Muitos desconhecem que os animais que participam de rodeios são submetidos a terríveis maus-tratos a fim de satisfazerem as expectativas dos humanos que os utilizam, bem como de seus respectivos telespectadores e da indústria country que se fortalece às custas desses eventos inegavelmente cruéis.
Apesar da origem norte-americana, sabe-se que, até mesmo nos Estados Unidos, tal prática não tem sido considerada cultural, havendo, inclusive, várias cidades que já proíbem essas práticas em seu território, entre as quais Fort Wayne, em Indiana, e Pasadena, na Califórnia.
Aqui no Brasil, a prática do rodeio nada tem a ver com cultura, tratando-se de uma cópia do que ainda se faz nos Estados Unidos, uma vez que os primeiros bovinos criados em nosso país eram da raça caracu, que são animais pesados e com enormes guampas, sendo impossível utilizá-los para fins de rodeios. E, a exemplo dos Estados Unidos, também já existem diversas cidades brasileiras que proíbem expressamente a realização de rodeios em seus limites territoriais, como é o caso de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Sorocaba (SP), Guarulhos (SP), Jundiaí (SP) e Campinas (SP), havendo, ainda, diversas ações judiciais julgadas procedentes com sentenças impedindo a realização de rodeios nas comarcas onde foram ajuizadas as demandas ou, pelo menos, no que diz respeito aos instrumentos considerados cruéis, tais como o sedém, a peitera, as esporas, etc.
Nos rodeios são utilizados bovídeos, equinos e até mesmo caprinos, os quais ficam todos expostos à pretensa dominação do ser humano que empreende diversas artimanhas e apetrechos para que o animal pareça bravio e então seja domado pelos cowboys.
O sedém, por exemplo, trata-se de uma espécie de cinta de crina e pêlo, que amarram na virilha do animal e que faz com que ele pule quando sai do brete e entra na arena como se fosse um boi selvagem, mas que na verdade está sofrendo intensamente. Isto porque, momentos antes de o brete ser aberto para que o animal entre na arena, o sedém é puxado com força, comprimindo ainda mais a região dos vazios dos animais, provocando muita dor, já que nessa região existem órgãos, como parte dos intestinos, bem como a região do prepúcio.
Além disso, poucos sabem que os peões treinam antes do evento, ocorrendo que, durante todo este tempo, o animal estará sendo mal-tratado.
Ora, Nova Friburgo, felizmente, nunca teve tradição em rodeios, conforme vieram a adquirir algumas cidades do interior paulista.
Tais eventos, não apenas são incompatíveis com o contexto sociocultural de nossa cidade, como promovem a tortura e a violência contra os animais, tornando-se, na prática, um retorno ao antigo circo romano, responsável pela extinção dos leões na Europa durante o século I da era cristã.
Neste sentido, a Lei Estadual n.° 3.714/2001 é clara ao proibir no âmbito do território fluminense a apresentação de espetáculos circenses, ou similares que tenham como atrativo a exibição de animais de qualquer espécie, inclusive os domésticos. Porém, há inúmeras interpretações jurídicas que tentam justificar os rodeios numa tentativa de afastar a aplicação da legislação já existente.
Sendo assim, para que Nova Friburgo possa definitivamente banir esses eventos de seus territórios é fundamental que a nossa Câmara Municipal aprove uma lei proibindo de vez a realização de rodeios dentro do território friburguense, prevendo a imposição de uma elevada multa capaz de desestimular qualquer tentativa de descumprimento.
Espero que algum dia nossas autoridades compreendam melhor os direitos dos animais e que a ação civil pública, proposta pela 1ª Promotoria de Justiça deTutela Coletiva alcance o êxito desejado na decisão final do processo que corre na 2ª Vara Cível da Comarca.
Rodrigo Phanardzis Ancora da Luz
(advogado e ambientalista)
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