(SECOM) - O Dia era Nacional da Cultura – 05 de novembro – e a Secretaria Municipal de Assistência Social promoveu palestra sobre População em situação de rua no Salão Azul da Prefeitura, ocasião em que receberam os convidados o vice-prefeito de Nova Friburgo, Dermeval Barboza Moreira Neto; o secretário interino de Assistência Social, Diogo Celles Cordeiro Silva e o médico e palestrante Ivo Lima Kelis, responsável por um estudo sobre o tema, que contou com a ajuda da pedagoga Tânia Machado.
A palestra, considerada pelo próprio psicanalista e psiquiatra Ivo Kelis, como um bate-papo, durou cerca de duas horas, abordando um tema polêmico, porém de responsabilidade de todos os cidadãos brasileiros. Com as presenças dos secretários de Comunicação Social, Girlan Guilland e de Planejamento, Antonio Carlos Mastrangelo Teixeira; do comandante da Guarda Municipal, major Alexandre Pitaluga; de funcionários da Secretaria de Assistência Social, bem como da Autarquia Municipal de Trânsito (Autran), da Clínica Santa Lúcia, entre outros. O assunto foi tratado como preconiza a Constituição Federal, que considera os moradores de rua como uma população em situação de rua.
O vice-prefeito Dermeval, que atua há muitos anos na Clínica Santa Lúcia, conhece bem o assunto, pois há alguns anos era desenvolvido o projeto Refletir, através de convênio com a Prefeitura, possibilitando um diálogo com moradores em situação de rua, a partir do trabalho de voluntários e diversos profissionais de uma rede multidisciplinar. O objetivo era a reinclusão social. “Precisamos respeitar o direito do outro, mesmo que seja o de estar na rua. Mas é preciso tomar cuidado em como fazer isso e não tirar o pouco que lhe resta, sem oferecer nada”, comentou.
Pontos para reflexão
Vários pontos foram destacados pelo palestrante para uma profunda reflexão, entre os quais: “percebe-se que o morador de rua dificilmente é visto sozinho e reparte o pouco de tudo que tem; e quem está na rua não está em lugar algum. É preciso fazer, sempre no momento presente, o que for possível pela população em situação de rua. O morador de rua sofre de solidão e, por isso, existe a necessidade de um juntar-se a outro e a outro. E quanto mais tempo ele passa na rua, mais fácil torna-se um hábito”, destacou Ivo, que ao falar da importância do apoio do poder público para promover ações que contribuam para minimizar ou resolver a situação, citou o prefeito Heródoto Bento de Mello como um ser humano que, embora represente a tradição, deseja renovação para continuar uma bonita história. E dirigiu-se ao secretário Diogo, dizendo que ele “está tendo a chance de fazer o bem”.
O psicanalista relacionou os grandes bens que todo ser humano tem: a morte, pois ninguém quer viver eternamente, mas a cada dia morre-se um pouco; a saúde (física e mental), o maior de todos os bens, mas a que não se dá valor, a não ser quando se perde e a liberdade, que possibilita as diversas escolhas da vida.
Estudo para prevenção
“O estudo mostra a necessidade de realizar um trabalho preventivo com as crianças de rua, que consomem crack, uma droga ilícita barata que vicia, mata e leva a diversas formas de crime, e seu consumo deve-se ao prazer imediato”; disse Kelis, além de considerar a viabilização de um abrigo estruturado para funcionar como um centro de ressocialização, “mas que ofereça atividades de lazer e profissionalizantes, terapias ocupacionais, que causem prazer ao morador de rua, ao invés do álcool e/ou a droga, que muitos deles consomem”, disse Ivo, acrescentando: “A alimentação é tão importante quanto à recepção, o respeito, a solidariedade, a simplicidade e o amor. É necessário apresentar uma possibilidade de mudança”, destacou o médico.
Segundo ele ainda, por ser considerada uma pequena metrópole, uma referência regional, Nova Friburgo atrai população em situação de rua. “Ao mesmo tempo em que o povo discrimina o morador de rua, ele acolhe, oferecendo o que tem em excesso. Dos 191 milhões de brasileiros, só 18% estão nos campos, mas já dizia Pero Vaz de Caminha que “a terra é boa e em se plantando tudo dá”. Precisamos pensar o dia a dia, sem desviar o olhar e formarmos grupos de trabalho, sem fim. A inclusão social é um grande desafio e a chave é a educação. Confúcio dizia que temos medo de ser ridículos e não tomamos a iniciativa, e isso destrói a nossa criatividade”, explicou.
O secretário interino de Assistência Social e os profissionais da área que atuam em Nova Friburgo, através de diversos programas criados pelos governos federal, estadual e municipal, informaram que através dos Centros de Referência Especializados em Assistência Social (Creas), sempre que possível, cadastram-se os moradores de rua para ajudá-los, dentro das possibilidades, oferecendo banho, alimentos, roupas e calçados, quando necessário, além de terapias ocupacionais. “Para que o trabalho obtenha resultados satisfatórios é imprescindível também que o morador de rua queira se cuidar e ser cuidado”, disse Ivo, antes de encerrar a palestra.
Depoimento
Agamenom Celestino Bezerra, de 52 anos, deu seu depoimento durante o evento. Ele foi morador de rua e hoje encontra-se incluído na sociedade. Agamenon é natural de São Gonçalo, veio para Nova Friburgo há 15 anos, e há 12 aproximadamente, é assistido pelos profissionais da Clínica Santa Lúcia, onde atualmente, inclusive, trabalha. Sempre que possível Agamenon leva suas palavras experientes a pessoas que fazem parte de uma população em situação de rua. Ele não se intimida em falar em público que morou em lixão e se alimentou de restos de comida. “Tentei muitas vezes me reabilitar, mas me deparei com o preconceito; muitas portas se fecharam e sofri discriminação. Cheguei a consumir cinco litros de álcool por dia, parei de beber e voltei. Vegetei. Mas ninguém me mandava! O pessoal da Clínica Santa Lúcia me deu apoio, mas fugi. Foi difícil, mas me reergui. Não uso mais álcool. Viver na rua também é muito difícil. Meu Natal era com pão velho e água suja; eu rezava para passar um caminhão de lixo para eu ter alimento. Eu dormia com um olho na missa e outro no padre”, relatou sua realidade e a de muitos outros.
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