Sanatório Naval é referência na aplicação do projeto Forças no Esporte

quarta-feira, 31 de dezembro de 1969
por Jornal A Voz da Serra
Sanatório Naval é referência na  aplicação do projeto Forças no Esporte
Sanatório Naval é referência na aplicação do projeto Forças no Esporte

Márcio Madeira

"Certa vez eu cheguei ao refeitório, e vi um menino saindo de lá com uns biscoitos na mão, por sobre um pequeno copo descartável que tinha um pouco de café. O interrompi e disse que ele deveria comer ali mesmo, e não em outro lugar. O menino então me disse que já havia almoçado mais cedo, e que o café e os biscoitos não eram para ele, e sim para seu irmão mais jovem, que ainda não tinha idade para participar do projeto, e em casa ficava sem ter o que comer.”

Essa narrativa, intensificada por uma voz flutuante e por lágrimas nos olhos, partiu da boca do vice-diretor do Sanatório Naval de Nova Friburgo, capitão de fragata Paulo Arthur Braga Coelho Junior, diante do também emocionado capitão de fragata Luiz Carlos da Graça, diretor da instituição. E é justamente por conta do envolvimento pessoal dos dois comandantes, e do engajamento de toda uma equipe que trabalha por valores além dos financeiros — até mesmo por que alguns dos envolvidos são voluntários — que o Sanatório Naval vem se tornando referência nacional na aplicação do Projeto Forças no Esporte.

 

 

No Sanatório Naval, as crianças praticam esportes, fazem refeições, têm atendimento médico,

reforço escolar e, principalmente, são apresentadas a construtivas referências de comportamento

Sobre o programa

Criado pelas forças armadas com a intenção de adaptar para os quartéis o Programa Segundo Tempo, do governo federal, o Projeto Forças no Esporte há dez anos busca melhorar a qualidade de vida de crianças e jovens carentes em todo o Brasil. Seu objetivo é promover a inclusão social de jovens em situação de vulnerabilidade social através da prática de esportes, e sua estrutura é fruto de uma parceria entre os ministérios da Defesa; do Esporte; da Educação; e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Nas instituições conveniadas, crianças e adolescentes entre sete e dezessete anos têm a oportunidade de praticar esportes, assistir a aulas de reforço escolar, direito a atendimento médico e odontológico, além de alimentação, roupas e transporte. As atividades são desenvolvidas três vezes por semana por militares e profissionais especializados, nos turnos da manhã e da tarde. Cerca de doze mil alunos participam atualmente das ações esportivas e sociais, em 53 municípios brasileiros.

 

 

Vice-diretor do Sanatório Naval de Nova Friburgo, o capitão de fragata Paulo Arthur

Braga Coelho Junior é um dos principais responsáveis pelo sucesso do projeto na cidade


Referência nacional

A existência do programa, no entanto, não garante sua aplicação automática. Cabe a cada instituição comprovar interesse na participação, e atender aos critérios estabelecidos. Sob este aspecto, o sanatório tem se destacado entre as unidades brasileiras participantes do programa. E o faz por uma série de fatores.

De imediato, existe a questão do número de alunos atendidos. Entre todos os estabelecimentos que participam do programa, o representante friburguense foi o primeiro a trabalhar com duzentos alunos, e também o primeiro a criar a estrutura e enviar projeto para ampliação rumo à capacidade máxima prevista, de 400 estudantes.

Tão importante quanto o contingente atingido, é a certeza de que os interesses motivadores são de natureza altruísta. No caso do sanatório isso fica evidente quando se considera, por exemplo, que este ano alguns entraves burocráticos atrasaram a liberação dos recursos federais, e que teoricamente o programa só poderia ter início a partir do mês de junho. Em vez disso, os diretores e a equipe se mobilizaram, garantindo com recursos próprios todo o suporte aos alunos desde o início do ano letivo.

"Quando nós vemos casos como o desse menino que queria levar comida para o irmão mais novo, nós percebemos que é nosso dever trabalhar para que esse tipo de situação diminua, ao menos até onde nossas mãos alcançam”, explica o comandante Luiz Carlos da Graça. Uma opinião que vai de encontro ao que defende o vice-diretor do sanatório, capitão de fragata Paulo Arthur Braga Coelho Junior. "Nós assumimos o compromisso de cuidar dessas crianças a partir do início do ano letivo, e nós honramos nossos compromissos. Se os recursos atrasam, a gente dá o nosso jeito. Cada um contribui de uma forma, mas nós não podemos deixar essas crianças sem essa opção, sem uma ocupação positiva, suscetíveis a convites de pessoas mal-intencionadas.”

Por fim, e não poderia ser diferente, o Sanatório Naval destaca-se também pela quantidade e pela qualidade das instalações que oferece aos jovens e seus instrutores. São diversas quadras, piscinas e salas de aula espalhadas por algumas das mais belas vistas da cidade, com todos os benefícios decorrentes da proximidade em relação à enorme reserva natural que ocupa 93% do terreno que se estende do Paissandu até Mury.

 

 

Carioca apaixonado por Nova Friburgo, o cardiologista e capitão de

fragata Luiz Carlos da Graça é um diretor dedicado a preservar a exuberante

natureza do Sanatório e a aproximar a instituição da sociedade

 

 

Cumprindo serviço militar obrigatório, o marinheiro recruta Rafael Narcísio

Pereira aprendeu a trabalhar com hotelaria dentro do Sanatório


Voluntariado

Outro ponto interessante em relação ao Projeto Forças no Esporte, é que ele abre uma importante via para a prática do voluntariado. Profissionais das mais diversas áreas têm ali a possibilidade de dedicar uma pequena parte de seu tempo a representantes necessitados de gerações futuras, alcançando um sentido maior à própria formação.

A lógica — justa, em última análise — de estudar na juventude para um dia viver dos próprios conhecimentos ganha então pitadas de nobreza e humanidade. Um pouco de carinho e dedicação, durante poucas horas semanais, podem fazer toda a diferença no rumo desses pequenos portadores do futuro que, como esponjas, absorvem conhecimento de tudo com que interagem.

"Nós estamos de portas abertas aqui”, explica o vice-diretor Coelho. "Não queremos dinheiro, nem tampouco ajuda interesseira. Dispensamos favores políticos de pessoas interessadas em tirar fotos e colher votos. Mas aceitamos com alegria toda e qualquer ajuda que seja sincera. Precisamos, de forma especial, de professores que possam ajudar nas aulas de reforço dessas crianças. Qualquer profissional que tenha vontade de ajudar será muito bem-vindo, e irá receber dessas crianças muito mais do que possa lhes dar.”

Em tempo: o comandante Coelho não deixou que o menino do início deste texto saísse do refeitório com os biscoitos e o café. Antes o fez lanchar, e depois preparou uma refeição completa para que ele levasse para casa.

 

Primeira instituição a receber 200 crianças no Brasil e com planos

para duplicar este contingente, o Sanatório Naval é referência

nacional na aplicação do projeto Forças no Esporte

 

As crianças atendidas encontram um ambiente privilegiado para suas formações física e moral

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