A nova obra do jornalista, escritor e dramaturgo David Massena, “Zuzu” (ed. Viena, SP), destinado ao público infantojuvenil, conta, através da fábula, a história da estilista Zuzu Angel, uma das mais importantes figuras da moda no país, e personagem histórica na luta contra a ditadura.
Mãe de Stuart Edgar Angel Jones, assassinado durante o regime militar, Zuzu passou anos denunciando as arbitrariedades da repressão até morrer em um acidente de carro, nunca esclarecido, em 1976. “Sempre que me perguntam por que Zuzu Angel, respondo que esse livro podia ser sobre qualquer mãe que tenha perdido seu filho para o Estado. Porque cabe ao Estado a função precípua de garantir a proteção do cidadão. E uma mãe que perde um filho para o Estado (órgão garantidor da segurança pública), assim como a mãe da Ágatha, essa menina recentemente assassinada, sente uma dor imensurável. Só quem viveu e vive essa tragédia pode falar sobre essa dor”, ressalta David.
Seu livro trata do tamanho do amor de uma mãe, que decide brigar não só pela sua causa, mas pela causa de várias outras mães que perderam seus filhos para o Estado. “Zuzu representa a dor de todas essas mães”, resume.
Ele revela que sempre teve paixão pela figura da Zuzu. Se impressionava com o fato de uma mulher alcançar o sucesso na moda brasileira, inclusive internacional, e, ao mesmo tempo, conviver com uma dor tão profunda. “Diante dessas duas vertentes da vida, ela não se intimidou, nem recuou ou desistiu. Só a força materna é capaz de alimentar e sustentar uma existência com esse peso na alma. Por tudo isso decidi contar a história dela”, diz.
Opção pela brasilidade
David avalia que, como estilista, ela teve uma trajetória de prestígio, talvez a maior referência da moda brasileira para o mundo. “Porque ela optou pela brasilidade. Pelos nossos tecidos, texturas, pelas formas, pelas coisas típicas do Brasil”, avalia.
Para ele, essa opção pela brasilidade traduz a cidadã que foi Zuzu. Que tentou preservar a questão nacionalista, inclusive na moda que ela transformou em linguagem, ao realizar um desfile-denúncia, nos Estados Unidos, com imagens de tanques de guerra, armas de fogo, anjos, bordadas nos vestidos. “Me toca profundamente o fato de ela transformar sua arte numa linguagem de protesto, que representou a voz de todo um país”.
Sobre sua opção pela fábula, esclarece: “Acho que as fábulas têm um poder, tanto quanto a poesia, de tocar o coração da criança. De amenizar a aspereza da vida cotidiana. Até mesmo na criança escondida no adulto, a fábula é capaz de desconstruir a amargura. Então, achei que tocar num tema tão delicado quanto a dor de Zuzu, usando como pano de fundo os anos de chumbo, a fábula seria perfeita para diminuir essa aspereza”.
Usando a fábula - um recurso da lírica -, David procurou utilizar versos cordelizados, rimados. “O livro é todo um poema cordelizado, onde transformo os personagens, como Chico Buarque, Zuzu Angel, entre outros, em animais. Dando voz a esses animais, eu os humanizo. É uma forma lúdica de levar à reflexão, de provocar sentimentos durante a leitura.
Agradecido, conta que Hildegard Angel (jornalista e filha de Zuzu), não só autorizou a obra como se encantou com o resultado. “Espero que as novas gerações ‘se toquem’, e que o livro sirva para nos ensinar o exercício da plena cidadania. A Zuzu tinha uma frase emblemática: “Eu não tenho coragem. Coragem tinha o meu filho. Eu tenho legitimidade”.
“Quanto a mim, inspirado por ela, penso que nós temos legitimidade para mudar esse país”.
O livro
“Zuzu” é apresentado pelo professor de história Maurício Grillo, ilustrado por Rodrigo Macedo, com projeto gráfico de Isadora Massena. No prefácio, a mestre em literatura Deborah Simões escreveu: “David Massena resgata uma junção (fábula e poesia) capaz de emocionar e fazer refletir, numa metáfora que concebe a força materna em um dos momentos mais frágeis da nossa memória histórica”.
Autor de cinco livros, Massena participou de antologias, como “Crônicas da Cidade Amada”, organizada pelo professor e acadêmico Arnaldo Niskier.
Serviço
Sábado, 28, 16h30, Livraria Arabesco, Avenida Alberto Braune, 87 – Centro.
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