Sem pagamento, servidores da Uerj reduzem horário

Apesar de liminar judicial obrigando pagamento em 48 horas, governador Pezão afirma não ter recursos para quitar salários.
sexta-feira, 30 de junho de 2017
por Karine Knust
O campus da Uerj em Nova Friburgo (Foto: Arquivo AVS)
O campus da Uerj em Nova Friburgo (Foto: Arquivo AVS)

 

 

As aulas referentes ao ano letivo de 2016 no Instituto Politécnico da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IPRJ-UERJ), em Nova Friburgo, foram retomadas em abril, mas os problemas estão longe de acabar. Recebendo os salários atrasados e em parcelas desde maio do ano passado, servidores da instituição estão reduzindo a carga horária de trabalho. Intitulada “Operação Tartaruga”, além de tentar chamar a atenção do poder público, a medida vem sendo tomada devido às dificuldades financeiras de muitos funcionários.

“Estamos trabalhando, mas não em uma rotina normal. Os setores onde há atendimento ao público só estão funcionando de 10h às 12h, já os demais funcionam conforme a possibilidade. Isso porque alguns seguidores sequer têm dinheiro para o transporte. Para se ter uma ideia, o campus não tem funcionário de manutenção há mais de um ano e o setor administrativo não pode imprimir documentos porque estamos há um ano e meio sem receber verba para compra de cartucho”, afirma o técnico universitário do IPRJ, Geraldo Kern.

Ainda segundo Geraldo, o último pagamento recebido pelos servidores foi o referente a abril de 2017. “O governo depositou, este mês, parte do salário de abril. Até agora foram quatro parcelas: a primeira de R$ 700, a segunda de R$ 300, a terceira no valor de R$ 450 e a quarta no valor de R$ 250, depositada nesta quarta-feira, 28. Pior do que receber o salário dessa forma é não saber quando o restante será pago. Levamos mais de dois meses para a parcela do pagamento de abril sair”, conta Geraldo, que já possui uma dívida de mais de R$ 8 mil em cheque especial devido ao problema.

“Estamos fazendo uma verdadeira ginástica financeira. Tirei minha filha dos cursinhos que fazia para ter que me preocupar em tentar pagar apenas os gastos indispensáveis e estou dando conta de pagar apenas os juros do banco”, desabafa o servidor.

Além dos atrasos nos salários, professores que recebem adicional por produtividade em ciência e alunos bolsistas também amargam cinco meses sem receber. Atualmente, o campus da Uerj em Nova Friburgo possui cerca de 650 alunos, incluindo estudantes de pós-graduação. Destes, 245 se mantêm com auxílio de bolsa.

Liminar

Na última quinta-feira, 29, o juiz Alberto Nogueira Júnior, da 10ª Vara Federal do Rio, intimou o governador Luiz Fernando Pezão a cumprir, em até 48 horas, uma liminar que obriga o estado a pagar os salários dos servidores da Uerj. A multa prevista para o descumprimento da decisão é de R$1 mil por dia.

No início deste mês de junho, o mesmo juiz já havia determinado que o governo do estado igualasse os calendários de pagamento da Uerj e da Secretaria Estadual de Educação - embora seja uma instituição de ensino pública, a Uerj é vinculada à Secretaria de Ciência e Tecnologia, assim como as demais universidades do estado e a Faetec, que oferece cursos técnicos de nível médio. Até o momento, no entanto, nada mudou.

A VOZ DA SERRA entrou em contato com a Procuradoria Geral do Estado para saber quais medidas serão tomadas pelo governo quanto a regularização no pagamento de salários. Em resposta, a pasta afirmou apenas que ainda não foi notificada da decisão.  

Na tarde desta quinta-feira, após a assinatura da renovação do convênio da Operação Centro Presente, Pezão pediu desculpas ao servidores do Rio afirmando que, apesar da determinação judicial, não tem recursos para pagar os salários dos servidores da Uerj. O governador ainda declarou em entrevista concedida à imprensa que deve conseguir colocar o pagamento do funcionalismo em dia em até 60 dias após a aprovação do projeto do teto dos gastos dos poderes do estado na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

“Estou muito tranquilo (com a decisão da Justiça). Não tenho dinheiro no caixa para pagar. Estou recebendo junto com a Uerj. Recebi ontem [quarta, 28] também os mesmos R$ 250 que um funcionário da Uerj recebeu. É um momento de dificuldade nossa. Tenho certeza que vamos terminar. Quero chegar em agosto já sem os bloqueios. O maior compromisso até o fim do meu mandato é com o funcionalismo público. Quero pedir desculpas por tudo que o funcionalismo tem passado com os atrasos. Mas tenho certeza que vou chegar ao fim de 2018 com todos os salários em dia”, afirmou Pezão.

Prenúncio de greve

A situação crítica em que ainda se encontra a Uerj está por gerar mais uma paralisação por tempo indeterminado. Em nota oficial divulgada em seu site, a Associação de Docentes (Asduerj) informou que a instituição pode voltar a ter greve caso os pagamentos não sejam regularizados até agosto. “Se o governo não pagar o 13º salário de 2016 e os salários atrasados; pagar as bolsas atrasadas dos estudantes; recompuser o orçamento da Uerj para pagar as despesas de manutenção e custeio; liberar as promoções e progressões; as aulas não serão retomadas em agosto após o recesso de meio de ano. Ou o governo paga o que deve à Uerj ou as aulas vão parar!”, afirma o trecho da nota.

Na última semana, o campus da Uerj em Nova Friburgo completou 20 anos de fundação. Para Geraldo, a situação é cada vez mais desanimadora. “Comemoramos o aniversário da instituição, mas é muito triste ver o que está acontecendo. Estamos tentando manter nosso trabalho porque amamos a universidade, mas assistir o que o governo tem feito da Uerj é desapontador”, diz ele.

Nesta sexta-feira, 30, não haverá aula devido à greve geral.

 

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