Saudades do pré-Anchieta

segunda-feira, 11 de abril de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Parece que foi ontem, mas fazem 4 anos que eu entrei apavorado no pré-Anchieta. A minha ex-esposa havia se mudado para Petrópolis há 6 meses e eu tinha a guarda judicial dos meus 2 filhos, ainda bem pequenos. Em vistas de ter ficado com os meninos, um de 4 e outro de 7 anos, não havia outra alternativa senão a de decidir a vida deles sozinho. Aos quase 50 anos, eu tinha que fazer tudo do meu jeito. Mas que jeito, visto que eu nunca havia criado filhos? A solução que tive foi a de imitar minha mãe, que era minha única referência. Devia mudar eles de escola pois estudavam num colégio fraco, segundo a suposta visão da minha já então falecida mãe, dona Wanda. Achei que ela escolheria o Anchieta e, assim, parti para lá. O único contato que tinha em princípio era com a Beth do Dirsinho e foi procurando por ela que entrei na escola. Fui muito bem-recebido e logo encontrei outros conhecidos por lá. Em poucos minutos parecia que eu estava em casa. Encontrei a Denise, irmãzinha do Boa Nova, e daí fui apresentado a diretora, a doce mãezona Neila, a quem narrei a situação. Ela me explicou tudo como se compreendesse de pronto a minha circunstância de pai/mãe meio perdidão. Foi assim que começou a minha relação inesquecível com aquela maravilhosa equipe institucional. Aos poucos fui conhecendo todos os funcionários e professores, gente humana de verdade; que equipe!!!

Hoje fazem 5 anos, o primário dos meus filhos acabou e eu não sei como vou ficar longe daquele grupo. Sinto saudade logo no primeiro dia e por isso escrevo a todos. Tudo passou muito rápido e parecia que nunca iria acabar...

Ainda lembro bem do começo quando eu ficava olhando da grade as turminhas cantando o hino nacional na entrada das aulas e, em seguida, dois alunos eram escolhidos para hastear a bandeira do Brasil. Às vezes um dos meus filhos era o escolhido e eu esperava a cerimônia acabar e seguia para o carro chorando escondido. Outras vezes ficava encostado na grade apenas observando meus filhos entrarem com o coração apertado de estar vivendo aquilo tudo sozinho porque a mãe deles havia mudado para outra cidade. Difícil, ou impossível, é esquecer as festas da Tia Márcia com seus musicais lindos e os corais da molecada parecendo gorjeio de passarinhos. Chorar então, nem se fala, em todas as oportunidades em que meu Waltinho cantava solo nas festas dos dias das mães, dos pais, dias da família, coroação de nossa senhora e outras oportunidades também imensamente emocionantes. E agora, gente, como ir embora? Acabou o primário dos meus dois meninos e nós não teremos mais a rotina de estar com vocês, funcionárias do pré, todos os dias de nossas vidas. É claro que podemos visitá-las e também encontrá-las na rua, mas não é a mesma coisa...

Além de externar meus sentimentos, agradecimentos e parabenizar pelo trabalho dessa equipe, venho também cumprir uma promessa que fiz a mim mesmo de expor para a diretoria geral do Colégio Anchieta a minha opinião sobre a imensa diferença de qualidade entre a administração do pré-Anchieta em relação ao Anchietão, que eu chamaria, se fosse escrever uma das minhas crônicas para jornais e revistas, de “uma escola sem alma”. Sobre essa matéria que vou escrever em diante quero explicar que minha intenção é a de ajudar, pois as mesmas críticas que farei são feitas por inúmeras pessoas que talvez também queiram colaborar como eu, e nunca encontraram em canal de diálogo que, por sinal, é uma das características negativas que desejo enfatizar. Passo agora a fazer uma lista do que achei de inferior na administração do Anchietão em relação a do pré- Anchieta, sendo que essas diferenças criam um imenso abismo entre as duas escolas que certamente não são a mesma instituição em termos de proposta educacional e mesmo em termos de ética e moral humana:

- Sugere-se a diminuição da dificuldade de comunicação entre pais e administração sendo que a coordenadora pedagógica nem cumprimenta os pais de alunos, demonstrando sua imensa dificuldade de se relacionar com o público em geral, o que hoje é premissa inconteste para o bom desempenho de qualquer empresa. O homem vive em sociedades e o cumprimento é característica básica da boa educação. A falta de diálogo é notória enquanto que no pré nós temos acesso direto com a diretora e sua equipe.

- Sugere-se a não separação dos colegas de mesma turma que vem do pré, separação essa que desfaz laços importantíssimos para a vida adulta. Essa proposta de separação me lembra a ditadura militar do Brasil, quando grupos permanentes eram tratados como quadrilhas e por isso eram desfeitos.

- Sugere-se a “educação ligada às artes”, o que hoje é de consenso geral dos estudiosos da área de ensino.

- As reuniões de pais e professores do Anchietão são de qualidade infinitamente inferior às do pré-Anchieta, pois o que se mostra em tais encontros são materiais defasados, slides e filmes velhos e antiquados, e pouco se discute sobre o projeto educacional da escola. Os pais são muito pouco ouvidos, como se isso fosse prejudicial ao bom andamento das reuniões, enquanto no pré as reuniões são de diálogo aberto e franco, tornando-as encontros fraternos encantadores. O que parece é que há medo do embate de opiniões entre administração e pais, enquanto o que sabemos é que crescemos através dos embates.

- Sugere-se a redução do número de alunos por turma para melhor aproveitamento dos estudantes.

- Sugere-se o oferecimento da opção de dois turnos pois muitas vezes as famílias são de dois ou mais filhos e separação deles não é interessante, além do que, isto produz uma bagunça na organização familiar. Se escolas menores oferecem dois turnos, porque não o Anchieta?

- Sugere-se a promoção de eventos culturais e artísticos pois assim podemos desenvolver o emocional das nossas crianças e jovens.

Meu filho mais velho está no terceiro ano do Anchietão e ainda não consegui ver o rosto da escola, visto que ninguém se apresenta realmente para tratar de assuntos de interesses óbvios, deixando assim uma imagem de instituição fria.

Enfim quero re-interar ao Reitor e demais membros da administração que nossa intenção é a de melhorar o nosso Anchietão e principalmente de torná-lo mais humano, além de fazer justiça quanto ao pré-Anchieta como escola superior e mais humanizada — isto é: nós temos o exemplo dentro de casa.

Voltando à equipe do pré, queremos mais uma vez parabenizar a todos pelo prestimoso trabalho que fazem na educação de nossos pequenos no momento inicial da vida dos mesmos quando começam as relações com o mundo extrafamiliar.

Depois da catástrofe que ocorreu em nossa cidade aumenta ainda mais a nossa saudade ao passar pelo Anchietinha e ver o quadro da destruição e o silêncio ao invés do ruído das vozes e gargalhadas das crianças. Mas tenho fé de que, com a aproximação, a administração do pré possa ensinar a do Anchietão como se dirige humanamente uma escola. Assim desejamos...

Sempre disposto a colaborar é que subscrevo-me atenciosamente,

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS:
Publicidade