Apontadas como uma das principais vilãs do modo de vida nas grandes cidades, as sacolas plásticas que há várias décadas cumprem o duplo papel de trazer as compras e levar o lixo, estão na mira de ambientalistas. Em todo o território nacional, leis municipais e estaduais garantem incentivos a quem as substituir por sacolas reutilizáveis ou biodegradáveis, num esforço que promete reduzir paulatinamente sua presença nos supermercados e, por conseguinte, nas residências e nos depósitos de lixo.
No Brasil, cerca de 12 bilhões de sacolas plásticas são distribuídas por ano. A reciclagem desse material é de difícil mensuração. Poucos sacos plásticos são corretamente destinados e, como geralmente estão misturados a outros resíduos, ficam contaminados e inutilizados para a reciclagem.
A questão ambiental
Quando foram inventadas, em 1862, as sacolas representaram uma revolução para o comércio por sua praticidade e pelo baixo custo. No Brasil, no entanto, elas iriam proliferar somente a partir da década de 80 do século passado, num momento em que produtos descartáveis eram especialmente valorizados.
O amadurecimento ecológico observado entre a comunidade científica nas últimas décadas, contudo, faz nascer a consciência de que as úteis e práticas sacolinhas são, também, extremamente prejudiciais ao meio ambiente, e devem ser substituídas o quanto antes. Mas, afinal, quais os prejuízos que elas causam à natureza?
Em primeiro lugar, o saquinho plástico é um derivado do petróleo, substância não renovável, feito de uma resina chamada polietileno de baixa densidade (PEBD) e sua degradação no ambiente pode levar séculos. No Brasil estima-se que aproximadamente 9,7% de todo o lixo é composto por saquinhos plásticos, cuja confecção é ambientalmente nociva. Para produzir uma tonelada de plástico, por exemplo, são necessários 1.140 kw/hora — energia suficiente para manter aproximadamente 7600 residências iluminadas com lâmpadas econômicas por 1 hora. O processo produtivo também consome grande quantidade de água, e gera inúmeros dejetos poluentes.
Importa considerar também os prejuízos causados pela poluição dos mares por este tipo de lixo. Peixes e, principalmente, tartarugas marinhas, confundem as sacolas com águas vivas, um de seus alimentos. Assim, ao ingerirem o material, elas morrem por obstrução do aparelho digestivo. O Projeto Tamar faz questão de expor vários cadáveres de tartarugas que morreram desta forma.
Nas cidades, os saquinhos também causam entupimento da passagem de água em bueiros e córregos, agravando inundações e contribuindo para a retenção de mais lixo. Quando incinerados, os sacos também liberam toxinas perigosas para a saúde.
A legislação estadual
A Lei 5.502, sancionada pelo governo estadual no dia 15 de julho de 2009, determina que todos os estabelecimentos comerciais do estado do Rio de Janeiro substituam sacolas plásticas descartáveis por bolsas feitas de material reutilizável. As empresas que não fizerem as adaptações exigidas terão que, obrigatoriamente, receber sacolas plásticas entregues pelo público, independentemente do estado de conservação e origem. Além disso, esses estabelecimentos precisam optar por uma das seguintes permutas: a cada cinco itens comprados, o cliente que não usar sacola plástica tem direito a um desconto de, no mínimo, R$ 0,03; e a cada 50 sacos plásticos apresentados por qualquer pessoa, os estabelecimentos devem entregar um quilo de arroz ou feijão. As empresas que não comercializem esses gêneros alimentícios podem efetuar a troca por um quilo de outro produto da cesta básica. As microempresas tiveram três anos para se adaptar à lei; pequenas empresas, dois anos; e empresas de médio e grande porte tiveram um ano.
O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, explicou à época que a lei não proíbe a sacola plástica. "Muita gente achou que elas fossem acabar, mas isso não vai acontecer. As pessoas também não terão que pagar pela sacola. Outra confusão é que seria obrigatória a aquisição daquelas sacolas reutilizadas. Não será preciso. O que a lei pretende é estimular a redução do uso dessas sacolas”.
Quais são as alternativas?
De acordo com Estanislau Maria de Freitas Jr, coordenador de comunicação do Instituto Akatu, dedicado a promover o consumo ambientalmente consciente, uma opção é comprar sacos de lixo reciclados. Aqueles de cor preta, à venda em vários estabelecimentos comerciais. "Quanto maiores eles forem, melhor, já que o que importa é reduzir a quantidade de plástico nas casas”, explicou.
Estanislau reconhece, no entanto, que ainda não existe uma solução satisfatória para o problema. "De início, não existe consumo 100% sustentável, mas é possível adotar práticas que diminuam o impacto ao ambiente. A vantagem do saco reciclado, por exemplo, é que ele dispensa recursos não renováveis na sua produção, que também consome menos energia do que se fossem feitos a partir de plástico virgem. No momento do descarte, entretanto, o problema é semelhante ao das sacolinhas de supermercado convencionais. Outra solução que recomendamos é a utilização de sacos feitos com dobradura de jornal. E no caso de lixo orgânico, basta colocar dois ou três sacos de papel para fazer com que o lixo não vaze”, concluiu.
Além das ecobags, feitas de lona, algodão ou outro material resistente, é possível ainda optar por embalagens plásticas consideradas de menor impacto ambiental, que também podem ser usadas para embalar o lixo de casa. Dessas, a oxibiodegrável é a mais popular, embora não seja a mais sustentável, já que também é feita a partir de derivado de petróleo. Ainda assim, as sacolinhas oxibiodegradáveis se decompõem mais rapidamente no solo do que o plástico convencional por trazerem em sua composição um aditivo que faz a degradação ocorrer em cerca de 18 meses. Para muitos especialistas, no entanto, essa capacidade de degradar mais rapidamente não diminui o impacto do plástico no meio ambiente, pois as substâncias nocivas continuariam presentes no solo.
Outra opção é adotar o plástico verde, ou polietileno verde. Desenvolvido pela petroquímica brasileira Braskem, ele é feito a partir da cana-de-açúcar, matéria-prima renovável. Essa inovação tecnológica, além de ajudar na absorção de CO2 da atmosfera no processo de produção, ainda reduz a dependência de fontes fósseis.
O plástico feito a partir de amido de milho é uma alternativa que tem a vantagem de ser biodegradável, decompondo-se mais rápido e de forma menos agressiva que os demais. Em apenas quatro ou seis meses, o chamado bioplástico é praticamente exterminado. E assim como o plástico verde, o de milho também ajuda a diminuir a dependência de petróleo.
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