Secretário do Trabalho diz que candidatos a emprego não são bem preparados

terça-feira, 07 de abril de 2009
por Jornal A Voz da Serra
Secretário do Trabalho diz que candidatos a emprego não são bem preparados
Secretário do Trabalho diz que candidatos a emprego não são bem preparados

O secretário municipal do Trabalho, Ronaldo Calvo, é enfático ao falar sobre a realidade do emprego em Nova Friburgo. “Acho que vou criar um problema sério, porque tenho a ousadia de dizer que não vejo desemprego nem em Friburgo nem no Brasil. O que eu vejo são pessoas desqualificadas para as vagas que existem”, afirma.

Segundo Ronaldo Calvo, centenas de empregos estão sendo oferecidos no balcão de empregos da Prefeitura, todos com carteira assinada e direitos garantidos, mas, das duas uma: ou esses empregos não interessam, ou se dirigem a pessoas que precisam ter mão-de-obra qualificada. O fato é que a maior parte das centenas de pessoas que procuram diretamente a secretaria ou os empregadores em potencial não têm sucesso em sua busca de emprego.

“Eu não estou falando, estou mostrando”, diz o secretário, exibindo uma pilha de currículos de um lado da mesa e, do outro, uma listagem com mais de 400 vagas que não consegue preencher: de garçom, pedreiro, bombeiro, cabeleireiro, manicure, mecânico, encarregado de obras, eletricista, representante comercial, vendedor, propagandista, caseiro, promotor de vendas e até de professor de espanhol. Só para costureiras, no momento existem 250 vagas.

Advogado concorrido, especialmente na área criminal, Calvo se orgulha de nunca ter perdido um júri. Ele acredita piamente na educação como uma forma de subir na vida, mas acha que as pessoas estão atirando para todos os lados, fazendo cursos e mais cursos sem, entretanto, se prepararem devidamente para as reais exigências do mercado de trabalho. “Todo mundo quer ser doutor, quer ter faculdade, fazer cursos de pós-graduação, mas depois não consegue emprego em suas especialidades. Esta tradição do canudo é uma coisa absurda e é ela que está provocando o famoso desemprego”, afiança. “Ou seja, o desemprego existe porque o desempregado não se preparou para se empregar”, observa.

Suas declarações, além de bombásticas, são, até certo ponto, polêmicas. Mas, com sua verve treinada durante anos e anos nos tribunais, defende seus argumentos com unhas e dentes, tornando-os irrefutáveis. Há algumas semanas o secretário foi sabatinado na Câmara por representantes de diversas entidades e sindicatos. Em pauta, o desemprego no município, que vem atingindo, verdade seja dita, índices preocupantes. Segundo os sindicalistas, nos últimos cinco meses - de outubro do ano passado a março deste ano - 274 trabalhadores do setor metalúrgico perderam seus empregos e 416 trabalhadores de hotéis, restaurantes e condomínios foram demitidos. E não foi só. Só o setor têxtil demitiu 340 operários ao longo de 2008 e 30 no início do ano. No setor de vestuário a situação foi ainda pior. Entre janeiro e fevereiro de 2009 houve nada menos que 511 demissões, contra 350 no ano passado.

A VOZ DA SERRA ouviu o secretário para saber o que ele pensa sobre este e outros assuntos que interessam de perto ao povo friburguense.

A VOZ DA SERRA: Senhor secretário, o índice de demissões apontado pelos representantes dos trabalhadores durante recente reunião na Câmara corresponde, de fato, à realidade? O que o senhor tem a dizer sobre este assunto?

Ronaldo Calvo: Em primeiro lugar, não temos um balanço oficial sobre esta questão. O que existe, por enquanto, resulta apenas de um trabalho feito pelos sindicatos. O planejamento da secretaria prevê a realização de um levantamento que nos forneça todo um aparato de informações a respeito do número de demissões e contratações no município. Mas nós não sabemos sequer quantas empresas de vestuário temos em Friburgo! Calculamos que haja de dois a cinco mil, porque muitas estão no patamar da ilegalidade. Mas levando em conta os dados do sindicato, se a gente colocar, digamos, 2.500 empresas, vamos verificar que a taxa de demissões seria de 5% por empresa, em média. Agora, eu pergunto a você: quantas pessoas foram contratadas por estas mesmas empresas? Indo mais além e analisando a economia local como um todo, acredito que foram contratadas, em Friburgo, no mínimo três mil pessoas entre os meses de janeiro e março.

Só nós aqui conseguimos encaixar 910 pessoas no mercado de trabalho neste último trimestre.

AVS - Afinal, a recente crise mundial vem afetando ou não a questão do emprego em Nova Friburgo?

Ronaldo - No nosso caso não podemos culpar a crise. Eu desafio o empresário, o industrial ou o comerciante a me provar que estão deixando de vender em razão da crise mundial. O dólar permanece estável. As compras e vendas continuam no mesmo diapasão de sempre. Os bancos continuam emprestando com os mesmos juros malucos de sempre. A crise está afetando, sim, a economia do país e, consequentemente, a distribuição de renda e até de verbas federais cai. A crise nos atinge neste nível, mas é só.

AVS - Em sua opinião, qual a principal causa do desemprego?

Ronaldo - O problema é que as pessoas não querem trabalho, querem é um emprego. Não deveria ser assim, mas é. Trabalho e emprego são coisas totalmente diferentes. Vou lhe ser sincero. Veja aqui na prefeitura, por exemplo. A maioria dos funcionários, de dez anos para trás, não tem iniciativa, não tem vontade de trabalhar. Se você pede para fazer algo, ele faz, mas depois senta e vai descansar, porque tem certeza de que vai receber R$ 469 no final do mês. Ou seja, ele não acredita em seu próprio potencial, em sua capacidade.

AVS – E qual é a real situação do emprego no município?

Ronaldo - O que eu vejo, principalmente aqui em Friburgo, são pessoas desempregadas por um simples motivo: não têm qualificação ou objetivo profissional. E vejo empregos à vontade para quem se prepara para buscar os empregos disponíveis. Observe este currículo aqui: a moça tem curso de rotinas administrativas, curso superior de Direito e Gestão de Negócios, com habilitação na Ordem dos Advogados, tem curso de Excelência no Relacionamento Interpessoal de Trabalho em Equipe, de informática, participou de diversos fóruns de debates etc etc. Esta moça provavelmente vai ficar desempregada, porque, apesar de ter investido tanto em sua formação, seu currículo é uma salada de frutas. Fez vários cursos, atirou para todos os lados, mas não objetivou nenhum. A verdade é que enquanto você não souber se empregar, não vai ser empregado. As pessoas que têm sucesso na profissão são aquelas que sempre souberam o que queriam e seguiram aquele foco, aquela meta. A grande maioria não sabe o que quer, faz todo tipo de curso, sai atirando para todos os lados, achando que um deles vai abrir as portas do mercado de trabalho, o que não acontece.

AVS - O senhor acredita que o mundo de hoje é mesmo dos especialistas?

Ronaldo - Com certeza. O problema é que para chegar a ser um especialista é preciso muita dedicação. Um bom modelador já entra numa confecção ganhando R$ 1.800 a R$ 2 mil, mas conheço uma série de modeladores que não querem ser empregados de ninguém, pois são muito bem pagos pelas modelagens que criam. Idem para estilistas e até mesmo costureiras, que encontram trabalho a qualquer hora, em qualquer lugar. E não estou me referindo àquelas que trabalham com moda íntima, não. Qualquer pessoa que sabe costurar bem pode faturar até mais de R$ 2 mil por mês com seu serviço, sem depender de patrão.

AVS - Quais os projetos que estão sendo implantados na secretaria visando a aquecer o mercado de trabalho local?

Ronaldo - Por enquanto somos uma secretaria executiva do Programa de Desenvolvimento do Trabalho, mas já está na Câmara um projeto para transformá-la em secretaria municipal. Com esta mudança estamos pretendendo elaborar alguns trabalhos de suma importância, como o levantamento verdadeiro da real necessidade do município no setor. Acredito que a saída está na formação de técnicos voltados para o mercado de trabalho e no incentivo ao empreendedorismo. Para tanto, além dos 15 cursos profissionalizantes na área de moda, estamos colocando em prática projetos novos, como o Pró-Jovem, que capacitará 350 jovens nas mais diversas carreiras, como auxiliar administrativo, cabeleireiro, manicure, técnico de computador etc. O município também dispõe do Plantec, com 500 vagas para técnicos voltados à construção civil. Também estamos nos preparando para assumir o Centro Vocacional Tecnológico (CVT) de Olaria. Ao todo, 853 pessoas estão sendo preparadas por estes cursos.

AVS - O senhor é otimista ou pessimista com relação ao futuro imediato de Nova Friburgo no que diz respeito ao trabalho?

Ronaldo - Otimista, com certeza. Mas é preciso mexer com este povo, que deve parar de se lamentar e começar a criar. Antes de tudo, creio no potencial do ser humano. E por isso mesmo eu digo e repito: não existe desemprego; existem pessoas sem emprego porque não têm qualificação.

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