Mais que a deficiência estrutural aliada a falta de equipamentos, o grande entrave para o melhor funcionamento da saúde pública em Nova Friburgo é mesmo a carência de pessoal. A constatação — já sabida por quem trabalha no setor e, principalmente, por quem busca atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) e não consegue — é do secretário municipal de Saúde, Dagoberto José da Silva. Segundo ele, faltam pelo menos 300 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e pessoal de apoio no Hospital Raul Sertã e nas Unidades Básicas de Saúde espalhadas pelo município. E o pior, parece não haver solução para o problema a curto prazo. Dagoberto observa que uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo poder público hoje para atrair novos profissionais de saúde é o salário pouco atrativo oferecido pela Prefeitura de Nova Friburgo e que não foi corrigido nos últimos anos. Médicos se queixam dos salários de cerca de R$ 4 mil para um plantonista.
"Nos últimos 40 dias a Prefeitura convocou mais de 500 aprovados nos concursos públicos anteriores (1999 e 2007) para preencher vagas na saúde. Apenas 80 se apresentaram. Os demais não quiseram ou porque já estão estabilizados em outros empregos ou ainda porque os salários que oferecemos não atraem. As vagas acabam ficando em aberto”, lamenta Dagoberto, lembrando que não há como aumentar os salários oferecidos, pois assim a Prefeitura de Nova Friburgo desrespeitará a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que limita o gasto com o pagamento do funcionalismo em até 60% do orçamento municipal.
O secretário de Saúde observa ainda que muitos médicos não se interessam por trabalhar na rede pública. É o caso dos especialistas em angiologia (tratamento de varizes), por exemplo. Dos sete profissionais residentes no município, somente um aceitou trabalhar no SUS. "Obviamente a demanda de pacientes não é suprida”, constata Dagoberto. Para piorar a situação muitos profissionais de saúde têm deixado a rede pública comprometendo serviços básicos. Essa semana, inclusive, o colunista de A VOZ DA SERRA Giuseppe Massimo noticiou a paralisação forçada do atendimento no serviço de patologia cervical (tratamento do câncer de colo do útero) no ambulatório do Hospital Municipal Raul Sertã.
A unidade era a única do SUS no município a oferecer esse tipo de atendimento com dois ginecologistas para o tratamento e prevenção de um dos cânceres que mais mata mulheres no Brasil. Uma profissional demitiu-se em junho. Outro ginecologista que já trabalhava no setor absorveu a demanda da colega, mas foi dispensado esse mês por possuir mais de uma matrícula na rede, segundo informações de funcionários do ambulatório repassadas aos pacientes. Quem não puder pagar pelo tratamento na rede particular terá que buscar agora o atendimento especializado em unidades do SUS em outros municípios até que outro ginecologista seja contratado para o ambulatório do Raul Sertã.
Médicos estrangeiros seriam uma solução
O secretário municipal de Saúde, Dagoberto José da Silva, lamenta também que nenhum médico estrangeiro que se candidatou para a força-tarefa do governo federal, o programa Mais Médicos — que espera ampliar o atendimento de saúde pública no país — tenha optado por Nova Friburgo para trabalhar. O salário oferecido pela União é de R$ 10 mil por mês. Ao se candidatar para o novo programa, os médicos estrangeiros optam pelos municípios preferidos. No estado do Rio de Janeiro, foram selecionados apenas 70 médicos para a frente de trabalho temporária, nenhum deles para os municípios do Centro-Norte fluminense.
Semana passada em reunião com o secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, para discutir o gerenciamento do futuro Hospital Regional de Nova Friburgo, em conjunto com as prefeituras vizinhas, o prefeito Rogério Cabral observou que em janeiro durante um "choque de gestão” no Centro de Tratamento de Urgência (CTU) do Hospital Raul Sertã observou-se que a carência era de pelo menos 77 médicos e a unidade dispunha somente de 30 profissionais. Foram contratados 40 novos médicos, mas, em contrapartida, a demanda por atendimento triplicou.
"Quando os pacientes de outros municípios souberam que em Nova Friburgo o atendimento melhorou com a contratação de novos profissionais automaticamente a demanda por atendimento no Hospital Raul Sertã e nos postos aumentou. É um problema de difícil solução e não podemos negar atendimento restringindo-o apenas aos moradores de Nova Friburgo”, comenta o prefeito.
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