Rio Bengalas: antes, um cenário bucólico

segunda-feira, 19 de março de 2012
por Jornal A Voz da Serra
Rio Bengalas: antes, um cenário bucólico
Rio Bengalas: antes, um cenário bucólico

Hoje agoniza e, aos poucos, vai morrendo

Dalva Ventura

Não, não dá para imaginar que o rio Bengalas, hoje agonizante, moribundo, já foi um lugar onde os friburguenses se banhavam e pescavam. Difícil acreditar que crianças nadavam em suas águas e comerciantes, caixeiros, aprendizes e oficiais iam pescar pião e piabanha nos dias de verão. Quem diria que, em datas especiais, como o aniversário da cidade, o Bengalas era represado e pequenos barcos e gôndolas deslizavam, enfeitados, em suas águas.

Imaginem Nova Friburgo no início de sua colonização, com aquele rio sinuoso e límpido cortando a cidade. Suas margens eram cobertas por uma vegetação denominada bengalas, daí o seu nome. Um cenário encantador, com certeza. Naquela época, ninguém poderia imaginar que esse mesmo rio chegaria ao ponto em que chegou com esgoto jorrando in natura em alguns pontos e lixo sendo jogado, cotidianamente, em seu leito, por gente sem educação e sem um pingo de amor pela cidade em que vive.

Cortando a cidade de ponta a ponta, o Bengalas é formado pela junção dos rios Cônego e Santo Antônio. Depois de cruzar a sede do município, ele vai desaguar no rio Grande, um dos principais afluentes da margem direita do Paraíba do Sul. Originalmente, nosso rio se chamava São João das Bengalas e chegava a passar por certos locais que, mais tarde, iriam se transformar em algumas ruas transversais da atual Avenida Alberto Braune.

Em 1881, foram construídas as duas avenidas paralelas às suas margens—a Avenida Friburgo (atual Comte Bittencourt) e Rui Barbosa (atual Galdino do Valle). No entanto, o calçamento das avenidas e a construção das amuradas só vieram muito tempo depois. À noite, as escuras avenidas que margeiam o rio eram palco de namoros, digamos, mais acalorados e motivo de escândalos e muito disse-me-disse nas famílias friburguenses.

Um ano depois, foi feito um aterro em parte do leito atual, a partir do local onde mais tarde foi construída a Igreja Luterana até a Rua General Pedra (hoje Dante Laginestra). Na mesma ocasião, foram construídos os bueiros necessários ao escoamento das águas pluviais. Mas isso não era suficiente. Na edição de 19 de agosto de 1881, o jornal O Friburguense alertava para a necessidade de alargamento do rio Bengalas, pois desde a época da colonização do município, o rio saía muitas vezes de seu leito natural durante o verão, alagando as ruas em torno.

À medida que a cidade crescia, as inundações provocadas pelo Bengalas criavam mais problemas para a população. Até porque, desde o início do século, já havia reclamações quanto ao lixo jogado no rio pela população. O resultado não podia ser outro. Com o passar do tempo, o Bengalas foi ficando cada vez mais raso e assoreado. A Prefeitura garante que a limpeza é feita constantemente, mas o trabalho não tem fim. O problema é que as pessoas continuam jogando não apenas lixo domiciliar, mas até móveis, eletrodomésticos, pneus e restos de obra dentro do rio. Impressionante, não? Com tantas agressões, é de se admirar até que o Bengalas continue vivo. As estações de tratamento de esgoto certamente irão melhorar bastante os problemas do Bengalas, mas o serviço ainda não foi concluído. O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) vem trabalhando no desassoreamento de seu leito, mas ainda falta muito.

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