A saga dos negros africanos, desde o sincretismo religioso, à submissão à realeza, até o legado cultural dos afrodescendentes, tão presente nos costumes brasileiros, foi destacada pela Unidos da Saudade, que pediu passagem na passarela fazendo reverências aos orixás Ogum, Oxalá e Xangô no enredo África, da majestade viva aos tumbeiros, a saga e a herança de seus guerreiros, de Deigre Silva e Ricardo Pavão. A roxo e branco foi buscar inspiração na obra da criação para desenvolver o enredo e a comissão de frente mostrou os costumes primitivos, da realeza mítica à gênese do povo africano, que se uniu para dar forma e cultura ao seu país. No abre-alas, uma réplica criativa da raiz da criação do mundo, seguida dos animais da África selvagem, do primitivo ao ciclo natural, em busca permanente pela sobrevivência.
A representação da vida na selva impressionou no segundo carro alegórico, que trouxe um imenso leão que rugiu em alto som durante todo o desfile. Até as baianas viraram rainhas da mãe África, abrindo caminho para o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Fabinho e Andreia, reverenciar os guardiões das riquezas. A Saudade também não poupou esforços para mostrar os mais variados rituais africanos, que ganharam uma alegoria própria: O eterno louvor às maravilhas desse chão. Em seguida foi a vez dos homens civilizados, na busca incessante pelo poder financeiro, os navegantes e a cobiça, marcante desde os primórdios da humanidade e representada no desfile pela rainha da bateria, Ana Paula Magalhães. Os cem ritmistas da bateria dos mestres Vandinho, Grilo e Jão destacaram os invasores e, os passistas, as chamas da destruição de um povo sofredor.
A saga dos negros ganhou destaque no quarto carro alegórico da escola do Bairro Ypu, com a réplica de um imenso navio negreiro, com direito a africanos acorrentados e efeitos sonoros das ondas do mar, representando a viagem de futuro ignorado para aquele povo. Aos sobreviventes, restou a escravidão. “Choram, portanto, os filhos d´África”, destacou a comissão de Carnaval da escola, que levou 1.200 componentes à passarela do samba este ano. Testão e Carol, segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira da Unidos da Saudade, empunhou o pavilhão roxo e branco representando os guardiões da liberdade tão sonhada pelo povo africano no passado.
Os quilombolas, batuqueiros e as danças foram lembrados por passistas com coreografias especiais. Já a herança do candomblé foi o destaque das crianças, que simbolizaram a consagração aos orixás trajadas de baianas de rosa. Na última alegoria, um pedido de paz a Oxalá, com uma lembrança viva da herança do folclore africano na cultura popular e, claro, também no Carnaval.
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