diferenciação, pela customização e pela identidade do local”, explica Flávio. Para o especialista, esse choque traz uma contradição. “Quando isso começa a acontecer na prática e as indústrias locais começam a sofrer os efeitos desse processo é porque alguma coisa está equivocada”.
O roteiro da palestra seguiu a mudança do contexto de globalização, mostrando a ideia de baixo custo e de exploração do trabalho nas regiões mais longínquas do mundo. O pesquisador demonstrou que esse cenário causa problemas muito profundos que impedem os investimentos em tecnologia e começam a inibir o desenvolvimento no mundo inteiro. Segundo Flávio Bruno, as pesquisas apontam que esse fenômeno vai incentivar um retorno da produção nos países centrais, como Estados Unidos, Alemanha e Itália. “Vamos deixar de competir com um mundo de larga escala, de exploração do trabalho, de baixo custo e de baixa qualificação para competir novamente com esses países centrais”, reitera. O especialista acredita que é preciso rever os modelos de aglomeração e as políticas relacionadas a eles para que as indústrias possam se capacitar tecnologicamente. Não apenas comprando máquinas novas, mas fazendo um trabalho especializado que mesclasse produto e serviço — outra visão empresarial.
A palestra foi uma demanda do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Rio de Janeiro (Sinditextil) e é fruto de uma parceria entre o Sistema Firjan e o Senai Cetiqt. Segundo o presidente do sindicato, Carlos Ieker, a proposta tem o objetivo levar conhecimento para o setor. “Como a nossa cidade respira confecção, nada mais completo que uma palestra com tendências não só de moda, mas de negócios e processos de trabalho, comportamento empreendedor e adaptável, que é importante para enfrentar o futuro competitivo”, pondera. Carlos avalia que o momento é oportuno para discutir novos modelos e afirma que além de investimento em tecnologia, é preciso analisar as informações do cenário mundial para mudar os modelos internos dos processos das empresas. “Só assim o nosso setor conseguirá desenvolver o potencial criativo para competir no mercado com os produtos de baixo custo”, conclui.
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