Karine Knust
Rosângela Cassano sempre foi apaixonada por aquilo que faz, ou seja, lutar pelos direitos humanos. Há três anos ela está à frente do Centro de Referência da Mulher e concilia seu tempo para se dedicar não só a esse projeto, mas também à profissão de advogada e professora acadêmica, ao curso de mestrado na área penal e à Comissão de Direitos Humanos da OAB, da qual é membro. Mas não para por aí. Ela também realiza trabalho voluntário com famílias carentes que não têm condições de pagar por acompanhamento jurídico e participa do programa de rádio Show do Pedro Osmar, num quadro em que tiras dúvidas sobre Direito. Nesta entrevista exclusiva para o LIGHT, Rosângela fala sobre sua vida e trabalho. Confira:
LIGHT - Como funciona o trabalho do Crem?
ROSÂNGELA CASSANO - O Centro de Referência da Mulher é um espaço reservado para atender mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, com atendimento de caráter preventivo e acompanhamento assistencial, jurídico e psicológico para aquelas que estão no ciclo da violência. Nós trabalhamos de segunda a sexta, das 9h às 17h, com atendimentos técnicos e emergenciais. Viabilizamos grupos de reflexão, cursos de capacitação e em casos mais urgentes, até abrigamentos, ou seja, casas que servem como abrigo para as mulheres que correm risco e não têm para onde ir.
LIGHT - Porque trabalhar com essa causa?
ROSÂNGELA - Primeiro porque sou mulher e segundo porque tenho uma questão de ordem particular. Perdi meu pai muito jovem e minha mãe sempre batalhou muito. Em uma determinada época, minha mãe precisou muito de um advogado e ela foi muito mal atendida. Resultado: acabou perdendo patrimônio e dinheiro. Em contrapartida, ela encontrou outro advogado que a atendeu muito bem. Não conseguiu reverter toda a situação, mas conseguiu ajudá-la a não perder o que restava. Eu aprendi com a vida, que muitas vezes, por determinadas circunstâncias, você precisa ser bem assistida. Aprendi também com profissionais com quem convivi na faculdade que um advogado pode matar uma pessoa viva com um mau trabalho. Ele pode matar a dignidade, a autoestima, o patrimônio e por isso é tão importante ser um bom profissional e gostar daquilo que faz. O advogado é o instrumento para democracia. Sempre fui criada para aprender tudo, mas sempre foi meu perfil lutar por direitos. Sou apaixonada pelo o que faço. Eu gosto de ajudar e tenho consciência do quanto minha profissão é importante para ajudar as pessoas.
LIGHT - As denúncias têm aumentado?
ROSÂNGELA - No ano passado, atendemos cerca de 900 mulheres e só no mês de janeiro deste ano já foram 184 mulheres atendidas e 554 casos em andamento. As denúncias têm aumentado, sim, e a ajuda da imprensa é fundamental para a divulgação do nosso trabalho porque, além de propagá-lo, também encoraja a mulher a vir, sabendo que irá encontrar uma instituição séria, com bom atendimento e resposta rápida. Muitas pessoas entendem que aqui vamos incentivar o término de seus relacionamentos, mas não é isso. O nosso objetivo é acabar com o ciclo da violência, até porque não atendemos só mulheres casadas ou com união estável, atendemos também mães que são agredidas por filhos, mulheres vítimas de violência no trabalho, entre outros casos. O foco é fazer com que elas não se acostumem aos maus-tratos e que corram atrás dos seus direitos. Quase toda a equipe é técnica, o que torna o atendimento mais qualificado e profissional. Além disso, temos criado parcerias com a Delegacia da Mulher e poder judiciário, que ajudam a consolidar ainda mais o atendimento.
LIGHT - Qual a importância de todo esse trabalho para as mulheres?
ROSÂNGELA - Resgatar a autoestima, a independência emocional e econômica, e principalmente, o respeito. Para que elas não se tornem escravas, porque em pleno século XXI ainda existem mulheres escravizadas por alguma situação, não digo só por homens, mas por todo o contexto em torno do ciclo de violência.
LIGHT - Nesse Dia Internacional da Mulher, qual a mensagem que você deixa para todas as mulheres?
ROSÂNGELA - A mulher ama muito. Ela consegue amar os filhos, família, marido, enfim. Ela é capaz de fazer uma carreira diária quádrupla, quíntupla. Consegue ser mulher, mãe, dona de casa, esposa, trabalhadora. Mas quando se trata do emocional, ela é a mais sensível e, com certeza, a mais fragilizada. Nem sempre ela tem apoio e amparo. Mas ela ampara a todos, em casa, no trabalho e muitas vezes não tem quem cuide dela própria. E aí, se escraviza na situação de ficar sempre com o "menos”. Menos salário, menos amor, menos compreensão, menos carinho. Com isso vai se tornando uma pessoa solitária e amargurada e sempre acostumada com o "menos”. Então, desejo que as mulheres consigam se amar, consigam dedicar um pouco desse amor para elas mesmas. Se amar e se respeitar, para assim angariar respeito do outro e, principalmente, de seus companheiros, pais e do mercado de trabalho.
Para marcar o mês da mulher, o Centro de Referência da Mulher preparou uma programação especial.
9 de março: Participação na Abertura da Campanha da Fraternidade - Tema: Fraternidade e Tráfico Humano
Local: Praça do Suspiro - 14h às 17h
10, 11 e 12 de março: II Turma do Curso de Maquiagem
Local: CREM - 14h às 17h
11 de março: Palestra com o Tema: O Papel da Mulher na Sociedade
Local: Faculdade Santa Doroteia - 16h
18 de março: Atendimento ao público juntamente com a Deam
Local: Avenida Alberto Braune - Em frente à Acianf - 9h às 13h
26 de março: Audiência Especial do Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar
Local: Tribunal do Júri - Fórum - 13h
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